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Da redação
10:15
23/09/2021

Afeganistão: ONGs denunciam "espiral de abusos" de talibãs contra civis

Todos os avanços destes últimos vinte anos em prol dos direitos humanos e da liberdade de expressão no Afeganistão estão sendo desmantelados de maneira sistemática pelos talibãs.

É o que denuncia um relatório publicado por três ONGs, que listam uma série de abusos contra os civis desde meados de agosto, quando os extremistas islâmicos assumiram o poder.

Desde o retorno dos talibãs ao poder, afegãs só saem de casa usando burca (Fotos: AP)

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Um relatório realizado pelas ONGs Anistia Internacional, a Federação Internacional pelos Direitos Humanos (FIDH) e a Organização Mundial Contra a Tortura (OMCT) sublinha:

"Os talibãs tentaram persuadir o mundo que eles iriam respeitar os direitos humanos, mas as informações que recebemos de lá mostram uma outra realidade".

Nathalie Godard, diretora do escritório de ações da Anistia Internacional da França afirmou à agência de notícias RFI:

"Não tínhamos nenhuma ilusão sobre o verdadeiro projeto dos talibãs".

"Hoje temos a prova que eles têm como projeto, primeiramente, desmantelar os avanços dos direitos humanos nestes últimos anos e impor uma repressão a toda sociedade civil, mulheres, jornalistas, ativistas e a todas as pessoas que se opuserem a eles". 

 Membro do Talibã aponta arma para manifestantes no Afeganistão

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O relatório elaborado pelas três ONGs aponta para uma "espiral de abusos".

Isso inclui a intimidação e a repressão das afegãs e dos defensores dos direitos humanos, represálias contra funcionários do antigo governo afegão e ataques à liberdade de expressão.

O documento é baseado em uma dezena de testemunhos colhidos junto a cidadãos desde 15 de agosto - quando os talibãs tomaram Cabul - até 12 de setembro. 

"Os defensores dos direitos humanos estão em uma situação de grande medo e vivem uma ameaça permanente", alerta a diretora da Anistia.

Ela relata o caso de um homem que conseguiu fugir do Afeganistão recentemente mas, até deixar o país, foi submetido a intimidações e ameaças diretas.

"Os talibãs conheciam o seu nome e o maltratavam. Seus colegas foram violentamente agredidos, receberam chicotadas. Ele conseguiu fugir, mas conta que ativistas que permaneceram em Cabul são ameaçados e perseguidos", afirma. 

Membros do Talibã fazem patrulha em posto de controle de Kunduz, no norte do Afeganistão (Ajmal Kakar/Xinhua)

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Desde que chegaram ao poder, os talibãs prometeram que os direitos das afegãs não seriam ameaçados. Mas, na prática, a realidade é outra. 

"Como consequência deste clima de medo que se instalou, muitas afegãs voltaram a usar a burca. Elas só saem de casa ao lado de um homem da família e deixaram de fazer várias coisas com medo das violências e represálias", afirma a militante da Anistia Internacional.

Na terça-feira, em uma entrevista coletiva em Cabul, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, disse que o retorno das meninas à escola "acontecerá o mais rápido possível.


O Talibã também cortou o acesso das mulheres ao trabalho.

As autoridades aconselharam as afegãs a ficarem em casa para sua própria segurança, até que a interpretação da lei islâmica possa ser definida.

As três ONGs fazem um apelo para que o Conselho dos Direitos Humanos da ONU estabeleça um mecanismo de investigação independente para registrar e lutar contra essas violências. 

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