Economia & Negócios

Edição: Hugo Julião
06:56
25/10/2020

Pós-covid deve fortalecer poder da China na economia global

A recessão global causada pela covid-19 tende a acelerar o deslocamento do dinamismo da economia mundial para a Ásia, onde, com a China à frente, um melhor controle da pandemia já começa a resultar numa retomada mais rápida e vigorosa do que em outras regiões.

Além da China, Vietnã, Taiwan e Coreia do Sul são exemplos de países que terão desempenho econômico acima da média mundial, pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Esse movimento aponta para a continuidade das tensões comerciais entre China e Estados Unidos e para a manutenção da alta demanda chinesa por matérias-primas produzidas pelo Brasil, como soja, minério de ferro, celulose e carne.

O crescimento de 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês no terceiro trimestre, na comparação com igual período de 2019, reforçou esse cenário.

Com a aproximação da China do posto de maior economia do mundo, o clima de confronto com os EUA tende a continuar (Foto: Noel Celis/AFP)

A recuperação da China é marcada por medidas concentradas no crédito e no apoio às empresas, ao passo que a pandemia, segundo especialistas, parece contida.

Com isso, o FMI espera avanço de 1,9% na economia do país este ano, ante retração de 4,4% no PIB global.

Como os EUA deverão registrar retração de 4,3%, a chegada da China ao posto de maior economia do mundo, ultrapassando a americana, poderá ocorrer em 2028, segundo estudo da agência de classificação de risco Austin Rating, feito a pedido do Broadcast/Estadão.

Pelo estudo, a economia dos EUA, que em 1990 era 15 vezes maior que a chinesa, hoje equivale a apenas 1,4 vez o PIB da China.

Quando se considera o câmbio por paridade do poder de compra (PPC), cálculo que leva em conta níveis de preços e o poder de compra na conversão de moedas, o PIB chinês já está acima do americano desde 2017.

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E tudo indica que a retomada chinesa veio para ficar.

Segundo Fabiana D’Atri, economista do Bradesco e diretora econômica do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), diversos dados da economia chinesa vêm surpreendendo de forma positiva nos últimos meses.

Em setembro, o destaque foi o início da recuperação do consumo, trajetória que parece ter se mantido este mês.

Na Golden Week, semana completa de feriados que ocorre todo ano em outubro no país, em torno de 600 milhões de chineses viajaram, conforme a agência de notícias oficial Xinhua.

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Multidão em uma estação ferroviária em Hangzhou, na província de Zhejiang, na China, durante a Golden Week deste ano

 

O fato de a recuperação do consumo chinês só ter começado em setembro chama a atenção.

No Ocidente, incluindo Brasil e EUA, o consumo e as vendas do varejo puxam a retomada.

Na China, porém, a produção industrial, as exportações e os investimentos em infraestrutura e no mercado imobiliário vieram na frente.

Para Fabiana, a opção do governo local por não adotar transferências de renda para mitigar a crise segue a tradição de sempre concentrar as medidas de estímulo no lado da oferta.

 De 2022 em diante, Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, prevê que a China retomará o ritmo de crescimento entre 5% e 6% ao ano, enquanto os EUA devem voltar ao patamar anual de crescimento em torno de 2%.

Com a aproximação da China do posto de maior economia do mundo, o clima de confronto com os EUA – que começou com uma guerra comercial – tende a continuar, pois o governo americano vê a ascensão chinesa como uma perda histórica de protagonismo, diz Agostini.

Para Lia Vals, pesquisadora do Ibre/FGV, as tensões tendem a continuar mesmo se o presidente Donald Trump perder a eleição em novembro.

Os EUA, com a antiga hegemonia, veem a China como potência em ascensão que vai disputar espaço com eles, especialmente na questão da tecnologia, que é o grande ponto.

A força da indústria chinesa, mesmo na crise, para fornecer a vários países medicamentos, testes e equipamentos de proteção, inaugurou uma “diplomacia da covid-19”, mas o resultado da estratégia no Ocidente é duvidoso.

Para Marcos Caramuru, ex-embaixador do Brasil em Pequim e membro do Conselho Consultivo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), a imagem internacional do país está desgastada, com “fake news” sobre a covid-19 e certa “inveja” ocidental da retomada chinesa.

Com informações do Estadão Conteúdo

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