De badalada e candidata ao hexacampeonato ao fracasso total nas quartas de final diante da Croácia, a seleção brasileira deixou a Copa do Mundo 2022 de forma traumática e melancólica.
Brasil eliminado contra a Croácia. Foto: EFE
A chegada a Doha no início da competição foi marcada pela euforia da torcida. Já na silenciosa despedida, não havia ninguém.
Reflexos de uma campanha que levou o torcedor da euforia à decepção e que deixa novas lições de aprendizado para a seleção.
1 – Erros começaram ainda antes da Copa do Mundo
O técnico Tite se irritou bastante ao ser criticado pela convocação do veterano lateral-direito Daniel Alves para a Copa no Catar.
Chegou a ser deselegante com a jornalista Patrícia Lopes, da Bein Sports, que fez uma pergunta justamente sobre o tema.
A Copa mostrou que Tite estava 100% errado.
Daniel Alves veio ao Catar a passeio. Quando o Brasil perdeu os outros três laterais por lesão, mesmo assim ficou no banco.
Nem Tite confiou no soberbo atleta, que ironizou críticas dizendo que se precisasse “tocaria pandeiro”.
• A convocação de Tite teve outros erros crassos. Além de Dani Alves, levou outros jogadores em quem não confiava, como Pedro e Éverton Ribeiro. Foram apenas uma resposta a certo clamor popular. Sem falar na inexplicável insistência em Fred.
Por fim, Tite trouxe um número excessivo de atacantes com características similares, deixando outras posições descobertas e a seleção imobilizada em um único esquema tático.
Na hora das substituições, trocava seis por meia dúzia.
2 – Tite teve 6 anos para encontrar alternativa a Neymar
Tite foi agraciado pela CBF com a permanência no cargo mesmo após a queda da seleção para a Bélgica, em 2018.
Teve mais 4 anos para encontrar uma solução para a eventual ausência do craque Neymar, em torno de quem o time girava.
A Copa no Catar, entretanto, provou que Tite, Cléber Xavier, o filho de Tite e toda a imensa equipe de analistas técnicos, táticos, coordenadores da seleção, foram incapazes disso.
Quando Neymar se lesiona na estreia contra a Sérvia, há um evidente pânico.
Para começar, não há um substituo imediato ao camisa 10. Não se sabe quem vai jogar.
Termina-se com uma aposta no jovem Rodrygo, que nunca havia atuado na posição. Veja só, foi ser testado de fato justamente em um Mundial.
• Tite teve 4 anos para testar meias ofensivos, como Raphael Veiga e Gustavo Scarpa, quando estavam em boa fase. Mas não o fez.
Talvez eles também não resolvessem. Mas, mais uma vez, Tite virou refém de Neymar.
TSE quer banir palavras e expressões ‘racistas’
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou uma cartilha que recomenda “banir do vocabulário brasileiro” 40 palavras ou expressões “preconceituosas” e racistas.
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3 – Soberba e falta de foco na decisão
A seleção chegou ao Catar badalada. Favorita. Elogiada pela imprensa nacional e internacional. O título era questão de tempo.
Pois bem, faltou à seleção capacidade para lidar com tamanha expectativa.
• Houve soberba dos jogadores, que diante da mínima crítica já entravam na defensiva e optavam por ironias e rebatidas – críticas, aliás, na maioria das vezes justas.
E também por parte da comissão técnica, que mesmo diante de evidências de que a Croácia tentaria comandar o meio de campo nas quartas de final, manteve o esquema cheio de atacantes.
O "jeito Brasil" de jogar. E de perder.
Talvez fosse a hora de mudar de acordo com o oponente. De mostrar que havia variação tática. Planos para diferentes cenários. Algum tipo de inteligência.
• Por fim, na semana que antecedeu o duelo contra os croatas, as entrevistas foram dominadas por temas como dancinhas, cultura brasileira, etc. Cabelos pintados.
Tudo menos futebol. Tudo menos o que mais importa. Havia um duelo decisivo pela frente, faltou foco nas quatro linhas e sobrou presunção.
4 – Fator psicológico derruba Brasil mais uma vez
Há uma certa resistência no meio do futebol com a presença de um psicólogo no elenco.
No Catar, a seleção mostrou o quanto precisava de um profissional da área com a delegação. Com frases amplas, genéricas e conceitos confusos, Tite tentou assumir a função.
Obviamente não deu certo. Os traumas recentes de eliminações em 2014 (7 a 1) e 2018 reforçavam ainda mais a necessidade de trabalhar a parte psicológica do elenco.
O capitão Thiago Silva, aos 38 anos, por exemplo, ainda não desenvolveu este tipo de força mental necessária aos vencedores. Novamente se escondeu na hora dos pênaltis.
A fragilidade emocional ficou escancarada após a eliminação, com uma série de cartinhas em redes sociais, expondo o próprio sofrimento, e a já citada incapacidade em lidar com críticas externas, muitas vezes justas, merecidas e construtivas.
5 – Tite se escondeu atrás de auxiliares
Faltou comando e liderança a Tite. Assumir o protagonismo, como se diz hoje em dia. Em nome de uma suposta gestão compartilhada, escondeu-se muitas vezes atrás dos auxiliares, Cléber Xavier, e do próprio filho, Matheus Bacchi.
O técnico da Croácia, Zlatko Dalic, compareceu à entrevista após a vitória sobre o Brasil, ainda no estádio, sozinho.
Foi sóbrio e assertivo. Aliás, outro ponto em que Tite falha, com o estilo verborrágico e vazio que tergiversa sobre perguntas importantes.
Nesta seleção, não se sabia quem tomava as decisões chave. Quem definia como o Brasil iria jogar.
“Essa bola eu passo para o Cléber”, dizia Tite, acionando o auxiliar. Aliás, antes dos pênaltis contra a Croácia, era Cléber Xavier quem tentava motivar os abalados jogadores.
Por Julio Filho/Um Dois Esportes