21/09/2020 10:57

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Cientista, mulher, negra e a caçula de oito irmãos, Rita de Cássia dos Anjos diz que se inspirou na mãe para desenvolver um olhar curioso e investigativo do mundo.

“Ela falava: ‘Você tem que ter curiosidade em saber como as coisas são, o porquê de serem assim’. Isso me motivou bastante a gostar de ciências", conta a pesquisadora.

Hoje, física da Universidade Federal do Paraná e uma das ganhadoras do prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2020, vem dedicando a mesma curiosidade dos tempos de menina para desvendar um interessante mistério do universo:

- a origem dos raios cósmicos e sua possível relação com galáxias de intensa formação de estrelas.

Quer saber mais sobre essa história? Confira a matéria:


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Rita passou sua infância na cidade de Olímpia, no interior de São Paulo.

Por causa do ensino de pouco enfoque nas ciências exatas na escola, optou, primeiramente, pelo curso de biologia.

Como não ingressou em sua primeira tentativa, passou a frequentar um curso pré-vestibular. “Foi o começo do meu encontro com a física”, relembra a cientista.

 

Pouco tempo depois, ela juntou os dois interesses – física e biologia – ao integrar a primeira turma de graduação em física biológica na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

Mas ao perceber que tinha mais afinidade pela física, seguiu a trajetória acadêmica na Universidade de São Paulo, campus São Carlos, onde fez mestrado e doutorado em física.

Três meses após defender a tese, se tornou docente e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná em Palotina.

Na mudança de São Carlos para o interior do Paraná, apesar da nova realidade, com menos estrutura para pesquisa e alta carga horária em sala de aula, Rita descreve, com satisfação, o espaço que criou em pouco tempo. 

“É bacana você ir construindo. Se você entra em um centro de pesquisa renomado, você é mais um ali, vai demorar para conseguir ter seu espaço e ser uma liderança. 

Em contrapartida, se você entra em um lugar que não tem muitos recursos, você tem a oportunidade de lutar e ser diferente. 

Demora, mas é uma coisa que vale bastante a pena”. 

Astrônomos usaram telescópio Alma, localizado no Chile e conseguiram registrar imagem detalhada de galáxia starburst (Imagem: Observatório Nacional Astronômico do Japão)

Na sua área de atuação, Rita faz um trabalho como o de um detetive, tentando reconstruir o caminho que raios cósmicos fazem desde o espaço sideral até a superfície.

As pistas para desvendar o mistério envolvem, neste caso, telescópios poderosos e modelos matemáticos.

Nesse estudo, uma das perguntas que motivam a pesquisadora é se galáxias em que há intensa formação de estrelas, conhecidas como galáxias starburst – que estão entre as mais luminosas do universo e apresentam fortes ventos – podem ser fontes de aceleração e propagação de raios cósmicos.

A direção de chegada de partículas cósmicas detectadas recentemente na mesma direção dessas galáxias pode ser um indício dessa relação.

Estas são as 7 ganhadoras da 15ª edição do Programa Para Mulheres na Ciência promovido pela L’Oréal Brasil, em parceria com a UNESCO no Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC)

“Investigamos as galáxias próxima - localizadas em até 326 milhões de anos-luz. Se considerássemos as distantes, as partículas teriam que viajar muito para chegar até a Terra”, explica a astrofísica.

Assim, como física teórica, Rita cria modelos matemáticos para simular a viagem das partículas a partir das galáxias, quantifica a perda e o ganho de energia dos raios cósmicos a partir dos efeitos do seu campo magnético e compara os resultados do modelo com as informações obtidas por observatórios astrofísicos.

“A gente faz um processo que chamamos de reconstrução: pegamos o rastro que o raio cósmico deixou, além de outras características, e fazemos o retorno dele. Qual o possível caminho dele até a fonte?”. 

Observatório Pierre Auger, na Argentina (Foto: Marcelo Sola/Welcome Aragentina)

No Observatório Pierre Auger, na Argentina, do qual Rita é colaboradora, são usadas duas técnicas de detecção dos raios.

A primeira detecta o rastro da partícula quando passa pela atmosfera, por meio de telescópios de fluorescência – que, por serem sensíveis à luz, só podem ser abertos na escuridão da noite.

Já a segunda técnica se dá em grandes tanques de água límpida, onde é feita a detecção das partículas cósmicas que colidiram com as partículas da atmosfera – um fenômeno conhecido como chuveiro de partículas.

A partir desses dados, a pesquisadora propõe um modelo para a propagação das partículas no espaço.

 

"Com o apoio do Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC, irei investigar a conexão deste tipo de galáxia com a física dos raios, correlacionando a trajetória de raios gama e neutrinos com a localização de galáxias starburst próximas — a 326 milhões de anos-luz de distância", explica a astrofísica.

A partir de modelos e simulações matemáticas, a pesquisadora espera reconstruir o caminho desses raios até a Terra e determinar a fonte deles.

 

Como professora da UFPR, cargo assumido em 2014, Rita vê a conquista do prêmio como uma oportunidade de reconhecer a importância da ciência básica.

"Em países emergentes como o Brasil, esse trabalho é pouco valorizado", avalia.

"Além disso, é uma alegria muito grande poder participar desse grupo seleto de jovens mulheres cientistas, que, apesar dos desafios que encontram diariamente nos laboratórios, como a falta de verba e de materiais, produzem estudos de alta qualidade e dão retorno à sociedade."

Com informações do site Para Mulheres na Ciência

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