Cultura & Variedades

Léo Mittaraquis
07:07
23/05/2024

Oscar de melhor coadjuvante: taça de vinho.

Por Léo Mittaraquis
Graduado em Filosofia, escritor, crítico literário e obsessivamente enófilo
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Prolegômenos

Bem, vejam só, estou por aqui. No aracajumagazine.com.br, capitaneado pelo Hugo Julião. Amizade de mais de trinta anos. Estivemos um tanto longe um do outro. Coisa dos caprichos da vida.

Mas, um fortuito, abençoado e felicíssimo encontro nos permitiu reatar o diálogo, as convergências. Por isso, não podia dar noutra: ponho-me doravante a colaborar com este maravilhoso projeto.

Portanto, vou, periodicamente, abordar algo que tenha a ver com vinho e com drinks que incluam vinho na composição. E quando digo algo que tenha a ver, estou a me referir às coisas belas e boas do mundo, prato, filme, lugar, obra de arte, que permitam, de uma forma ou de outra, que o vinho — seja branco, rosé ou tinto — estabeleça uma ponte entre ele e elas. 

Quanto a nós, cultivadores do que é bom na vida, passemos pela ponte, paremos um pouco no meio, nos debrucemos sobre a proteção lateral e admiremos a paisagem... Após um tempinho, prossigamos.

Cartaz do filme Vinho de Verão

Vinhos e drinks no filme Vinho de Verão

Para postagem de abertura, decidi comentar uma produção cinematográfica que, durante uma hora e quarenta minutos, oscila entre a narrativa dócil e simplista — e até aceitável — e o remelento novelão.

O filme, intitulado equivocadamente "Vinho de Verão", da diretora Maria Matteol, tem como ponto de partida uma peça, "Tinto de Verano" escrita por um dos personagens, Carlo Lucchesi, interpretado pelo ator Bob Wells. 

Com certeza, você, neste ponto da conversa, é levado a questionar: "já que o filme não é uma brastemp, onde estão as coisas belas e boas, e o vinho ao lado delas?".

Esclareço que a fita traz belos momentos. Entre uma possibilidade e outra, há que se reconhecer certo cuidado nalguns aspectos. Algumas boas soluções cenográficas e o vinho como silencioso personagem coadjuvante. Não só o vinho. Há cerveja, vodca e coquetel Tinto de Verano.

E tem mais: "Tinto de Verano", é uma denominação criada, antes de ser usada como título de peça no contexto ficcional, para um refrescante coquetel, à base de bebida gaseificada, na qual se inclui o vinho tinto.

O elemento vinho, ao longo do filme, atuará como complemento, contraponto ou, até mesmo, como referência de distinção entre personagens e respectivos pontos de vista.

Há quase sempre, num detalhe discreto ou num enquadramento de destaque, a presença da taça de vinho tinto. Maria Matteol parece querer nos convencer de que, seja qual for a circunstância, o vinho talvez possa oferecer um instante de belo e de bom.

E qual é o argumento central, em do qual giram as histórias de vida de cada um dos personagens?

Um jovem californiano, James (interpretado por Ethan Peck, neto do ator Gregory Peck), aspirante a ator, frustrado por não conseguir interpretar, de forma convincente, o personagem principal da famosa peça, "Tinto de Verano", decide por ir a Espanha, em busca do dramaturgo e autor do texto teatral. Durante sua curta, porém, conturbada estadia, James irá se relacionar com pessoas que vivem, cada qual a sua maneira, intensos dramas pessoais.

Antes de viajar, James passa a noite num bar, ainda na Califórnia. E como somos informados disso? Pelo vinho que bebe. A garrafa está sobre o balcão, e é um Carter Cabernet Sauvignon.

Este vinho se encontra entre os que oferecem, em se tratando de tintos, por preço acessível, o que de melhor o Napa Valley a tem a oferecer: toque de frutas maduras, ainda que não demais; taninos redondos e marcante nível de acidez. Enfim, um vinho de estrutura equilibrada.

Já em Madri, acontece um encontro – na minha opinião, um tanto forçado pelo roteiro – com o dramaturgo autor de “Tinto de Verano”. Todo o restante da história, seus altos e baixos, se desenrola a partir dali.

Ah, o filme conta com a participação especial da atriz Sônia Braga.

Numa das cenas, lá pelos sessenta e três minutos de filme, James se encontra com ela, numa festinha, onde Sônia (que interpreta o personagem Eliza, antigo amor de Carlo Lucchesi) lhe oferece o coquetel Tinto de Verano.

Eliza vai até a casa do seu filho, que é músico e toca à noite pelos bares madrileños. Leva consigo uma garrafa de vinho tinto. Este não consegui identificar, entretanto, bem poderia ser um riojano. Contudo, eis o elemento vinho como cartão de visita. 

E então, seu moço, vale a pena assistir ao filme? Vale sim. E, mais ainda, se acompanhado de um ótimo rótulo californiano e, na sequência, de um igualmente ótimo rótulo da região do Rioja.
Isto é tudo, pessoal. Até a próxima.

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