Saúde

Redação / Hugo Julião
17:20
19/01/2021

Relatório independente acusa China e OMS de demora para agir contra a Covid-19

Um relatório publicado nesta terça-feira (19) por um grupo de especialistas independentes acusa tanto o governo chinês como a Organização Mundial da Saúde (OMS) de terem reagido de maneira tardia diante da rápida propagação do coronavírus, há um ano.

Co-presidido pela ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Helen Clark e pela ex-presidente da Libéria Ellen Johnson Sirleaf, o Grupo Independente sobre a Preparação e Resposta à Pandemia, apresentou seu relatório provisório ao Conselho Executivo da OMS.

Segundo o documento, a pandemia de Covid-19 expôs as fraquezas da organização: uma instituição com recursos insuficientes e "poder limitado" em relação aos Estados. 

O relatório elaborado por um grupo de especialistas independentes afirma que a China e a OMS poderiam ter agido com mais rapidez para tentar barrar a propagação do coronavírus em 2020 (Tinshu Wang/Reuters)

O relatório também afirma que a China e a OMS poderiam ter trabalhado com mais agilidade e de forma mais contundente para alertar o mundo sobre a doença, que já se propagava rapidamente em janeiro de 2020.

Pequim registrou os primeiros casos da pneumonia viral em novembro de 2019 e a primeira morte em 11 de janeiro de 2020.

O país foi duramente criticado por suspeita de omitir informações sobre a quantidade de infectados e óbitos.


Depois de muita hesitação, em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu declarar estado de emergência global em razão do coronavírus.

Nesta época, outros países asiáticos - como Tailândia, Japão e Coreia do Sul - já anunciavam os primeiros casos da doença.

Foi apenas em 11 de março do ano passado que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, oficializou a pandemia de coronavírus.

Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde; fraquezas da OMS foram ‘expostas’ por pandemia (Youtube)

O documento assinado por especialistas independentes também revela que a agência da ONU "não tem meios suficientes para cumprir o que se espera dela", nem poder de coação.

"Em última análise, a OMS não tem o poder de impor nada ou de investigar 'por conta própria' em um país", disse Ellen Johnson Sirleaf em uma entrevista coletiva.

O grupo responsável pelo relatório considera "lamentável" o "poder limitado" da OMS durante surtos de doenças para, em particular, "ser capaz de implantar meios locais de apoio e contenção".

"Os incentivos à cooperação são insuficientes para garantir a participação efetiva dos Estados (...) com a disciplina, a transparência, responsabilidade e celeridade exigidas", salienta o documento.


O grupo também considera que o sistema de alerta global de pandemia não está adaptado às necessidades.

"Os patógenos podem se mover em minutos e horas, não dias e semanas", disse Helen Clark, explicando que o sistema de alerta parece ser de uma era analógica já ultrapassada e deve ser adaptado à era digital.

Ela acrescentou: "Foi somente um mês depois que o alarme foi dado em Wuhan que o sistema internacional deu seu alerta mais forte" para a pandemia.

As conclusões finais do painel serão divulgadas em maio, diante da Assembleia Geral da OMS (Picture-Alliance)

Por enquanto, tudo corre bem para a missão da OMS na cidade considerada como o berço da pandemia de Covid-19.

As mídias oficiais chinesas divulgam as informações publicadas pelo grupo de especialistas da organização da ONU na rede social Weibo: elogios ao acolhimento na capital da província de Hubei, fotos do nascer do sol ou mesmo dos cafés da manhã equilibrados oferecidos pelos hotéis responsáveis por organizar a quarentena de quem chega do exterior.

No entanto, as acusações sobre a demora da resposta da China no início da epidemia não devem ser publicadas pelos jornais do país.

O certo é que as constatações do grupo de especialistas independentes devem irritar as autoridades chinesas que mudaram o discurso desde que conseguiram controlar a epidemia.

Pequim quer demonstrar que virou a página sobre a falta de transparência em relação à doença há um ano e divulga agora a hipótese de que o vírus tenha origem estrangeira. 

Com informações da RFI e agências

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