História

Edição: Hugo Julião
00:14
28/01/2021

10 vacinas que mudaram a História

Varíola | Raiva | Tétano | Difteria | Tuberculose | Febre amarela | Influenza | Poliomielite | Tríplice | Hepatite B

O esforço para o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus e a Covid-19 poderá resultar num dos grandes avanços da saúde coletiva e proporcionar a retorno  à normalidade.

Veja a história de como surgiram outras vacinas que acabaram com epidemias de outras doenças.

Em diferentes épocas, vacinas mudaram o curso da História


 

A primeira vacina que se tem conhecimento no Ocidente foi criada em 1796, pelo médico inglês Edward Jenner.

Seu método de combate à varíola, que hoje parece rudimentar, revolucionou a história da medicina.

A técnica que possibilitou a imunização contra o vírus envolvia retirar o pus de uma ferida de alguém infectado com varíola bovina e inoculá-lo na pele de outra pessoa, na chamada de inoculação braço a braço.

Dr. Edward Jenner realizando a vacinação em James Phipps, um garoto de oito anos de idade (Ernest Board,14 de Maio de 1796)

O método provou-se eficaz contra uma das epidemias mais mortais que a humanidade já conheceu.

A doença infecciosa tem registros pré-históricos e foi um grave problema de saúde durante séculos.

No século 18, a varíola matava uma média de 400 mil europeus por ano.

No século 20, estima-se que até 500 milhões de pessoas tenham morrido do mal.

Após sucessivas campanhas de vacinação por todo o mundo a doença foi erradicada em 1980.

Reconhecido como um dos pais da microbiologia, o químico Louis Pasteur tem entre suas importantes contribuições para a medicina a invenção da vacina contra a raiva, conhecida como antirrábica.

O método de imunização, desenvolvido em 1885 em parceria com o médico e bacteriologista Émile Roux, trouxe grande alento, pois os casos, em quase sua totalidade, resultavam em morte.

Louis Pasteur (27/12/1822 - 28/09/1895), biólogo e químico francês (Reprodução)

Transmitida por mordidas ou arranhões de animais infectados, a raiva, antes chamada de hidrofobia, é conhecida desde 500 a.C.

Mas apenas no século 19, Pasteur provou que a enfermidade era causada por um vírus, e não por uma bactéria, que se alojava no sistema nervoso central.


Pasteur desenvolveu a primeira vacina em 1884, usando medulas espinhais de coelhos infectados imunizou 120 cães.

No ano seguinte a vacinação em humanos foi testada com sucesso.

Um trabalho apresentado à Academia de Ciências de Paris, em 1887, e publicado pelo Estadão naquele ano, descrevia alguns dos sintomas do tétano.

Uma doença conhecida desde a Antiguidade e desde tal associado à ferimentos, produzidos por cortes, arranhões, perfurações ou mordidas de animais.

Além de abreviar vidas, o tétano desafiava o progresso da medicina, uma vez que a mais simples cirurgia carregava risco de contaminação, o que impunha outros custos à Saúde.

O imunologista alemão Emil Adolf von Behring

Isso tudo mudou com a descoberta do fisiologista e microbiologista alemão Emil von Behring.

A partir de 1890, ele obteve sucesso no desenvolvimento de uma antitoxina capaz de neutralizar os efeitos das toxinas da bactéria causadora do tétano.

Em 1897, o microbiologista francês Edmond Nocard, provou que a antitoxina poderia fornecer uma forma de imunização.

Na década de 1920, a vacina contra tétano foi inventada e amplamente utilizada para imunização de soldados durante a Segunda Guerra Mundial.

Causada por uma bactéria passível de transmissão pelo ar e de fácil contágio, a difteria foi uma das doenças epidêmicas de maior predominância na história.

Entre seus sintomas estão febre, tosse, inflamação e o aparecimento de placas espessas e acinzentadas no fundo da garganta, o agravamento pode levar à morte por insuficiência respiratória ou problemas cardíacos.

