16/09/2021 09:55

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Uma das palavras de ordem mais constantes do Black Lives Matter nas manifestações de protesto do ano passado pedia “cortar as verbas da polícia”. 

Em lugar de exigir treinamento e comportamento dos agentes da lei de forma a que não se repetisse uma barbaridade como o assassinato de George Floyd, os manifestantes levantaram a bandeira alucinada da pura e simples extinção da polícia, através da desidratação monetária.
 

Sufoco: polícia com menos verba e moral baixo tende a ir menos para a rua (Getty Images)

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Um dos lugares onde a pregação mais emplacou foi justamente em Minneapolis, a cidade onde aconteceu o homicídio público que chocou o mundo, numa banal ocorrência de rua. 

Os resultados estão aparecendo agora: a polícia se retraiu e os crimes aumentaram, sem que, obviamente, nada disso beneficie a população. 

Nos doze meses seguintes ao assassinato de Floyd, as operações de rua para flagrar delitos de trânsito caíram 74%. 

O patrulhamento de “áreas problemáticas” – ou seja, bairros pobres, onde acontecem mais crimes – encolheu 76%.

E 75% foi a queda das batidas em que suspeitos, reais ou imaginários, são parados na rua.

George Floyd (Foto: Reprodução/Instagram)

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Os números foram levantados pela agência Reuters, numa investigação que também detectou outro fenômeno preocupante.

Há policiais de Minneapolis que estão demorando mais para atender chamados de emergência, esperando que a situação se resolva sozinha antes que interfiram. 

Geralmente, essas ligações envolvem violência doméstica.

Em casos assim, com ânimos extremamente exaltados, os agressores podem resistir à intervenção policial e a coisa termina em tragédia. 

Um grupo de manifestantes com mensagens contra a polícia se reúne do lado de fora da casa do procurador do condado de Hennepin (Getty Images/AFP)

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Se for negro, o morto vira um mártir e o policial um monstro, demitido, preso, processado civil e criminalmente, com o endereço da família exposto nas redes sociais e ampla execração pública, mesmo que não venha a ser condenado. 

Uma pesquisa feita em junho em 200 departamentos policiais por um centro de estudos mostrou que entre 2020 e 2021 houve um aumento de 45% nos pedidos de aposentadoria.

Já os pedidos de demissão cresceram 20% e o recrutamento de novos policiais caiu 5%. 

A criminalidade é um fenômeno complexo, que nunca tem apenas uma, duas ou três causas, mas é impossível não estabelecer uma correlação entre o encolhimento das forças policiais e o aumento de indicadores como o de homicídios. 

Nos seis primeiros meses desse ano, no país todo, os homicídios aumentaram 16%. No ano passado, o aumento foi de 25%. 

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Outra causa especulada para o aumento no número de homicídios é que, devido à pandemia, o sistema judiciário em várias regiões diminuiu as prisões provisórias, para encolher a população carcerária e seu potencial como foco das contaminações. 

Sem a punição que mais conta, a privação de liberdade, muitos criminosos continuaram em liberdade e “evoluíram” para crimes mais graves. 

Ao contrário do que os casos que despertam mais atenção parecem demonstrar, mais de 90% dos homicídios de homens negros são perpetrados por criminosos negros. 

Em 2020, policiais mataram 457 brancos, 241 negros, 169 hispânicos e 126 não identificados. 

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O aumento no número de homicídios tem intrigado os especialistas. O Washington Post anotou que, no ano passado:

 “Existe uma grande quantidade de evidência científica mostrando que, quando as cidades contratam mais policiais, a violência tende a diminuir e que, quando áreas de alta criminalidade têm presença policial maior, o crime cai”, disse o Post. 

O jornal, um dos pilares do liberalismo, não aceita a associação feita entre retração da atividade policial, devido aos protestos, e o aumento no número de homicídios. 

Muito contra a vontade, admite que o aumento no número de armas (39 milhões só no ano passado) também não pode ser a explicação. 

“Entre 2000 e 2014, o FBI processou mais de 100 milhões de checagens para a compra de armas, enquanto o índice nacional de homicídios caiu 18%”. 

Além disso, “as armas usadas em crimes tendem a ser surpreendentemente velhas – com dez ano, em média. É relativamente incomum que armas compradas recentemente sejam usadas em homicídios”. 

As múltiplas causas do aumento do número de homicídios ainda serão devidamente detectadas e investigadas no futuro – e seria bom que houvesse policiais em número suficiente para conhecê-las e combatê-las devidamente.

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