Enquanto boa parte dos paulistanos sumia das ruas na última semana e se recolhia em casa com medo do coronavírus, um exército de 2 milhões de pessoas que vivem em favelas na metrópole enfrentava um grande dilema.
Como cumprir a quarentena incentivada pelos governos estadual e municipal se esses locais, densamente povoados, são insalubres, apertados e não convidativos para um recolhimento por longos períodos?
Paraisópolis
Em Paraisópolis, a maior favela da cidade, com 100 000 habitantes (são 45 000 pessoas por quilômetro quadrado, segundo o IBGE), o cuidador de idosos Marcus Vinicius dos Santos, 22, começou sua quarentena doméstica após se sentir gripado, com dor no corpo e ter falta de ar.
O primeiro desafio foi se afastar dos parentes: na casa onde ele mora vivem vinte pessoas, entre elas o pai, de 93 anos, e a mãe, de 64.
Unidade Básica de Saúde em Paraisópolis
A segunda questão a ser encarada por Santos ocorreu do lado de fora.
Quando procurou uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro, os enfermeiros não fizeram o teste para a Covid-19 e pediram que ele se tratasse em casa.
“O médico foi franco, disse que não teria teste para todo mundo e que eu não seria testado porque não estava com febre”, conta.
Dias depois, um primo de 26 anos que mora na mesma casa passou a ter sintomas parecidos.
“Ali a gente divide tudo, computador, banheiro. Fico abalado com a possibilidade de passar o vírus para os meus pais”, diz Santos.
Movimento em Paraisópolis: muita gente na rua
Apesar dos números, Paraisópolis não possui nenhum leito hospitalar — as três UBSs e a AMA (Assistência Médica Ambulatorial) de lá oferecem apenas assistência básica.
Os casos mais graves seguem para o Hospital do Campo Limpo, no bairro que tem o dobro de habitantes.
Na UBS mencionada por Santos, não há divisão física para suspeitos de coronavírus.
“A gente coloca máscara naqueles que chegam com suspeita de coronavírus e separa o paciente ali no fundo”, limitou-se a dizer uma funcionária, que não pode ser identificada.
Nas duas unidades de saúde, os saguões já acumulavam pessoas com máscara e sintomáticas.
“Temos muitos casos suspeitos pela comunidade e nenhuma presença da prefeitura e do governo”, afirma Gilson Rodrigues, presidente da União de Moradores do bairro.
Heliópolis
Comércio aberto em Heliópolis: decreto descumprido
Em Heliópolis, na Zona Sul, a maior favela de São Paulo, com mais de 100 mil habitantes, os dois carros de som que percorrem as ruas alertando as pessoas para ficar em casa foram alugados após “vaquinhas” feitas por lideranças locais.
Mas nem sempre o resultado é o esperado.
“Muitos comerciantes têm o completo desrespeito ao fechamento imposto pelas autoridades, querem continuar vendendo a qualquer custo e põem a vida deles e de seus familiares em risco”, reclama o líder comunitário Maksuel Costa, o Max.
Procurada, a prefeitura diz que enviou carros de som a esses lugares e que presta, sim, atendimento à população.
Centro
Realidade parecida ocorre nas ocupações de edifícios no centro da cidade.
Com geladeira, televisão e notebook em casa, mas vivendo em um prédio invadido na Avenida Nove de Julho, o recém-desempregado Vanildo Estanislau, 59, atuava como comprador autônomo.
Família Estanislau: desemprego na quarentena
Antes da pandemia, ele estava no meio do caminho entre a pobreza extrema e uma vida um pouco mais confortável.
Sem poder comprovar renda para alugar um imóvel regular e nele morar com a mulher, três filhos e uma cachorrinha de estimação, Estanislau desembolsa 220 reais por mês, a título de contribuição para o Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC).
Ali, a quarentena mudou a rotina das 130 famílias que habitam o prédio de catorze andares, pertencente ao INSS e objeto de sucessivas invasões e reintegrações de posse nos últimos vinte anos.
O edifício na avenida 9 de Julho, que pertenceu ao INSS, hoje abriga a "Oocupação Nove de Julho"
Desde que os primeiros casos de contaminação começaram a aparecer na capital, as visitas à Ocupação Nove de Julho, que conta com ligação elétrica e de gás regulares, além de extintores de incêndio, foram proibidas.
Na portaria, o entra e sai frenético dos cerca de 500 moradores não mudou muito, mas todos são obrigados a pingar nas mãos algumas gotas de álcool em gel, disposto em uma embalagem de meio litro.
“Temos quarenta pessoas com mais de 60 anos, e é nossa obrigação zelar pela saúde do nosso pessoal”, diz André Chiarati, 36, um dos líderes do movimento.
Falta atenção do poder público
Ocupação Nove de Julho
Com cozinha industrial, biblioteca, salões para eventos e uma quadra esportiva ao ar livre, o local passa pelas mesmas restrições de um condomínio residencial de classe média.
“Fechamos as áreas com potencial de aglomeração e cancelamos todas as nossas atividades culturais.