Nas crianças a doença mostrava taxa de mortalidade elevada.

Por isso, o cientista Emil von Behring ganhou o apelido de o "salvador de crianças" ao desenvolver seu soro (uma antitoxina) contra a difteria.

A descoberta lhe garantiu o primeiro prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1901,  e pavimentou o caminho para o desenvolvimento de uma vacina em 1923.

A DTP, vacina tríplice bacteriana, contra tétano, difteria e coqueluche foi criada na década de 1930 e desde os anos de 1980 é usada em ampla escala para imunização contra as três doenças.

Descrita na literatura médica desde a Antiguidade, a tuberculose é até hoje uma das doenças infecciosas que mais mata no mundo, com uma taxa de cerca de 1, 6 milhão de mortes ao ano.

No século 19 e início do século 20 a doença era chamada de “mal do século” dada sua alta incidência e crescente transmissão nos grandes centros urbanos.

Foi nesse período também que os primeiros importantes avanços no tratamento da doença foram descobertos.

O bacteriologista alemão, Robert Koch

A pasteurização foi inventada por Louis Pasteur, em 1862 e o bacilo causador da tuberculose foi descoberto em 1882, pelo bacteriologista alemão, Robert Koch, o que lhe valeu em 1905, o Nobel da Medicina.

Em 1908 ,o bacteriologista Albert Calmette e o veterinário Camille Guérin iniciaram um estudo para buscar um tratamento para doença.

Conseguiram desenvolver um bacilo, chamado de bacilo Calmette-Guérin (BCG), que serviu para a criação de uma vacina contra a tuberculose.

A imunização em humanos foi testada com sucesso em 1921.

A vacina BCG é mundialmente utilizada e ao longo dos anos se mostrou eficiente na prevenção a hanseníase.

Os primeiros registros da febre amarela datam do século 17, mas diferente da dinâmica de outras doenças do período colonialista, as epidemias foram importadas das colônias para a Europa.

Surtos epidêmicos tomaram a Filadélfia em 1793 nos Estados Unidos, Barcelona na Espanha, em 1803.

No inícios dos anos de 1900 no Brasil contavam-se milhares de casos e centenas de mortos ao ano pela doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.

O problema era tão grave, que muitos países suspenderam o comércio com o País e proibiram seus navios de aportarem em portos brasileiros.

O médico Oswaldo Cruz

Ainda sem vacina, a contenção da epidemia foi obtida graças aos esforços de prevenção aplicados pelo médico Oswaldo Cruz, durante a primeira grande campanha sanitária da República.

A busca por uma vacina urgia, a doença colocava-se como um desafio à comunicação e comércio global.

Em 1913, com a abertura do Canal do Panamá e o aumento das viagens pelo mundo o esforço na obtenção de uma cura intensificou-se.

Diferentes métodos de imunização surgiram, até a criação de uma vacina de ampla eficácia desenvolvida pelo  virologista Max Theiler em 1937.

A descoberta lhe rendeu o prêmio Nobel de Medicina de 1951.

Além dos casos sazonais, presentes até hoje, relatos sobre surtos e epidemias de gripe estão presentes na historiografia e remontam a períodos anteriores ao século 12.

Mas, foi no século 20 que a pandemia de gripe espanhola em 1918, a mais mortal da história contemporânea com estimadas 50 milhões de mortes, postulou um novo desafio para a saúde global.

A pandemia terminou sem que a medicina pudesse fazer frente à doença, fosse formulando uma droga que possibilitasse cura ou uma vacina que protegesse contra o vírus da Influenza tipo A e seus subtipos, como o H1N1.

Desde então, a busca por uma vacina contra doenças respiratórias provocadas por agentes patogênicos se colocou como uma questão de suma importância para a preservação de vidas frente uma nova epidemia.

Soldados de Fort Riley, Kansas, doentes de gripe espanhola, sendo tratados em uma enfermaria de Camp Funston

Na década de 1930, o desenvolvimento da cultura de vírus em ovos embrionados de galinha fez com que a produções de vacinas desse um salto.

