Mais do que lembrar a morte e homenagear aqueles que já se foram, a morte resgata a importância de viver o presente buscando mais qualidade de vida e felicidade – mesmo em contextos adversos.
Dentre as mais de cinqüenta áreas cerebrais responsáveis pelos estados emocionais, as amígdalas são um complexo de núcleos situados no lobo temporal, uma em cada lado do cérebro, e são responsáveis pelo estado de vigilância e atenção aumentada na sensação de medo.
Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA
Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA
O interessante nesse contexto é que o cérebro não diferencia qual estímulo é real e qual é imaginário, então a reação de medo provocada pelo cérebro no corpo acontece tanto por um perigo real quanto por uma situação apenas imaginada.
Por isso sentimos medo quando estamos imersos na história de um filme de terror.
A neurocientista do SUPERA, Livia Ciacci, explica que a sensação de medo como uma reação automática de defesa do cérebro não é tão simples assim.
As amígdalas cerebrais enviam conexões para o córtex orbito frontal, uma região que permite que tenhamos a percepção de sofrimento do medo. Em outras palavras, a consciência do medo.
“O medo da finitude será mais intenso nas pessoas que avaliam tal fenômeno natural mais negativamente, porque elas imaginam piores cenários, ativam as amígdalas e alimentam um sofrimento ansioso.
O medo de morrer também pode ser alimentado por diversas razões relacionadas, como o medo de deixar os filhos desamparados, o medo do impacto familiar, crenças religiosas, entre outras”, explicou.
O Instinto de sobrevivência no cérebro
Um caminho para trabalhar este medo é buscar entender como a mente humana funciona neste cenário.
Segundo Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA, a mente tem uma tendência automática de evitar a consciência de sua mortalidade.
E, apesar dos detalhes neurológicos por trás disso ainda não terem sido plenamente descritos, alguns estudos já abordaram hipóteses interessantes.
“Um estudo publicado na revista “Neuroimagem” pelo Departamento de Psicologia da Universidade Bar Ilan, de Israel, mostrou que quando percebemos estímulos linguísticos relacionados à morte, os mecanismos preditivos do cérebro automaticamente relacionam essa informação aos ‘outros’, como algo que só acontece com outras pessoas e não conosco”, detalhou.
Essa “proteção” provavelmente foi construída na evolução porque o nosso organismo biológico luta o tempo todo para nos manter vivos, e constatar a qualquer momento iremos morrer não seria muito produtivo para a motivação e determinação.
Como lidar com o medo da morte?
A especialista do SUPERA lembra que o medo no contexto do fim é fruto de uma “ameaça invisível” e, no percurso neuroquímico das emoções, tem sua importância na sobrevivência.
Entretanto, quanto mais presente em determinadas situações, ele pode levar a problemas sociais, como a ansiedade, a dificuldade em manter a atenção e concentração, paralisia perante os problemas que surgem além da dificuldade em assumir os problemas de saúde e prejudicando em relações afetivas.
“Avicena - ( 980- 1037) conhecido como o Pai da medicina moderna, já disse que ‘a imaginação é a metade da doença, a tranquilidade é a metade do remédio e a paciência é o começo da cura’.
Mais do que lidar com o medo da morte, precisamos aceitá-la de forma natural.
Somos finitos, e isso tem sua beleza natural, principalmente se direcionarmos a energia para, sabendo disso, fazer com que o tempo que temos seja extremamente valioso, satisfatório e feliz”, concluiu.