Notícias

Edição: Hugo Julião
07:39
27/03/2021

Hospital dos EUA diz ter sido criador da vacina que Dória diz ser 100% brasileira

A ButanVac, candidata a vacina anunciada pelo Instituto Butantan como sendo o primeiro imunizante 100% nacional, foi desenvolvida nos Estados Unidos, na Escola de Medicina Icahn do Instituto Mount Sinai, segundo afirmou a instituição à Folha.

A informação, dada à reportagem pelo diretor e professor do departamento de microbiologia do instituto, Peter Palese, também consta em estudo publicado em dezembro de 2020 assinado por pesquisadores do Mount Sinai e da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

Peter Palese, diretor e professor do departamento de microbiologia do Instituto Mount Sinai (Foto: Weihbold)

--------------------

"Realizamos com sucesso experimentos com nossa vacina baseada no vírus da doença de Newcastle [NVD, um tipo de gripe aviária].

Enquanto isso, iniciamos testes de fase 1 no Vietnã e na Tailândia com a nossa nova geração (melhorada) de vacina de Covid.

Estamos conduzindo um teste de fase 1 aqui no Mount Sinai", escreveu o diretor em email.

"Sim, também temos um acordo com o Instituto Butantan para entrar em testes clínicos no Brasil usando nosso vetor de vacina NVD.

Também estamos desenvolvendo vacinas para variantes da Covid-19 baseadas nas versões sul-africana e brasileira para o Instituto Butantan."

Além de deter o conhecimento da patente tecnológica, o hospital Mount Sinai, segundo afirmou Palese, foi responsável por conduzir os ensaios pré-clínicos, feitos em animais em laboratório, que antecedem os testes em humanos.

A tecnologia, portanto, é americana, e foi divulgada em duas publicações em revistas científicas em 2020, uma na revista EBioMedicine, em novembro, e outra no periódico Vaccines, em dezembro.

Na foto, o Centro Médico Mount Sinai, na cidade de Nova York (CBS News)

--------------------

Procurado pela Folha, o diretor do Butantan, Dimas Covas, afirmou que "o Butantan está fazendo o desenvolvimento integral da vacina a partir de parcerias que temos e com um consórcio internacional".

O Mount Sinai, explicou ele, teria sido procurado pelo Butantan para fornecer o vetor da vacina.

Dimas falou também que há "inúmeras parcerias", mas que elas só serão anunciadas quando os respectivos acordos estiverem firmados:

"Os comunicados conjuntos das parcerias serão feitos no momento oportuno por cada instituição do consórcio".

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) anunciou nessa sexta-feira (26) que o Instituto Butantan desenvolveu uma vacina contra a covid-19, a ButanVac.

Segundo ele disse, essa é a 1ª vacina brasileira contra a doença causada pelo coronavírus, e foi produzida inteiramente por cientistas do instituto. (Reprudução/Gov. de S.Palo)

--------------------

Depois da publicação da reportagem da Folha, o Butantan confirmou em um novo comunicado que usa a tecnologia do Mount Sinai e que tem licença para fazê-lo.

Palese e outro diretor de pesquisa do Mount Sinai, Adolfo Garcia Sastre, têm a patente do modelo de vacina a partir do vírus da doença de Newcastle no registro europeu de patentes desde 2018.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse na quinta-feira (25) à Folha e nesta sexta-feira (26) a jornalistas que participaram de entrevista coletiva na sede do instituto que a vacina era a primeira feita com tecnologia nacional a entrar com pedido para testes em humanos.

Em nenhum momento Doria e Dimas Covas mencionaram a parceria com o hospital Mount Sinai.


Após a publicação desta reportagem, o Butantan afirmou que as declarações sobre a participação do Mount Sinai são, a seu ver, "comunicado não oficial de um pesquisador de instituição norte-americana".

Palese, no entanto, respondeu aos questionamentos da reportagem em seu email corporativo, além de ser o detentor da patente do vetor e o responsável pelo desenvolvimento da vacina no hospital.


Em atualização posterior do comunicado, o instituto admite que "firmou parceria e tem a licença de uso e exploração de parte da tecnologia que foi desenvolvida pela Icahn School of Medicine do Hospital Mount Sinai de Nova Iorque, para obter o vírus".

"A partir disso, o desenvolvimento da vacina é feito completamente com tecnologia do Butantan. Entre as etapas feitas totalmente por técnicas desenvolvidas pelo instituto paulista, estão a multiplicação do vírus, condições de cultivo, ingredientes, adaptação aos ovos, conservação, purificação, inativação do vírus, escalonamento de doses, estudos clínicos e regulatórios, além do registro."

Com informações da Folha de S.Paulo

Compartilhe