03/04/2021 06:20

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O recrudescimento da pandemia fez com que os condomínios voltassem a ficar cheios em tempo integral.

A convivência forçada de pessoas que só têm em comum o fato de morarem no mesmo prédio, aliada ao cansaço por um ano de pandemia, aumentou o número de conflitos entre vizinhos.

(Ilustração: Catarina Pignato)

Segundo síndicos consultados, a quantidade de reclamações disparou desde o ano passado.

Nas últimas semanas, com a volta da fase vermelha e a implementação da fase emergencial em muitas cidades, a situação está ainda pior.

Antes da pandemia as principais reclamações eram sobre temas com “c”: cachorro, criança, carro, cano e calote.

Agora, é o barulho que mais causa discórdia.

Conversas, música e televisão alta: tudo pode irritar o morador vizinho.


Os problemas de convivência eram pontuais e ocorriam principalmente aos finais de semana, mas que agora são contínuos.

Como a maioria dos apartamentos são compactos, é possível escutar qualquer coisa.

Barulhos que demonstram felicidade, como risadas, cantorias e mesmo o som de pessoas namorando geram indignação em quem os ouve.

Luciene Bandeira, psicóloga e sócia da plataforma Psicologia Viva (Arquivo Pessoal)

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As festas, que antes incomodavam apenas pelo excesso de barulho, agora representam desprezo à grave situação da Covid-19 no país.

Ganhou uma roupagem de falta de consideração e de humanidade. Antes era um incômodo, enchia a paciência, mas hoje se torna uma afronta”, afirma Luciene Bandeira, psicóloga e sócia da plataforma Psicologia Viva.

A própria Bandeira passou por isso no condomínio de casas em que vive, no Rio de Janeiro.

No final do ano, moradias de veraneio ficaram cheias de famílias celebrando a data, com festas, para desespero dos outros moradores, que tentavam se isolar.

Teve vizinho que quase surtou por isso, porque ele está guardado o ano todo, se protegendo, e, de repente, vem um bando de gente de fora e faz festa até de madrugada.

(Reprodução)

Outro tormento são as obras. Muitos aproveitaram o tempo em casa para fazer reformas e melhorar seus lares para a infelicidade de vizinhos.

Para amenizar o problema, os síndicos estão reduzindo o horário em que é permitido fazer reformas ou consertos, mas afirmam que os moradores estão muito sensíveis a esse tipo de incômodo.

Além de problemas com barulho, o desrespeito às normas para evitar a Covid-19 dentro dos condomínios, como a recusa em usar máscara nos espaços comuns, também aumentou em 2021.

As pessoas estão exaustas e há questões de desobediência, de não querer usar máscara e achar que todo o condomínio é a casa delas”, afirma Angélica Arbex, gerente de relações com o cliente e de marketing da Lello Condomínios.

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Na fase emergencial, vários prédios decidiram fechar os espaços de uso comum, o que também gerou reclamações.

Funcionários dos condomínios, como porteiros, faxineiros e zeladores, sofrem com o descumprimento das regras.

Paulo Ferrari, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Paulo, defende que eles estão na linha de frente da pandemia.

São eles que lidam diretamente com os moradores e são essenciais para que os outros possam ficar em casa.

Ferrari afirma que os funcionários chamam a atenção de quem não quer usar máscara e desrespeita outras regras, mas que seus poderes são limitados —correm o risco de serem demitidos por desacato ao confrontar um morador.

 

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A convivência nos condomínios é um fator de risco para quem trabalha nesses locais.

Já ocorreram casos na pandemia de pessoas que foram bater na porta do vizinho e acabaram agredidas”, lembra a psicóloga Luciene Bandeira.

Bandeira recomenda que, antes de reclamar, o morador tente se acalmar.

“Há coisas realmente absurdas, aí você chama o síndico, o porteiro, mas evite confronto direto. Quando estamos com raiva, não medimos o risco.”

Em situações mais graves, como casos de violência ou de moradores que insistem em dar festas na pandemia, a solução é chamar a polícia.

 

Com informações da Folha de S.Paulo

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