Um relatório publicado nesta terça-feira (19) por um grupo de especialistas independentes acusa tanto o governo chinês como a Organização Mundial da Saúde (OMS) de terem reagido de maneira tardia diante da rápida propagação do coronavírus, há um ano.
Co-presidido pela ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Helen Clark e pela ex-presidente da Libéria Ellen Johnson Sirleaf, o Grupo Independente sobre a Preparação e Resposta à Pandemia, apresentou seu relatório provisório ao Conselho Executivo da OMS.
O relatório elaborado por um grupo de especialistas independentes afirma que a China e a OMS poderiam ter agido com mais rapidez para tentar barrar a propagação do coronavírus em 2020 (Tinshu Wang/Reuters)
O relatório também afirma que a China e a OMS poderiam ter trabalhado com mais agilidade e de forma mais contundente para alertar o mundo sobre a doença, que já se propagava rapidamente em janeiro de 2020.
O país foi duramente criticado por suspeita de omitir informações sobre a quantidade de infectados e óbitos.
Depois de muita hesitação, em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu declarar estado de emergência global em razão do coronavírus.
Nesta época, outros países asiáticos - como Tailândia, Japão e Coreia do Sul - já anunciavam os primeiros casos da doença.
Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde; fraquezas da OMS foram ‘expostas’ por pandemia (Youtube)
O documento assinado por especialistas independentes também revela que a agência da ONU "não tem meios suficientes para cumprir o que se espera dela", nem poder de coação.
"Em última análise, a OMS não tem o poder de impor nada ou de investigar 'por conta própria' em um país", disse Ellen Johnson Sirleaf em uma entrevista coletiva.
O grupo responsável pelo relatório considera "lamentável" o "poder limitado" da OMS durante surtos de doenças para, em particular, "ser capaz de implantar meios locais de apoio e contenção".
"Os incentivos à cooperação são insuficientes para garantir a participação efetiva dos Estados (...) com a disciplina, a transparência, responsabilidade e celeridade exigidas", salienta o documento.
O grupo também considera que o sistema de alerta global de pandemia não está adaptado às necessidades.
"Os patógenos podem se mover em minutos e horas, não dias e semanas", disse Helen Clark, explicando que o sistema de alerta parece ser de uma era analógica já ultrapassada e deve ser adaptado à era digital.
As conclusões finais do painel serão divulgadas em maio, diante da Assembleia Geral da OMS (Picture-Alliance)
Por enquanto, tudo corre bem para a missão da OMS na cidade considerada como o berço da pandemia de Covid-19.
No entanto, as acusações sobre a demora da resposta da China no início da epidemia não devem ser publicadas pelos jornais do país.
O certo é que as constatações do grupo de especialistas independentes devem irritar as autoridades chinesas que mudaram o discurso desde que conseguiram controlar a epidemia.
Pequim quer demonstrar que virou a página sobre a falta de transparência em relação à doença há um ano e divulga agora a hipótese de que o vírus tenha origem estrangeira.
Com informações da RFI e agências