O leite humano é reconhecido como um dos alimentos mais completos e ricos em nutrientes, responsável pela nutrição integral de bebês e recém-nascidos.
Mas, além de oferecer nutrição física, o aleitamento também proporciona a nutrição emocional de quem fornece e de quem recebe o alimento.
Nesse sentido, a doação do leite humano e o trabalho dos bancos de leite ampliam os vínculos entre lactantes e receptores, salvando vidas e criando novas conexões de afeto e gratidão.
Leite humano é reconhecido como um dos alimentos mais completos e ricos em nutrientes, responsável pela nutrição integral de bebês e recém-nascidos / Foto: Igor Matias
Quem conhece de perto essa realidade é a neonatologista Debora Macêdo, mãe de Inácio, de dois anos.
• Além de acompanhar gestantes e bebês na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL) há oito anos, Debora encontrou uma nova forma de ajudar pacientes como doadora de leite.
• Agora, grávida de Isabel, Debora pretende dar continuidade a essa cadeia.
“Já sabia a importância e tinha a vivência da doação pela minha profissão.
Com a chegada de Inácio, ganhei uma nova perspectiva, que foi a de mãe.
Sempre tive bastante leite, e vi essa oportunidade de doar.
Conseguir ajudar outras pessoas dá uma sensação enorme de gratidão.
E o principal de tudo é a vida do bebê, é melhorar a saúde dele e da sua família”, resume.
A neonatologista Debora Macêdo, há oito anos, encontrou uma nova forma de ajudar pacientes como doadora de leite. Grávida novamente, pretende dar continuidade a essa cadeia / Foto: Igor Matias
Durante dez meses, a influenciadora digital Karol Batalha também fez parte do time de doação de leite humano em Sergipe.
• Mãe de Rute, de 1 ano, Karol conheceu o trabalho dos bancos de leite através de um grupo de maternagem, passando a doar entre sete e dez potes por semana.
“Tive hiperlactação, e me senti muito bem pensando em quantos bebês e mães eu poderia ajudar e abençoar. É muito gratificante”, afirma.
Doadora, Karol Batalha destaca serviço do Banco de Leite na Rede Pública de Saúde / Foto: Igor Matias
Doação
A técnica em enfermagem Andréa Barbosa e seu filho Sérgio, de dois anos, viveram o outro lado dessa experiência.
• Tendo descoberto uma má formação no útero, Andréa deu à luz com apenas 28 semanas de gestação.
• Prematuro, Sérgio precisou ficar na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) da MNSL durante 49 dias, ao longo dos quais se alimentou via doações do banco de leite. Para Andréa, o leite doado é muito mais do que um alimento.
“A doação de leite é um ato de amor para si e para os outros, porque salva vidas.
Tenho uma gratidão enorme por essa doação. As mães que puderem doar, doem, porque é um gesto de amor.
E aquelas que não puderam dar a mama para seus filhos, como foi meu caso, aceitem de coração, porque é um leite saudável que vai ajudar seu filho”, diz.
Bancos
Construindo o elo entre quem doa e quem recebe, a rede de bancos de leite de Sergipe oferece apoio desde a coleta até a destinação, passando pela orientação e manejo.
Compõem a rede o banco Irmã Rafaela Pepel, de Itabaiana; o banco Zoed Bittencourt, de Lagarto; o posto de coleta do Hospital Santa Isabel e o banco Marly Sarney, em Aracaju.
O Marly Sarney é vinculado à Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, que é referência em alto risco.
“O papel do banco de leite é justamente auxiliar a mãe que está impossibilitada de amamentar e o bebê que está impossibilitado de mamar no peito.
A gente vai fazer com que os bebês de baixo peso e prematuros possam ter alta, retirando-os da Utin o mais rápido possível.
Além disso, a gente trabalha com apoio às mães com dificuldade na amamentação.
Então, a rede de bancos tem esse propósito: a captação e pasteurização do leite, e a proteção das políticas de aleitamento materno”, explica a enfermeira e responsável técnica do banco Marly Sarney, Magda Dória.
Segundo Magda, o time de doação em Sergipe ainda não é capaz de suprir a demanda, motivo pelo qual é necessária a conscientização de cada vez mais pessoas.
“A gente precisaria em torno de 400 litros de leite por mês, mas só estamos conseguindo 150 litros.
E isso ocorre também no cenário nacional.
No final de ano, com as férias, as mulheres viajam e acabam pegando o excesso de leite e garantindo para seus próprios bebês.
Por isso, a gente precisa fazer campanhas sempre, para sensibilizar”, destaca.
Magda Dória ressalta a importância do banco de leite no auxílio à mãe impossibilitada de amamentar e o bebê que não pode mamar no peito / Foto: Igor Matias
Para Karol Batalha, o serviço é destaque na Rede Pública Estadual de Saúde.
