Um escândalo de corrupção e lavagem de dinheiro está sacudindo a reputação do Parlamento Europeu.
O Catar, país sede da Copa do Mundo, é suspeito de ter comprado opiniões favoráveis e influenciado votos no legislativo do bloco.
Depois que o caso se tornou público, como fica a credibilidade da União Europeia e a confiança dos cidadãos europeus nas instituições do bloco?
Eva Kaili, uma das vice-presidentes do Parlamento Europeu, é acusada de envolvimento no escândalo de corrupção. Reuters
Antes do apagar das luzes de um ano marcado pela guerra na Ucrânia e a alta do custo de vida que mergulhou a Europa em uma das piores crises econômicas das últimas décadas, Bruxelas se torna protagonista de um grande escândalo de corrupção que atinge uma de suas instituições mais prestigiadas: o Parlamento Europeu.
• O Catargate – esquema de suborno e lavagem de dinheiro do país do Oriente Médio a pessoas influentes dentro do legislativo do bloco – tem monopolizado as conversas nos corredores, nos bastidores e está sob os holofotes desde que o caso explodiu há uma semana.
No centro do escândalo, a ex-eurodeputada grega Eva Kaili, em prisão preventiva desde domingo passado, que foi destituída do cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu – no total são 14 vice-presidências - e deve ter a sua imunidade parlamentar suspensa.
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• Caso comprovada a existência de tráfico de influência de um governo autocrático dentro do Parlamento Europeu isso poderia abalar a imagem da União Europeia?
• Poderia elevar o risco de forças antieuropeias e antidemocráticas se aproveitarem deste escândalo nas próximas eleições europeias em 2024?
Especialistas acreditam sim, que o Catargate está prejudicando a credibilidade da União Europeia assim como desgastando a confiança dos cidadãos europeus nas instituições do bloco.
Tentando diminuir o estrago, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu a criação de um órgão independente de ética aplicável em todas as instituições europeias para monitorar e punir casos que ferem o código de conduta, enquanto a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, afirmou que vai liderar um pacote amplo de reformas para endurecer os mecanismos de fiscalização do legislativo. O pacote deve estar pronto em janeiro.
Iniciativa da justiça belga
Foi a Justiça belga que lançou uma série de buscas e prisões na sexta-feira passada em Bruxelas após uma investigação aberta em meados de julho sobre uma suposta organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro infiltrada no Parlamento Europeu.
• Segundo a imprensa belga, durante as operações a Polícia Federal do país apreendeu cerca de € 1,5 milhão em dinheiro vivo.
Na investigação, coordenada pelo Ministério Público Federal da Bélgica e realizada pelo Escritório Central de Repressão à Corrupção (OCRC), há suspeitas de que o Catar teria tentado influenciar decisões políticas e econômicas no Parlamento Europeu pagando grandes quantias de dinheiro e oferecendo presentes a políticos com posições estratégicas dentro do legislativo do bloco em troca da defesa dos interesses do país.
• Até o momento, dez escritórios foram lacrados e quatro pessoas detidas.
A ex-parlamentar Eva Kaili, a pivô central do escândalo de corrupção, deve comparecer diante o tribunal na próxima quinta-feira (22).
Favores e defesa de interesses
A ex-eurodeputada Eva Kaili visitou o Catar em novembro, semanas antes do início da Copa do Mundo.
De volta a Bruxelas, em uma sessão plenária do Parlamento Europeu, ela defendeu o país dizendo que o Catar estava enfrentando críticas intensas de grupos de direitos humanos sobre o tratamento dado aos operários imigrantes durante os preparativos para o evento.
• Kaili fez questão de assegurar que o Catar estava introduzindo direitos trabalhistas e o salário mínimo, apesar dos desafios.
No entanto, é notória a fama do Catar pelo descaso que nutre pelos direitos humanos.
Também está sob a mira da investigação, o acordo de aviação entre a Qatar Airways e a União Europeia.
A companhia aérea catariana adquiriu acesso ilimitado ao mercado europeu e há suspeitas de que o governo de Doha interferiu nas deliberações internas do Parlamento sobre o acordo, que foi assinado em outubro do ano passado.
Fonte: RFI