Por outro lado, não recebemos nenhuma atenção da prefeitura, que prefere voltar as campanhas para os mais ricos.
O nosso público não entende a linguagem que os governantes falam. Eles precisam conversar olhando para o povo”, afirma Chiarati.
Esse tipo de queixa também ecoa nas “quebradas”, onde o isolamento social solicitado pelos governos municipal e estadual é quase sempre uma utopia.
“Pancadão do Coronavírus”, na Zona Norte: milhares de pessoas nas ruas
Nos últimos dias, enquanto boa parte do centro expandido ficava às moscas por causa da quarentena, a reportagem percorreu diversas comunidades onde não existe home office e falou com dezenas de lideranças.
Em todas a resposta foi uma só: as pessoas não ficam em casa, muitas insistem em promover festas e os governantes não estão presentes.
Na madrugada do domingo (22), no Jardim Carumbé, região da Vila Brasilândia, na Zona Norte, o “pancadão do coronavírus” levou milhares de jovens às ruas.
Baile Funk em Paraisópolis
Em Cidade Tiradentes e São Mateus, na Região Leste, os bailes ao ar livre também movimentaram várias ruas e geraram ainda mais indignação de pessoas habituadas à barulheira, que começa na sexta e termina apenas na segunda-feira.
“A subprefeitura e a Polícia Militar têm condições de evitar essas aglomerações, mas não aparecem por aqui”, diz um líder comunitário da Favela do Flamengo, no Jardim Peri-Peri, no extremo norte, que pede para não ser identificado.
Cracolância
Talvez nenhum lugar de São Paulo esteja mais distante daquilo que se imagina como quarentena do que a Cracolândia, no bairro da Luz, na região central.
No chamado “fluxo”, que reúne por volta de 2 000 usuários de crack, pouca coisa mudou com a pandemia.
Cachimbos, marmitas e camas improvisadas seguem sendo compartilhados no local.
Profissionais de saúde e segurança afirmam que inexiste um plano específico para a região durante a pandemia.
Usuários de droga na Cracolândia questão social insolúvel
“Precisaria ser instalada uma tenda por aqui para a distribuição de álcool em gel, máscaras e sabonetes, mas tudo permanece igual a antes da Covid-19.
É questão de tempo a morte de metade (das pessoas)”, diz um desses assistentes.
Ele próprio e os colegas, cuja rotina se dá em meio aos frequentadores do fluxo, usam máscaras tão finas que é possível ver através do anteparo.
“Para quem trabalha na Cracolândia, o corona vai ser apenas mais uma ameaça à nossa saúde”, diz outra assistente da região — também não identificada, uma vez que a prefeitura não permite entrevistas.
Você não pode mais abraçar a gente, né tia?
“Todo dia vemos usuários ser internados por tuberculose e outros problemas. A diferença é que agora temos de manter uma distância maior deles, porque o corona é muito contagioso.
Eles até brincam: ‘Você não pode mais abraçar a gente, né, tia?’ ”, ela conta.
O procedimento em casos suspeitos será a colocação de máscaras e o encaminhamento ao SUS.
“Normalmente eles vão sem resistência”, ela diz.
Drive-Thru da droga, no Campo Belo, na Zona Sul, ponto manjado
A cerca de 10 quilômetros da Cracolândia, o entra e sai frenético de pessoas que estacionam o carro nos arredores de uma favela na Avenida Presidente Wilson, entre a Mooca e o Ipiranga, mostra que a “biqueira” não para nem em tempos de coronavírus.
Na rua, um “olheiro” vê o movimento, enquanto do lado de dentro os clientes fazem pequena fila para adquirir entorpecentes.
Na Zona Sul, no entroncamento das avenidas Jornalista Roberto Marinho e Washington Luís, o manjado “drive-thru da droga” também opera normalmente.
Procurado, o governador João Doria não quis se pronunciar sobre os pancadões e sobre os pontos de tráfico.
Morumbi
Na frente do Palácio dos Bandeirantes, outra cena chama atenção.
Enquanto boa parte dos paulistanos evita aglomerações, praticantes de exercícios continuam frequentando aos montes a Praça Vinícius de Moraes, point dos moradores do Morumbi e ao lado da Avenida Giovanni Gronchi.
Praça Vinícius de Moraes, point dos moradores do Morumbi
Na ensolarada segunda (23), grupos de adultos com crianças e até idosos passeavam com seus animais de estimação e sem respeitar a distância mínima recomendada de 2 metros entre um e outro.
No inicíco da semana 3 milhões saíram às ruas
Segundo a InLoco, empresa de geolocalização que monitora deslocamentos por celular, 25% dos 12 milhões de paulistanos saíram dos seus bairros na segunda e na terça.
Para eles, também, a quarentena ainda não chegou.
