Por Daniel Kolitz
Nos melhores cenários, os smartphones nos oferecem um alívio para o tédio ou um jeito de tentar manter contato com seus pais, embora nem sempre com sucesso.
O que eles realmente não parecem oferecer é “felicidade”. Pense nas pessoas mais dependentes de smartphones que você conhece.
Quantas delas parecem felizes? Se você disser que algumas parecem, olhe mais perto: você tem certeza de que não é apenas um delírio do vício?
É claro que é diferente você sentir o vazio após uma hora vendo uma tela e estar deprimido. A depressão raramente está conectada a apenas uma causa.
Ainda assim, é possível que as redes sociais, os serviços de streaming etc… estejam piorando nossos sintomas de depressão?
Ou, em casos mais extremos, causando a depressão? Perguntamos a diversos especialistas sobre o tema.
Vejam suas respostas:
Diana Winston
Diretora de educação de Mindifulness na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e autora de The Little Book of Being: Practices and Guidance for Uncovering Your Natural Awareness
Eu não acredito que pesquisas encontraram uma conexão clara entre tecnologia e depressão: há algumas correlações, mas não temos evidência de causalidade.
É possível que pessoas depressivas sejam mais atraídas para redes sociais e que estejam utilizando as redes para se medicar.
Há alguns estudos que mostram uma relação entre uso excessivo de smartphones e depressão. Mas não há nada conclusivo. Os cientistas ainda estão estudando o tema.
De forma anedótica, eu vi uma possível conexão da tecnologia com a atenção. Nossa atenção é constantemente distraída — algumas vezes chamamos de atenção parcial contínua. Nunca focamos em algo, estamos sempre fazendo várias tarefas ao mesmo tempo.
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Como especialista em mindfulness, uma das coisas que eu recomendo para as pessoas é para tirarem um tempo para ficarem longe de seu smartphone ou notebook e focar em algo muito simples, impassível — pode ser meditação, sua própria respiração ou uma caminhada na natureza.
Qualquer coisa que anule o efeito dessa atenção parcial contínua, que pode afetar negativamente seu sono ou outros índices de saúde.
Há ainda o vício em novidades. Estamos tão acostumados a luzes piscando, a notificações sem fim, que a vida normal pode se tornar entediante.
Isso pode levar a episódios depressivos: quando não estamos na internet e nossas vidas reais aparecem como são, elas podem parecer enfadonhas.
Só que isso é essencial para aprender apreciar e ser grato pelas coisas simples da vida, como cuidar do cachorro ou caminhar. Precisamos separar nossa felicidade dessas plataformas.
Ainda acho que redes sociais geram muita inveja e um sentimento de vazio, como se minha vida nunca fosse tão boa quanto a dos meus amigos ou a de um estranho. Isso leva a uma espiral de negatividade.
Matthew Lapierre
Professor assistente de comunicação na Universidade do Arizona, que pesquisa e explora como a mídia afeta a saúde e o bem-estar.
As pessoas realmente estão cada vez mais conectadas aos seus dispositivos.
Mas o que descobrimos, em estudos que conduzimos sobre uso de smartphones e depressão, é que não tem a ver com o quanto você usa o celular.
Não há nenhuma correlação entre o tempo gasto no smartphone e um crescimento de sintomas depressivos ou de solidão.
As coisas ficam problemáticas quando alguém sente um apego particular ao seu dispositivo.
Se for difícil deixar o celular de lado ou se há alguém na família comentando como o quanto a pessoa usa demais o aparelho, isso pode ser um preditivo de sintomas depressivos.
É importante fazer uma distinção: estamos falando de sintomas depressivos, não de depressão clínica. Essa última é um estado diferente, qualitativamente falando.
E esse é um dos problemas de estudar a depressão: não é algo com uma progressão linear. Uma pessoa deprimida é qualitativamente diferente de alguém que pode exibir vários sintomas depressivos.
Se você é um usuário problemático, alguém preso no celular, isso pode aumentar as chances de sintomas depressivos — o que é um problema. Mas ainda estamos tentando entender o que acontece aí.
Erik Peper
Professor na Universidade do Estado de San Francisco e coautor do livro TechStress: How Technology is Hijacking our Lives, Strategies for Coping and Pragmatic Ergonomics.
Sim [a tecnologia está te deixando mais deprimido]. Mas não é a tecnologia por si, é o jeito com que estamos, fisicamente, interagindo com ela.
Há alguns anos fizemos um estudo que perguntava como a maioria das pessoas se sentam quando estão usando seus smartphones, notebooks ou assistindo à Netflix etc.
As pessoas passam a se curvar, suas cabeças caem, suas espinhas se dobram em forma de C.
E os dados mostram que quando você fica nessa posição, você está mais propenso a ter pensamentos desesperançosos. Você ainda pode ter pensamentos negativos em uma posição ereta, mas tem menos chances de ser afetado por eles.
Na verdade, sentar de forma ereta te ajuda a ter mais pensamentos positivos.
Neurocientistas de Taiwan revelaram que, quando você está curvado, seu cérebro literalmente precisa trabalhar mais para ter pensamentos positivos do que numa posição ereta.
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Outro estudo relevante e que finalizamos há pouco examinou estudantes durante aulas pelo Zoom. Ele foi feito em dois estágios.
Primeiro, pedimos aos participantes para assistirem as aulas normalmente e fazerem um relatório sobre seus níveis de atenção, alerta, envolvimento etc.
Depois, pedimos para eles fazerem um esforço para serem mais responsivos fisicamente e parecerem animados.
A mudança foi incrível: 80% dos alunos alegaram que se sentiram com mais energia, atenção e envolvimento, além de se lembraram muito mais do conteúdo ao final da aula.
A conclusão, acredito, é que precisamos — para aprender e viver — a nos engajar ou configurar nosso cérebro para estarmos presentes.
Nós nos curvamos e nossa energia vai embora. Assistir a vídeos de streaming é uma atividade fundamentalmente passiva. E isso nos treina para sermos mais passivos.
Quanto mais passivos nos tornamos, menor é nosso nível de energia.
Michael Mrazek
Diretor de pesquisa no Centro de Mindfulness e Potencial Humano da Universidade da Califórnia
No geral a tecnologia está melhorando a vida. Fique um dia sem sua frigideira ou fogão e você rapidamente vai se lembrar disso.
Mas a maioria dos gadgets na sua casa não demandam sua atenção por horas como um celular o faz.
Twitter e Instagram não são inerentemente ruins para você, mas podem ser.
Isso é especialmente verdade se começarem a interferir nos seus relacionamentos do mundo real. Esse são os que mais importam para seus sentimentos.
E qual a forma mais simples de proteger seus relacionamentos do seu telefone?
Uma regra simples: se alguém está falando com você, guarde seu celular e olhe para a pessoa. E crie pouquíssimas exceções para isso.
Fonte: Gizmodo