24/07/2022 08:59

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 A busca dos partidos por candidatos a deputado federal passa longe da afinidade ideológica ou programática.

Dirigentes das siglas nos estados fazem leilão para atrair nomes com bom potencial e oferecem até dinheiro.

O valor do “passe” pode chegar a R$ 1 milhão, fora o que será destinado à campanha.

Mesmo candidatos sem chance de vencer, mas com alguma capacidade de atrair votos, estão na mira das legendas.

Créditos: Ag.Câmara

Antes os partidos podiam se coligar e a soma de todos os votos dados ao grupo ajudava a conquistar uma vaga na Câmara.

No entanto, a partir desta eleição a sigla só poderá contar com seus próprios candidatos.

Dessa forma, os votos dos que não ganham a eleição são fundamentais para as “estrelas” da chapa conseguirem uma cadeira de deputado federal.

Durante sete meses, o  jornal Estadão conversou com dirigentes partidários, deputados, suplentes, advogados, procuradores eleitorais e cientistas políticos e colheu evidências de um mercado de compra de candidaturas.

No diagnóstico de especialistas, esse vale-tudo na busca por chapas competitivas corrói a importância das siglas, dificulta coalizões e faz a representação política ser pautada por interesses privados.

Presidente do PMN em Minas Gerais, Agnaldo Oliveira admite que negociatas são comuns e envolvem dinheiro, além do Fundo Partidário:

“O cara não tem expressão, tem 25 mil votos, não ganha eleição em partido nenhum. E diz ‘quero vender esses votos’. Vou para o seu partido, quanto você me dá de dinheiro?”.

Esse tipo de candidato é conhecido como “escadinha”: aquele que entra na disputa só para empurrar as estrelas do partido para cima, para alcançarem, na soma final, os votos necessários e se elegerem.


O advogado Marcus Alves, que atua na recriação da velha UDN, partido conservador pré-ditadura militar, tem experiência nesse mercado.

Ele conta que conversou com um candidato que teve 90 mil votos para federal em SP e negocia com três siglas. Uma ofereceu R$ 600 mil, outra R$ 800 mil. Ele quer R$ 1 milhão.

Na disputa de 2018 no Distrito Federal (DF), o advogado Paulo Fernando Melo obteve 31 mil votos, distante da média de 73 mil que os eleitos conquistaram.

O resultado, porém, tornou o neófito um “candidato” muito cortejado para 2022.

Quatro partidos disputaram seu passe: PP, PTB, PL e Republicanos. Ele admite que recebeu oferta de dinheiro, mas diz que, no seu caso, são “recursos para campanha”.

Cientista político Fenando Pignaton // Reprodução/TV Gazeta

O cientista político Fernando Pignaton, representante brasileiro da Associação Internacional para Pesquisa e Intervenção Social (Aifris), com sede na França, diz que a seleção de candidatos e a lógica partidária são catastróficas para o País.

A reforma política não tratou da qualidade da vida partidária. Os partidos não ganharam relevância e não têm um projeto de desenvolvimento nacional que aglutine.

A falta de uma cultura partidária sangra a capacidade de o País se desenvolver, de tocar grandes projetos”, afirmou.

Ainda na avaliação de Pignaton, o cenário beneficia tão somente “caciques” partidários.


A cada quatro anos, o TSE define quanto elas têm direito a receber de Fundo Partidário com base na quantidade de deputados federais eleitos.

Somados os últimos 4 anos, o valor chegou a R$ 3,8 bilhões. A conta é simples. Quem eleger mais deputados federais terá uma fatia maior. Os 5% restantes são divididos igualmente por todos os partidos.

Como o jornal Estadão mostrou em reportagem especial, o fundo bilionário financia luxos pessoais de políticos, como viagens de jatinho, e despesas gerais das siglas.

Não à toa a eleição de 2018 teve um número recorde de candidatos: 8.067 para as 513 vagas.

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