24/10/2021 06:31

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"Quando você cresce sendo julgada, alvo de piadas e comentários cruéis, eventualmente pode se entristecer.

É difícil crescer em meio a tanta maldade e ignorância. Mas eu tenho potenciais e limitações, eu sou diferente, mas não sou menos capaz que as outras pessoas.

Até hoje, muita gente tenta me diminuir e afirmar que eu não mereço estar onde estou, mas sei que isso não é verdade.”

Maju durante a Fashion Week de Milão (Foto: Irina Tascheva)

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Maria Júlia de Araújo, a Maju de Araújo, passou por muitos desafios ao longo de seus 19 anos.

Descoberta em setembro de 2018 pelo grupo MGT, ela conta que houve muito estudo para conseguir o reconhecimento;

“Eu e minha família investimos intensamente, buscando sobretudo uma formação profissional e de qualidade na área”.

“Me descobrir, não pela beleza exterior, mas pelo poder de influência e exemplo que o cargo traz, impactou a minha vida. Me tornei uma pessoa mais autoconfiante.

E mais importante que uma sociedade reconhecendo uma pessoa com síndrome de Down ocupando um cargo profissional, é o próprio autorreconhecimento”

De lá para cá, a modelo já cruzou a passarela em três Fashion Weeks, incluindo a de Milão, na Itália, onde esteve no final do mês passado pelas marcas NCC e Libertees.

“Tem coisas que é impossível de explicar. A sensação de pisar em uma passarela, na maior semana de moda do mundo, ser fotografada e observada e dividir espaço com outras grandes modelos poderia ser amedrontador.

Mas nada se compara à sensação de gratidão, realização e felicidade que sinto fazendo o que amo.

Basta dar o primeiro passo que a preocupação some. Me sinto gigante! É uma sensação de plenitude, é indescritível!”

Outro marco de sua carreira aconteceu em maio passado, quando Maju passou a fazer parte do time de embaixadoras da L’Oréal Paris, sendo a primeira brasileira com síndrome de Down a compor a equipe.

“Sei que tenho limitações, mas elas não me impedem de viver uma vida plena. O que impede é o preconceito. E quando ele é presente na sua vida desde criança, há um risco de se crescer acreditando no que ele diz: ‘não existe lugar pra você aqui’.

Mas desde que comecei a lutar pelo meu sonho percebi que existe um lugar sim pra mim, existe pra todo mundo”.

“Nada pode me limitar ou definir.”

Maju lembra que, quando era pequena, não havia a mesma representatividade.

“Raramente encontrávamos pessoas como eu estampando matérias, revistas, cruzando passarelas.

Pessoas comuns precisam saber que o mundo está cheio de lugares para elas, para nós. Eu sou uma pessoa comum.”

O sonho de ser modelo, ela relata, começou aos 16 anos, quando foi internada com meningite bacteriana e ficou dez dias em coma.

Os médicos chegaram a cogitar a amputação de membros para conter a infecção, mas deu tudo certo.

Assim que acordou, ela revelou para a mãe: “Eu vou ser modelo”. 

Fotos: Instagram de Maju de Araújo @majudearaujo

 “Eu já sentia esse desejo (de ser modelo), mas em alguns momentos foi difícil acreditar que iria realizá-lo.

Depois que você recebe um diagnóstico como o que eu recebi – com risco de óbito ou de sequelas graves como perda da audição, da visão –, você tem algumas opções: ser tomada pelo medo ou lutar pela vida”, ressalta.

“Eu sentia que ainda tinha muito pela frente e que Deus estaria cuidando do meu destino. Mas também sabia que, se recebesse uma nova oportunidade, deveria agarrar essa chance. Foi isso que fiz.”

Fonte: Estadão

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