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Edição: Hugo Julião
10:14
24/12/2020

Bahia contradiz Flamengo e afirma que seu laudo não vê racismo de Ramírez

Um dia depois de o Flamengo afirmar ter um laudo que confirma uma injúria racial de Juan Ramírez, dirigida a Bruno Henrique, o Bahia divulgou ontem, quarta-feira (23), o resultado de sua investigação, e que contradiz a versão flamenguista.

Após o duelo entre os dois times, no domingo (20), o volante Gerson afirmou em entrevista que Ramírez, colombiano, havia dito "cala a boca, negro" durante uma discussão, que também envolveu o atacante Bruno Henrique.



Eduardo Llanos, chileno, foi um dos especialistas contratados pelo clube baiano. Segundo sua leitura, o colombiano não teria proferido a injúria.

"Junto com a fonoaudióloga forense, que é especialista em leitura labial, foi constatado tecnicamente que não existe a palavra negro em nenhuma das frases faladas pelo Ramírez na discussão", afirma Llanos.

"Conseguimos ver que ele [Bruno Henrique] fala para Ramírez 'arrombado' e depois 'gringo de merda'".

Segundo ele, o colombiano teria respondido "que pasó?", em tom provocativo. 

Na sequência da discussão, de acordo com a leitura do especialista, Ramírez fez gestos com a mão, provocando Bruno Henrique, e disse "está quanto?", se referindo ao resultado da partida, que no momento era vencida por 3 a 2 pelo time tricolor.

O momento não corresponde ao mesmo relatado por Gerson, que teria ouvido ouvido a injúria por parte de Ramírez.

Roberto Niella, argentino, foi outro perito contratado pelo Bahia e que afirma que a palavra "negro" não foi usada.

Antonio César Morant Braid e Maurício Raymundo de Cunto, brasileiros do Instituto Brasileiro de Peritos, também a pedido do clube, concluíram o mesmo.

O laudo divulgado pelo Flamengo na terça (22), segundo o vice-presidente geral e jurídico do clube, Rodrigo Dunshee de Abranches, registra a ofensa, que seria direcionada a Bruno Henrique.

Outra leitura, feita por especialistas ouvidos pelo site GloboEsporte, concluiu que Ramírez diz "fala muito, seu negro" para o atacante.

Gerson, que foi quem fez a acusação após a partida e também discutiu com o treinador Mano Menezes, ainda durante o jogo, move ações contra o colombiano na Justiça desportiva e criminal.

Foi aberto um inquérito na Delegacia de Crimes Raciais para apurar o caso e, além dos atletas, também foram intimados Mano (que acabou demitido pelo Bahia após o duelo) e o árbitro da partida, que registrou na súmula a versão do meia flamenguista, mas afirma não ter presenciado o fato.


Nas redes sociais, após a partida, Ramírez negou as acusações e afirmou ter sido chamado de "gringo de merda", versão corroborada pelo laudo dos baianos.

Gerson, em entrevista à TV oficial do Flamengo, afirma que não quer mais tocar no assunto, que levará o caso às últimas consequências e que pretende ser voz ativa na luta antirracista também para quem precisar de ajuda para prestar queixas e fazer denúncias.

Guilherme Bellintani, presidente do Bahia e uma das figuras responsáveis pelas campanhas afirmativas do clube, disse em entrevista à Folha que não tem dúvidas do que o flamenguista ouviu, mas que a investigação deve descobrir se o colombiano, de fato, disse tais palavras.

O clube afastou Ramírez provisoriamente até o fim das apurações.

Com informações da Folha de S.Paulo

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