A técnica permitiu a criação de imunizantes de sucesso, como a vacina contra gripe utilizada pelos soldados americanos durante a Segunda Guerra Mundial nos anos de 1940.

Nos anos seguintes, a vacina contra gripe e seu uso sazonal se popularizaram.

Hoje ela é elaborada anualmente, de acordo com os relatórios dos centros de vigilância contra a influenza de todo o mundo que mapeiam as tendências e novas mutações do vírus.

Doença infecciosa viral que ataca o sistema nervoso e pode levar à diferentes graus de paralisia e, em alguns casos, até à morte por parada respiratória, a poliomielite é conhecida desde a Antiguidade.

Está presente não apenas nos registros médicos, mas em imagens que retratam adultos e crianças com membros atrofiados.

As crianças são o maior grupo de risco do poliovírus, por isso a enfermidade também é conhecida como paralisia infantil.

Durante séculos, os surtos foram atenuados apenas pela instalação de quarentena. Até que nos anos de 1940 e 1950, uma assustadora epidemia atingiu os Estados Unidos.  

Milhares de crianças sucumbiram à doença, os casos graves passavam semanas internados dentro de tanques conhecidos como pulmões de ferro, ventiladores que ajudavam na atividade respiratória.

O médico polonês, Albert Sabin

Em 1948, a equipe liderada pelo biomédico americano John Enders conseguiu cultivar o vírus em tecido humano, o que tornou possível o desenvolvimento de uma vacina.

Em 1955, a vacina injetável com o vírus inativado criada pelo virologista americano Jonas Salk, entrou em uso.

Em 1961, a vacina oral com o vírus atenuado desenvolvida pelo médico polonês, Albert Sabin, entrou no mercado.

Ambas as invenções foram fundamentais para o combate à pólio. O Brasil, após décadas enfrentando epidemias da doença, erradicou a pólio em 1990.

A década de 1960 foi um período áureo para a vacinologia.

Impulsionadas por um maior domínio do cultivo de vírus em ovos embrionados e pelo aprimoramento do cultivo de vírus em tecidos humanos, as pesquisas para desenvolvimento de vacinas progrediram rapidamente.

Em 1963, a vacina contra o sarampo foi viabilizada; em 1968, a vacina contra a caxumba e em 1970 a contra rubéola.

O microbiologista americano, Maurice Hilleman

Em 1971, o microbiologista americano, Maurice Hilleman, elaborou uma fórmula com vírus atenuados capaz de imunizar contra esses três tipos de infecções virais graves.

Ele foi o cientista que mais desenvolveu vacinas no século 20, responsável pela criação de mais de 40 fórmulas, muitas delas usadas até hoje -

A vacina MMR, também conhecida como vacina tríplice viral, protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A imunização é constituída de três doses.

A primeira vacina contra um agente causador de câncer, a vacina contra hepatite B imuniza contra o vírus VHB, responsável por infecções crônicas do fígado.

O vírus da hepatite B está relacionado ao desenvolvimento de câncer de fígado e cirrose.

Diferente das vacinas contra pólio e sarampo, produzidas com o vírus desenvolvido em tecidos e células em cultura laboratorial, a vacina contra hepatite B foi formulada à partir de antígenos virais presentes no sangue humano.

O bioquímico chileno Pablo DT Valenzuela

Em 1981, a vacina derivada do tratamento de plasma sanguíneo formulada pela equipe do Dr. Maurice Hilleman foi licenciada.

Em 1986, uma nova vacina que usava antígeno cultivado em leveduras, criada pelo bioquímico chileno Pablo DT Valenzuela, suplantou a fórmula anterior.

Um marco da engenharia genética, a vacina de Valenzuela é derivada da tecnologia de recombinação de DNA, um avanço para o desenvolvimento de vacinas.

Com informaões do Acervo Estadão

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