“Fui até o banco pessoalmente e fiz o cadastro do SUS.
Eles ensinam a questão da higienização, do manuseio, das massagens para saída do leite.
É tudo bem organizado, fiquei muito feliz em ver um serviço do SUS aqui em Sergipe funcionar daquela forma.
Pude presenciar mães que estavam com dificuldades de amamentar, que não tinham condições de pagar consultórios de amamentação, e o banco de leite prestou toda a assistência”, lembra.
Apoio
Para quem deseja doar leite humano, o primeiro passo é entrar em contato com o banco de leite.
A partir daí, a equipe do banco se responsabiliza por todo o acompanhamento.
“Você vai entrar em um grupo e vão te orientar de tudo. Vão mandar os vasos esterilizados e um kit com o gorrinho e a máscara.
Você vai colar uma etiqueta, identificar seu nome e a data em que você teve seu bebê, e vai fazer a coleta.
Antes de tudo, é preciso lavar bem as mãos, estar em um ambiente calmo, com as costas bem apoiadas, com pessoas de confiança disponíveis para ajudar.
Geralmente, o horário da manhã é melhor, pois é quando você mais produz.
E fazendo a técnica correta, não vai doer.
Depois, você vai colocar no congelador, e uma vez por semana o pessoal do banco vai passar na sua casa para buscar.
Eles te avisam previamente, você só precisa ir até a porta pra entregar a doação. É muito simples e é muito gratificante”, descreve Debora Macêdo.
A neonatologista também apresenta a técnica correta para a retirada do leite.
“Para tirar o leite sem doer, você vai segurar a mama em posição de C.
Segure firmando o peito um pouco para trás.
Depois, você não vai deslizar, porque é isso que machuca o peito.
Você vai apertar, imitando o que o bebê faz no bico. Através desse movimento, inicialmente vão sair só gotas, mas depois vai começar a sair o jato”, sintetiza.
Leite humano
Segundo Debora Macêdo, os benefícios do leite humano se estendem por toda a vida do bebê. Além de oferecer nutrição completa, o leite previne doenças para a criança e para quem a gestou.
“Nos primeiros seis meses, o bebê deve receber apenas o leite materno, porque ele é um alimento vivo.
O contato da saliva faz o corpo da mãe saber o que aquele bebê está precisando mais naquele momento.
No início da mamada vem o leite mais líquido, para saciar a sede, e no final da mamada é um leite mais grosso, mais cheio de gordura, para dar saciedade”, informa.
Ainda de acordo com a neonatologista, o leite humano é antialérgico, proporciona uma melhor digestão, protege contra infecções, cólicas, câncer de mama e de ovários.
“O bebê que recebe exclusivamente leite materno nos seis primeiros meses de vida é mais saudável e forte e cresce adequadamente.
A mãe passa as defesas que o bebê precisa enquanto o sistema imune dele ainda está se formando”, acrescenta.
Mitos
A doação de leite e a amamentação são cercadas de mitos. Na visão de Débora Macêdo, eles são causados pela desinformação.
“Existe o mito de que se você tira o leite, você não vai ter mais para dar ao seu bebê.
Mas, quanto mais você tira, mais vem. É uma fábrica, é produção.
As pessoas também acham que vão sentir dor, mas, com a técnica adequada e a orientação de profissionais capacitados, não há esse problema.
Criou-se também o mito do leite fraco, mas na verdade é falta de informação.
É importante você dar o leite de uma mama até ela secar antes de passar para a outra, para que o leite em todos os seus estágios seja dado ao bebê”, enfatiza.
Outro grande mito, segundo Karol Batalha, é a romantização da doação e da amamentação.
“É importante a gente buscar o equilíbrio.
Nem amargurar e ficar só reclamando, focando nas dificuldades, mas também não romantizar e nem florear.
É cansativo, mas é gratificante. É preciso olhar para as coisas com gratidão”, opina.
Banco de Leite Humano Marly Sarney é serviço porta aberta, e atende pacientes de quaisquer maternidades de segunda a sexta, de 7h às 19h / Foto: Arthuro Paganini
Informações
O Banco de Leite Humano Marly Sarney é um serviço porta aberta, que atende pacientes de quaisquer maternidades de segunda a sexta, de 7h às 19h.
Além do auxílio à doação e assistência no manejo, a equipe multiprofissional do banco oferece acompanhamento pediátrico a bebês de até nove meses. Para ter acesso ao banco, basta ligar 79 3226-6301.
A unidade recebe, ainda, doações de frascos de vidro com tampa plástica, buscando o material em casa.
Também são recebidos copos de dose, chamados de copinhos do amor, utilizados na amamentação dos bebês.