Já é possível ver os traços artísticos de Everton e Elias Santos na casa ao lado do Centro de Criatividade.
No topo do Bairro Cirurgia, no Morro dos Negros, perfis de personagens icônicas, símbolos e as mais diversas referências à riqueza cultural sergipana começaram ocupar o primeiro de uma série de murais que fazem parte do projeto Caixa D’Água, Cor e Memória, fomentado pelo Programa Funarte Retomada 2023 – Artes Visuais.
Elias Santos e Everton Santos ao lado da imagem de Beatriz Nascimento, sergipana também retratada pelo projeto / Imagens crédito: Diego DiSouza
O projeto irá funcionar como uma galeria a céu aberto para quem circula pelo bairro, formando um circuito de murais. Muros de residências e o da Escola Estadual 11 de Agosto, também localizada no Bairro Cirurgia, irão compor os 150 m2 de cores e memórias que evidenciam a memória da comunidade que brinda a população sergipana com as mais diversas manifestações culturais e representações sociais.
O conjunto de murais localiza-se dentro do perímetro que atualmente está em processo de reconhecimento dos limites do território e regularização fundiária, conduzido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
O técnico em eletrônica Douglas Souza Santana é um dos moradores que autorizou a pintura do muro de sua residência. Sintonizado com a ideia do projeto, ele recebeu a proposta de forma bastante positiva e conta o que o motivou a ceder o muro.
Para Douglas, “a ideia de promover a cultura no bairro através da arte” proporciona “um novo visual pra o lugar”.
Além disso, Douglas percebe que esse tipo de arte urbana tem um papel revitalizador.
“Vejo como benefício à comunidade e à cidade como um todo, pois traz vida e cultura para vários lugares que muitas vezes estão deteriorados e sem uso”, destaca.
Everton Santos desenha a figura de Mãe Madalena, referência na comunidade / Imagens crédito: Diego DiSouza
A riqueza cultural dos bairros Cirurgia e Getúlio Vargas é cultivada à revelia do processo de segregação social e espacial que deu origem a eles, após a mudança da capital sergipana para Aracaju que provocou a migração de pessoas que foram escravizadas para a região.
É possível que não seja do conhecimento de aracajuanos e aracajuanas, mas é de lá, dessa região que saem artistas como Irmão, Dona Caçula, Tonho Baixinho, Mestre Saci e as Yalorixás Dona Aurora e Dona Hortência.
Esse pedaço de Aracaju também é a terra fértil do Reisado de Piliu, da Chegança de João do Pão, Guerreiro Treme Terra, do Festival de Samba da Maloca e da Feira Quilombola, para citar somente uma parte de tudo que ali tem sido cultivado ao longo dos anos e das diferentes épocas.
A dupla de artistas responsáveis por levar a cultura popular do Morro dos Negros para os murais é composta por Everton Santos, cria da Maloca, e por Elias Santos, historiador, xilogravador e desenhista sergipano.
Everton, autodidata, traz em suas pinturas e esculturas figuras humanas e têm forte influência da cultura africana.
Já Elias tem na bagagem andanças pelos vários municípios sergipanos levando oficinas de xilogravura e levou o estado para salões de arte Sergipe afora.
Jovens da comunidade e estudantes do Colégio 11 de Agosto também vão fazer parte desse processo criativo.
A participação se dará por meio de uma oficina de pinturas em estêncil que terão a função de emoldurar os trabalhos dos artistas Everton e Elias.
Além disso, alunos da Universidade Federal de Sergipe, supervisionados pela professora Marjorie Garrido, irão realizar a oficina, após uma atividade de sensibilização conduzida pela antropóloga e atriz sergipana Lina Delé Nunes.
Elias pinta Tonho Baixinho / Imagens crédito: Diego DiSouza
O projeto Caixa D’Água, Cor e Memória está sendo realizado com apoio da Associação Comunitária Criança e Liberdade Quilombo Urbano, conhecida pela comunidade por Criliber.
Responsável pelo início do processo de autorreconhecimento da Maloca como segundo quilombo urbano do Brasil, a associação mantém um projeto de horta comunitária no Colégio 11 de Agosto, também parceiro no projeto.
O projeto tem curadoria e produção executiva do jornalista e ativista cultural Marcelo Rangel e coordenação administrativa e financeira da arte-educadora Silvane Azevedo.
O designer e fotógrafo Diego de Souza e a jornalista Aline Braga são responsáveis pela comunicação do projeto.
O Caixa D’água Cor e Memória também conta com a parceira do IncluZoom para a cobertura fotográfica - projeto que há cinco anos tem como missão fazer da fotografia uma ferramenta de inclusão social.
Com abrangência nacional, o Funarte Retomada 2023 – Artes Visuais integra uma série de medidas da nova gestão da Fundação Nacional das Artes (Funarte), iniciada em 2023 com a recriação do Ministério da Cultura (MinC) pelo Governo Federal.
Segundo a Funarte, o resultado materializa um relevante panorama da diversidade e da potência criativa das artes visuais brasileiras, em suas múltiplas vertentes e territorialidades.
O Projeto “Caixa D’água, Cor e Memória” foi um dos 47 contemplados, recebendo pontuação máxima da comissão de seleção entre mais de 3.800 inscrições de projetos.
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