Por Mel Almeida
Conheci a jornalista Ilma Fontes quando passei no concurso da Fundação Aperipê, em 1982, e nos primeiros dias de trabalho, nas escadarias da TV , me deparei com uma mulher de estatura pequena, parecendo muito ocupada e concentrada em seus ofícios. Gentil, mas sem exageros e me pareceu, naquele momento, sem muita alegria.
Respondeu a minha pergunta, com um sorriso de canto de boca, assim:
Mel, seu nome é Mel?
Não se aprende a escrever... ou nasce sabendo ou vai treinando, insistindo, lendo e pode ser que um dia, você escreva algo, que valha a pena ler.”
Me frustrou na hora. Mas dia seguinte ... me entregou um programa para que eu produzisse e apresentasse. “Som Vídeo” sob a direção de Sérgio Almeida. Um dos melhores diretores que conheço.
Semana seguinte me presenteou com a produção do programa da grande escritora sergipana Nubia Marques.
Esta era Ilma Fontes. Generosa, conscienciosa, delicada nas atitudes e certeira nas palavras. Palavras que me faltam para descrever a importância desta mulher na minha vida.
Aprendi com ela inúmeras lições. Ilma tinha uma maneira diferente de ensinar. Parecia que não estava acompanhando e deixava “frouxo “o laço de seus pupilos. Depois, ficava ao lado, e ia compartilhando seus saberes, como quem alinhava uma grande costura.
Pude ver de perto, de pertinho, este seu talento quando realizou na marra “A Última Semana de Lampião “.
A mini série foi inspirada no livro de Juarez Conrado, produzida, dirigida e com elenco sergipano de primeira grandeza.
Estavam lá entre tantos J. Inácio, que fazia o padre; Amaral Cavalcante, o Oiteiro; Walkyria Sandes, como Marieta, Tanit Bezerra interpretando Dadá, Denis Leão, o Corisco, Eliudes Silva no papel de Maria Bonita e o grande Orlando Vieira, vestido e encarnado em Lampião.
Eu fiz a cangaceira Sila e trabalhei como assistente de direção.
As gravações foram realizadas em Laranjeiras, com a câmera roubada da própria emissora, as pressões do orçamento zero e toda sorte de problemas oriundos de uma corajosa empreitada.
Até um enxame de abelhas atacou o set e quase debandou o bando. Sim, porque éramos um bando de atores e figurantes, orgulhosos seguidores dela.
Era assim, Ilma idealizava as produções e juntos executávamos as histórias que ela inventava. Que poder esta mulher deixou em mim. Em nós, que haveremos de nos lembrar dela com um sorriso de vitória por sua trajetória compartilhada e seu exemplo de resistência ao ordinário.