27/01/2023 07:23

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O Brasil é o país com mais mortes de pessoas trans e travestis no mundo pelo 14º ano consecutivo.

Segundo o Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), México e Estados Unidos aparecem em segundo e terceiro lugares, respectivamente.

Valter Campanato/Agência Brasil

Em 2022, 131 pessoas trans e travestis foram assassinadas no país.

Outras 20 tiraram a própria vida em virtude de discriminação e do preconceito.

Os dados fazem parte do documento divulgado nessa quinta-feira (26), em cerimônia no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Entre os assassinatos deste ano, 130 referem-se a mulheres trans e travestis e uma a homem trans.

A pessoa mais jovem assassinada tinha apenas 15 anos. Quase 90% das vítimas tinham de 15 a 40 anos.

Entrega do documento dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras ao ministro dos Direitos Humanos e Cidadania. Valter Campanato/Agência Brasil

Para o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, os dados são uma “tragédia”, mas representam a oportunidade de mudança da realidade em que vivem atualmente pessoas transexuais e travestis.

O fato de termos um relatório como esse aponta para possibilidade de pensar superar essa tragédia.

Ter o conhecimento, ter os dados, ter a possibilidade de olhar de frente para esse problema, nos traz perspectiva de mudança, de transformação", disse.

Quando falamos sobre gênero e sexualidade, somos acusados de sermos identitários.

Pergunto a essas pessoas se é possível construir um país com os números que vemos agora”, acrescentou.

De acordo com a pesquisadora responsável e secretária de Articulação Política da Antra, Bruna Benevides, contribuem para esse quadro fatores como a ausência de ações de enfrentamento da violência contra pessoas LGBTQIAP+.

A falta de dados e subnotificações governamentais também podem contribuir para um cenário impreciso ao longo dos anos, além de dificultar a identificação de acusados.

Qual é a visibilidade que pessoas trans têm tido? Se pegar o telefone e pesquisar no Google ou qualquer outro mecanismo a palavra 'travesti', oito em cada 10 notícias são sobre violência e esse cenário tem que mudar.

Nós somos linhas de frente para sermos vistas, mas também somos linhas de frente para sermos mortas", questionou Bruna.


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Segundo o levantamento, entre os 131 assassinatos do ano passado, foram identificados 32 suspeitos.

O dossiê indica que a maior parte dos suspeitos não costuma ter relação direta, social ou afetiva com a vítima.

Além disso, “práticas policiais e judiciais ainda se caracterizam pela falta de rigor na investigação, identificação e prisão dos suspeitos”.

É constante a ausência, precariedade e a fragilidade dos dados, muitas vezes intencionalmente, usados para ocultar ou manipular a ideia de uma diminuição dos casos em determinada região”, diz o levantamento.

O documento apontou ainda que 61% dos assassinatos ocorreram durante o primeiro semestre de 2022.

Em números absolutos, Pernambuco foi o estado que mais registrou assassinatos, com 13 casos, seguido por São Paulo (11), Ceará (11), Minas Gerais (9), Rio de Janeiro (8) e Amazonas (8).

O perfil das vítimas no Brasil é o mesmo dos outros anos:

mulheres trans e travestis negras e empobrecidas.

A prostituição é a fonte de renda mais frequente.

Entre as vítimas, 76% eram negras e 24% brancas.

O levantamento mostra que mulheres trans e travestis têm até 38 vezes mais chance de serem assassinadas em relação aos homens trans e às pessoas não-binárias.

“Não diferente dos anos anteriores, o fato de que em 2022 a maioria daquelas onde foi possível identificar a atividade, pelo menos 54% dos assassinatos foram direcionados contra travestis e mulheres trans que atuam como profissionais do sexo, as mais expostas à violência direta e vivenciam o estigma que os processos de marginalização impões a essas profissionais”, indica o dossiê.

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