No mês que busca dar voz, espaço e representatividade para mulheres que tornam vivo o Patrimônio Cultural Brasileiro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) divulga o Plano de Salvaguarda do Modo de Fazer Renda Irlandesa, bem imaterial inscrito no Livro de Registro dos Saberes, em 2009, e relacionado ao universo feminino.
Renda Irlandesa. Fotógrafo desconhecido
Esse saber tradicional está associado à trajetória histórica e social das mulheres na sociedade brasileira, desde o período colonial até a atualidade, pois constitui-se de saberes tradicionais que foram ress ignificados pelas rendeiras da cidade de Divina Pastora, no interior de Sergipe.
A publicação do Plano de Salvaguarda do Modo de Fazer Renda Irlandesa segue as orientações do Manual de Elaboração de Planos de Salvaguarda, publicado pelo Iphan, autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura.
A publicação surgiu da necessidade de apresentar à área técnica do Instituto, aos detentores dos bens registrados e demais agentes as orientações necessárias para a execução de ações de salvaguarda.
De acordo com a presidente da Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora (ASDRIN), Neidiele de Jesus Silva, o plano de salvaguarda representa um apoio institucional por parte do Iphan.
“É a garantia de que não estamos caminhando sozinhas e que ações serão desenvolvidas em prol do desenvolvimento da nossa renda Irlandesa, para que assim possamos transmitir o nosso saber fazer para as futuras gerações”, contou.
A chefe da Divisão Técnica do Iphan em Sergipe, Cynara Ramos, destacou a importância econômica do plano de salvaguarda na vida das rendeiras.
“O plano de salvaguarda da Renda Irlandesa é de extrema importância para a valorização de um ofício que reúne centenas de mulheres em quatro municípios sergipanos e que assegura a sobrevivência de um bem registrado além de permitir a complementação da subsistência econômica de inúmeras famílias”, disse.
O plano de salvaguarda é um instrumento fundamental para a gestão dos bens registrados como Patrimônio Cultural Imaterial.
O documento apresenta as iniciativas de proteção de maneira estratégica, os objetivos e o planejamento de ações a serem desenvolvidas a curto, médio e longo prazo a fim de promover um amplo alcance da política de salvaguarda.
Esta, por sua vez, deve estar sempre articulada a outras políticas públicas.
Mulheres e o Modo de Fazer Renda Irlandesa
De acordo com o dossiê de registro do bem cultural, aprender a fazer renda é uma alternativa que se coloca desde cedo na vida das mulheres do interior de Sergipe.
As mulheres nascem e crescem vendo parentes e vizinhas às voltas com a renda e são incentivadas a aprender.
E o fazem quase sempre ainda com pouca idade.
Muitas delas, sobretudo as mais velhas, passaram pelo processo de aprendizado antes dos dez anos, pois essa é uma habilidade que, preferencialmente, se adquire quando criança ou adolescente.
Para muitas mulheres, aprender a fazer renda cedo era um modo de escapar dos pesados trabalhos da roça.
Participar dos trabalhos agrícolas era o horizonte das crianças de ambos os sexos, porém, as meninas tinham a oportunidade de se afastar do trabalho pesado caso se dedicassem à produção da renda.
Essa transição da roça para a renda é um traço que se faz presente na biografia de muitas rendeiras, sendo mais frequente entre as mais idosas.
Muitas meninas que substituíram o trabalho braçal pela agulha puderam também, com os ganhos da renda, custear estudos e ajudar suas famílias.
O Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora, no estado de Sergipe, é relacionado ao universo feminino e vinculado, originalmente, à aristocracia.
A partir, especialmente, da metade do século XX, a confecção da renda surgia como uma alternativa de trabalho e hoje essa tarefa ocupa mais de uma centena de artesãs, além de ser uma referência cultural.
Assessoria de Comunicação Iphan