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G1
14:11
24/04/2023

Passista da Grande Rio se interna para retirar miomas no útero e volta para casa com braço amputado

Polícia requisitou os prontuários médicos e vai ouvir a direção do primeiro hospital para saber se houve negligência ou imperícia.

Alessandra dos Santos Silva e a mãe. Foto: Reprodução/TV Globo

A mãe de Alessandra dos Santos Silva, a passista que teve o braço esquerdo amputado após complicações em uma cirurgia para retirada de miomas no útero, afirmou que profissionais do Hospital da Mulher Heloneida Studart em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, tentaram esconder da família uma necrose na paciente, antes da amputação.

Nem foto eles deixaram a gente tirar. Eu perguntei por que as mãos dela estavam enfaixadas.

‘Sua filha está com muito frio, por isso que a gente enfaixou ela’. Já estava necrosando os dedos.

Eles esconderam”, narrou a mãe, Ana Maria. Alessandra ainda está com pontos pelo corpo, quase três meses após os procedimentos.

A operação foi realizada em fevereiro. A família afirma que, dias depois da alta, o abdômen também começou a necrosar, o que levou Alessandra a uma segunda internação, de 30 dias.

A mulher de 35 anos explicou ao RJ1 que os pontos na barriga até agora não cicatrizaram, razão pela qual tem dificuldades de andar. Alessandra não sabe quais foram as complicações no Heloneida Studart que levaram à amputação do braço — e, dias antes, à remoção do útero.

"Não me procuraram em momento nenhum. Eu não sei nem se eles sabem que eu estou viva”, disse a passista.

O delegado Bruno Enrique de Abreu Menezes, titular da 64ª DP (São João de Meriti), afirmou ao g1 que pretende ouvir o diretor do hospital.

Quando receber os prontuários médicos, requisitarei uma perícia ao IML para sabermos se houve negligência ou imperícia”, disse.


Mais um mês internada

O drama de Alessandra começou em agosto do ano passado, quando sentiu dores e descobriu os miomas. A cirurgia só viria no Hospital da Mulher Heloneida Studart em 3 de fevereiro deste ano. Horas depois do procedimento, médicos detectaram uma hemorragia e, no dia seguinte, decidiram retirar o útero.

Em 5 de fevereiro, parentes foram visitar Alessandra, que estava em coma e com as pontas dos dedos esquerdo escurecidas. Braços e pernas estavam enfaixados. Para a família, era o começo da necrose.

No dia 6 de fevereiro, com uma piora do quadro de Alessandra, o Heloneida Studart a transferiu para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (Iecac), em Botafogo.

Lá, um médico disse que iria drenar o braço. O procedimento não deu resultado e, no dia 10 de fevereiro, o Iecac informou que “ou era a vida de Alessandra, ou era o braço”, porque a necrose poderia se alastrar. A família autorizou a amputação.

A cirurgia foi feita, mas o estado da mulher se agravou, com o rim e o fígado quase parando e com risco de uma infecção generalizada.

Ela subiu com os médicos apavorados para salvá-la, ou não ia sair dali viva. Chamaram a gente no canto: ‘Queríamos que vocês olhassem a mão dela. Ou tirava, ou ela ia morrer’”, lembrou a mãe.

Alessandra saiu do coma no dia 12 de fevereiro.

De primeira, eu achei que eu estava delirando, até porque o quarto em que eu estava [no Heloneida Studart] eu lembro muito. O teto era de uma cor.

E o teto do outro hospital [o Iecac] era de outra cor.

Então, eu já comecei aos poucos a perceber que eu não estava no mesmo lugar. 

Até a hora que eu tirei o lençol e me deparei com meu braço”, recordou a passista.

A passista recebeu alta no dia 15. Mas, segundo Ana Maria, dias depois a barriga estava necrosando.

Em 28 de fevereiro, a mulher voltou ao Iecac para a revisão da cirurgia de amputação.

Segundo a mãe, o médico se assustou com o estado dos pontos no braço e na barriga e recomendou que elas voltassem ao Heloneida Studart. A família, porém, decidiu não retornar à unidade e passou a buscar alternativas.

Somente em 4 de março Alessandra foi internada no Hospital Maternidade Fernando Magalhães e transferida para o Hospital Municipal Souza Aguiar, por causa das suturas, e só recebeu alta em 4 de abril.

Alessandra está noiva há 11 anos e tinha o sonho — agora impossível — de engravidar. Ela também não sabe como vai conseguir trabalhar em salões de cabeleireiro sem uma das mãos.

Eles conseguiram destruir a minha vida. Destruíram com tudo: com meu sonho de ser mãe; com meu trabalho, que é o que mais amo na minha vida, fazer cabelo; e com meu psicológico.

Eu estou num estado que eu não consigo nem me olhar no espelho. Eles acabaram com a minha vida.


O que dizem as autoridades

A Secretaria Estadual de Saúde disse que vai abrir uma sindicância para apurar o que aconteceu no Hospital da Mulher Heloneida Studart.

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