A França teve entre 2.900 e 3.200 padres ou religiosos pedófilos nos últimos 70 anos.
Essa é uma das primeiras revelações, divulgadas neste domingo (3), de um relatório elaborado por uma comissão independente que investigou crimes cometidos pela igreja católica francesa.
O documento integral será revelado nesta terça-feira (5).
Após dois anos e meio de trabalho, a Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja (Ciase, sigla em francês), presidida por Jean-Marc Sauvé, apresentará as conclusões em um relatório de "2.500 páginas".
A Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja Católica da França divulgará um relatório de 2.500 páginas na terça-feira, 5 de outubro de 2021 (Reuters)
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O documento será entregue à Conferência dos Bispos da França et à Conferência das Religiosas e Religiosos dos Institutos e Congregações (Corref), que pediram a elaboração deste balanço.
A divulgação ocorerrá durante uma coletiva de imprensa da qual participarão representantes de associações de vítimas de pedofilia.
"Vai ter o efeito de uma bomba", disse Olivier Savignac, do grupo Falar e Reviver, que reuniu os depoimentos das vítimas de abusos sexuais.
Sauvé adiantou que a quantidade de padres e religiosos pedófilos apontada no documento, "entre 2.900 e 3.200", é apenas "uma estimativa mínima".
"Espero que consigamos enfrentar este fardo, por pior que seja, para que possamos então adotar as medidas necessárias", afirmou Véronique Margron, presidente da Corref
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A Ciase também pretende comparar o número de violências sexuais na igreja católica com as denunciadas em outras instituições:
No esporte, na escola e nas famílias. Outro objetivo é avaliar "os mecanismos, especialmente os institucionais e culturais" que puderam favorecer a pedocriminalidade.
Para elaborar o relatório, a Ciase transformou os testemunhos das vítimas na "matriz de seu trabalho", explicou Sauvé.
Primeiro com uma convocação para depoimentos, que permaneceu aberta durante 17 meses e recebeu 6.500 ligações ou contatos de vítimas e parentes.
Em seguida, procedeu quase 250 longas audiências ou interrogatórios de investigação.
O trabalho também contou com informações colhidas junto a arquivos da igreja, dos Ministérios da Justiça e Interior e da imprensa da França.
Na maioria dos casos, os atos estão prescritos e os autores dos abusos morreram, o que torna improvável um recurso à justiça.
Além disso, os procedimentos canônicos, quando ativados, são muito longos e pouco transparentes.
A revelação do relatório "será um teste de verdade e um momento difícil e grave", afirma a mensagem divulgada pelo episcopado aos padres e paróquias antes das missas do fim de semana.
O texto faz um apelo "a uma atitude de verdade e compaixão".
A expectativa é grande para saber qual resposta será dada pelas lideranças católicas ao relatório.
O episcopado já se antecipou ao prometer um dispositivo de "contribuições" financeiras pagas às vítimas a partir de 2022, algo que não gera unanimidade entre as pessoas que foram alvo destes crimes.
(Com informações da AFP)