Com informações da Vejinha SP, Folhapress e Estadão Conteúdo
_____________________
MAIS NOTÍCIAS
Empresas aéreas iniciam amanhã período apenas com voos essenciais no Brasil
OMS se junta a gigantes das redes sociais para desenvolver software de combate ao coronavírus
Capas com as manchetes dos principais jornais nacionais desta sexta (27)
Pesquisa: maioria dos brasileiros não crê que isolamento social impedirá avanço do vírus
Walmart contrata 25 mil nos EUA em 1ª semana de novo programa
Quatro pacientes de UTI tiveram alta em SP com uso de hidroxicloroquina
Governo define lotéricas e igrejas como atividades essenciais
Consumidores chineses são incentivados a gastar
Artigo: Não podemos fetichizar as mortes provocadas pelo coronavírus
Consumidores chineses são incentivados a gastar
Leia artigo de Steven Taylor, autor do livro "A Psicologia da Pandemia"
EUA: sai acordo para aprovar pacote de US$ 2 trilhões para socorrer a economia do país
Corte de energia, por inadimplência, está suspenso por 90 dias em todo o país
Brasil registra 200 casos de tuberculose por dia e mais de 4 mil mortes por ano
Uma breve análise sobre o livro "Alexandre, o Grande"
Distanciamento social está aproximando as pessoas, conclui estudo
China reabriu mais de 500 cinemas no fim de semana
Anvisa aprova três novos testes de Covid-19; agora são 11
Uefa adia finais da Liga dos Campeões e da Liga Europa
Brasil restringe entrada de estrangeiros no país por 30 dias
Bolsonaro anuncia suspensão de dívidas e ajuda financeira a estados
Sebrae Resposta | Uma comunidade de empreendedores brasileiros
Netflix: sinopses e trailers de 09 filmes de suspense para você assistir
Lojistas do Riomar Shopping doam respirador mecânico para a Prefeitura de Aracaju
Tempos de solidariedade: vizinha assume aluguel de livraria de Porto Alegre
Dona das Casas Bahia fecha mais de 1.000 lojas no Brasil devido ao coronavírus
BNDES anuncia injeção de R$ 55 bilhões na economia para evitar demissões
Saúde pode autorizar cloroquina para pacientes graves até dia 24
Coronavírus: IBGE mostra alto índice de aglomeração em residências carentes
Neste domingo, Dia Mundial da Água, mais de três bilhões não têm acesso a água e sabão
Governo usará laboratório do Exército para produzir cloroquina
Netflix: 10 filmes para assistir durante a quarentena
Governo Federal pretende distribuir 10 milhões de testes do novo coronavírus
Globo decide afastar jornalistas com mais de 60 anos por causa do coronavírus
Itamaraty: brasileiros que estavam retidos em Marrocos embarcaram para o Brasil
Azul também libera passagens para médicos atuantes no combate ao coronavírus
O Boticário doa 1,7 tonelada de álcool gel para a saúde pública
Gol vai ceder passagens gratuitas a profissionais de saúde na luta contra o coronavírus
Supercomputador da IBM identifica substâncias que pode conter avanço do Covid-19
Veja MAPA em TEMPO REAL dos casos de coronavírus em cada país
Em casa?
Aproveite e veja os vídeos dos Beatles com as suas10 músicas mais ouvidas de todos os tempos
OMS diz para África se preparar para o pior
Sebrae: "Como sua empresa pode reagir ao coronavírus?"
Sebrae amplia atendimento ao público no ambiente digital
Aviso: show de Vanessa da Mata em Aracaju é adiado
Clientes do cinco maiores bancos podem pedir prorrogação de dívidas; veja como
Sebrae identifica setores mais afetados pela crise do Coronavírus
INSS suspende atendimento por 15 dias para conter coronavírus
Pesquisadores observam pela primeira vez a resposta imunológica ao coronavírus
Para 70% dos japoneses, Olimpíadas serão adiadas
Médico infectado com Covid-19 diz como são os sintomas dia após dia
Entenda a diferença entre Covid-19, resfriado e gripe
Saiba tudo sobre o novo coronavírus e a doença que ele provoca
Pesquisa: população é favorável às concessões de parques para a iniciativa privada
Inscrições em cursos online do Sebrae alcançam número recorde
Uma história de quem apostou no velho vinil e encontrou um novo mercado
Três fatores que tornam o home office mais produtivo do que trabalhar no escritório
Estes são os países com mais "super-ricos" no mundo
Pequenos negócios são maioria entre as Indicações Geográficas brasileiras
Projeto Petrobras Cultural para Crianças tem inscrições abertas
Observatório Edge: o mais alto mirante a céu aberto de Nova York e do hemisfério ocidental
Itamaraty estima que até 90 mil brasileiros estejam no norte da Itália
Invenções criadas por mulheres – e que nem sempre foram reconhecidas como tal
Brasileira desenvolve técnica para criar neurônios em laboratório
ONU: 90% da população mundial tem preconceito contra mulher
Carro elétrico da Fiat com autonomia de 320 km chega ao Brasil em 2020
Metade das praias do planeta pode sumir até o fim deste século, diz estudo
Nasa recriou em 4K o que os astronautas da Apollo 13 viram ao contornarem a Lua
Carteira Digital de Trânsito passa a permitir indicação de condutor
Embrapa desenvolve sensor que avalia grau de maturação de frutas