Saúde

Edição: Hugo Julião
09:16
27/06/2021

Atraso na fala leva crianças ao consultório e confunde pais após quarentena

Preocupados com atrasos na linguagem após a quarentena, pais de crianças pequenas procuram consultórios de pediatras e psicólogos.

Também pedem ajuda às escolas. A situação confunde as famílias e até os médicos, que ainda não sabem medir o tamanho do impacto do isolamento no desenvolvimento dos pequenos.

Vemos no consultório crianças com atraso na linguagem.

Os pais chegam apavorados achando que é autismo e não é.

São consequências da pandemia.

A afirmação é de Magda Lahorgue, presidente do Departamento Científico de Neurologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  

Perdas na linguagem são sinal de alerta e, na pandemia, têm relação com a falta de estímulos

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Diante da demanda das famílias, os pediatras agora precisam entender se as questões relacionadas à linguagem ou outros comportamentos regressivos nas crianças são transitórios.

Em muitos casos, eles têm origem na forma como pais e filhos se organizaram na pandemia.

"Quando vamos avaliar, são crianças que apenas ficaram sem estímulo adequado."

Mesmo que os pais tenham trabalhado em casa, nem sempre há interação e é comum o uso excessivo de equipamentos eletrônicos, diz Magda.

Estudo da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) indicou que 27% das crianças de 0 a 3 anos voltaram a ter comportamentos de quando eram mais novas na pandemia, segundo a percepção dos pais

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Diretora pedagógica do Espaço Ekoa, escola de educação infantil na zona oeste de São Paulo, Ana Paula Yazbek percebe que as crianças chegam agora falando frases menos complexas.

A situação não é encarada pelo colégio como algo preocupante, mas que demanda atenção e observação dos professores.

O silêncio dos pequenos, diz Ana Paula, também deve ser respeitado como um sintoma de um período de dificuldades e adaptações pelo qual todos - crianças e adultos - estão passando.   

Os profissionais não veem dificuldades dos pequenos para se separarem dos pais, mas notam outras mudanças.

"Crianças que tinham tirado a fralda voltaram a usar. Tinham deixado e chupeta e voltaram muito apegadas a ela", conta Rosemary Vercezi Sertório, orientadora educacional da educação infantil.

Há também, segundo Rosemary, um grupo de alunos que desenvolveu menos a fala do que poderiam.

 

Além do contato com outras crianças, o retorno ao colégio ajuda a reconstruir a rotina.

É um sinal concreto de recuperação de uma vida interrompida por mais de um ano”, diz Lino de Macedo, psicólogo e integrante do Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância.

Mas, para fazer frente a questões como regressões ou atrasos no desenvolvimento, a volta não deve focar em tarefas a cumprir ou matérias.

Deve ser com acolhimento afetivo, social. O cognitivo aguenta esperar”, completa o assessor científico do Instituto Pensi.   

Com informações do Estadão

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