"Fiquei transparente de medo", resume um morador do Copan sobre uma madrugada apavorante que viveu no prédio histórico no centro de São Paulo.
Histórias de fantasmas, vultos e até de elevador vagando pelos andares não são nada incomuns no edifício.
Thalys Rosa e Carolina Lima moram no Copan há anos; gato imaginário está entre aparições observadas pelo casal. Imagem: Reprodução/Wikipedia/Arquivo Pessoal
O Copan é conhecido por ser uma "cidade vertical" com 1.160 apartamentos, mas, além de tanta gente de carne e osso no prédio, parte dos moradores jura de pé junto que também divide o espaço com criaturas de outros planos.
Os fantasminhas que assombram o prédio ganharam até um "catálogo" virtual feito pelos moradores.
E viraram assunto depois que um recém-chegado ao prédio foi ao grupo dos moradores no WhatsApp para fazer uma pergunta no mínimo inusitada:
"Preciso saber de uma coisa: é real isso de fantasma no bloco B ou tem um engraçadinho me zoando?"
Outros moradores do bloco B, o mais populoso do Copan, confirmaram as suspeitas sobrenaturais.
As histórias de fantasmas no prédio icônico da Avenida Ipiranga, inaugurado em 1966, ganharam fama no Twitter pouco tempo depois.
'Ouvi os botões do elevador, mas ninguém estava lá'
O técnico de farmácia Thalys Rosa, 32, mora no bloco B há sete anos. Ele diz que já teve encontros sobrenaturais até mesmo dentro do apartamento em que vive: certa vez, ouviu a maçaneta se mexer sem que ninguém estivesse por perto.
"Minha esposa mora aqui há quase nove anos.
Quando começamos a sair, ela comentava que não conseguia dormir muito bem porque ouvia barulhos na maçaneta da porta".
"O apartamento em que moramos é bem pequeno, então a porta fica perto da cama.
Chegamos a colocar garrafas em cima da maçaneta ao dormir para ver se era alguém mexendo, porque, se fosse, a garrafa cairia.
Os barulhos continuaram, mas as garrafas jamais caíram", contou ele ao UOL.
As passagens sobrenaturais não pararam por aí: Thalys conta que sua sogra costumava ver um gato branco durante as visitas ao apartamento, antes mesmo de os dois adotarem animais.
De tanto aparecer para a idosa, o animal fantasma ganhou até apelido: Floquinho.
Além disso, os corredores do prédio viraram local proibido para o casal, depois que o técnico ouviu os botões do elevador sendo ativados sem que ninguém estivesse por perto.
"Nós íamos viajar pela manhã e estávamos arrumando as coisas.
Tirei todos os lixos da casa por volta de 2h30 e fui levar à lixeira do 29° andar. Subi a rampa que dá acesso tanto aos elevadores como à lixeira, que fica ao lado deles.
Coloquei o lixo ali e fui descer, mas nessa hora a porta do elevador abriu.
Eu olhei para trás, porque achei que ia descer alguém, mas não saiu.
Fui seguir caminho, mas ouvi de novo o barulho do botão do elevador, que só surge quando você aperta para subir ou descer.
De novo, não tinha ninguém, não tinha ninguém que ativasse o botão".
"Eu desci 'voado' para casa, cheguei transparente de medo. Contei para a minha esposa e ela falou que nunca mais levaria lixo de madrugada. Eu também nunca mais fui. Sempre que a gente está nos corredores, principalmente à noite, temos uma sensação esquisita de que tem algo atrás da gente", concluiu o morador.
Apesar de enxergar vantagens em morar no Copan, Thalys e a companheira já pensam em se mudar do prédio, tanto pela "energia bizarra" dos supostos fantasmas, quanto pelos problemas criados por quem está vivo.
O técnico de farmácia Thalys Rosa evita os corredores do prédio Imagem: Karime Xavier / Folhapress
"Eu sou daquela opinião: não acredito em bruxas, mas, que elas existem, existem. Não duvido de que exista algo bizarro aqui no Copan. Em algumas partes do dia os nossos gatos ficam olhando fixamente para a porta, por exemplo.
Mas, além dessa questão de sentir uma energia ruim, tem também atualmente as questões de segurança, principalmente sobre os furtos que acontecem diariamente aqui na frente, os arrastões em ruas próximas e etc."
'Se tiver algum fantasma, é alma boa'
Roteirista, Miller Santos mora no Copan há três anos. Antes de se mudar, ele foi alertado por um amigo, que também vive no bloco B, sobre as "aparições" que aconteciam especialmente naquela região, a mais populosa do prédio histórico.
Ele já teve uma visão de uma menina no teto, e o pior: ele viu ao mesmo tempo que a namorada. Mas eu não dei muita atenção, justamente por ser um lugar em que eu queria muito morar.
Assim como Thalys, ele afirma que também já teve experiências estranhas com os elevadores do edifício, em pelo menos duas ocasiões. Em uma deles, o roteirista viu um vulto.
Em outra, o elevador "teimou" em não levá-lo ao andar que ele queria: em vez de ir ao térreo, ele foi parar no 15.° andar — e o botão do primeiro piso ainda quebrou.
Copan reúne histórias de assombração e tem até 'catálogo' de fantasmas Imagem: Karime Xavier / Folhapress
Apesar de acreditar nas histórias sobrenaturais, o morador rebate a ideia de que essas aparições estariam ligadas a energias negativas.
Ele afirma que não se assustou com os encontros que teve.
"Eu lembro que o Copan já foi reduto de gente marginalizada por décadas.
Não acredito em energias negativas, o prédio só tem moradores ligados à arte desde sempre.
Aqui no meu apartamento, por exemplo, já morou a Elke Maravilha.
Então se tiver algum fantasma é de alma boa que está empurrando nossos sonhos para frente.
Até que se prove realmente que tem alguma coisa acontecendo aqui, eu estou bem."