21/05/2021 19:05

Compartilhe:

Um bairro no norte da capital francesa sofre há meses com a presença de traficantes e consumidores e drogas.

O toque de recolher imposto pela crise sanitária piorou a situação, com ruas vazias e comércio fechado por causa do lockdown.

Para tentar resolver o problema, as autoridades decidiram reunir os usuários de entorpecentes em um parque na mesma região.

Mas a situação desagradou tanto associações, como vizinhos do jardim, que se tornou uma espécie de “cracolândia francesa”.

Bairro de Stalingrad, em Paris: mesmo com apartamentos a € 10 mil (R$ 65 mil) o metro quadrado, moradores sofrem com presença de traficantes e consumidores de crack (Joel Saget/AFP)

---------------------

As imagens de rojões lançados das janelas de prédios contra pessoas que estavam nas ruas mostraram um lado de Paris menos conhecido dos turistas.

A cena, que viralizou nas redes sociais e ganhou destaque em parte da imprensa no início de maio, mostra disparos vindos de apartamentos de moradores de Stalingrad, bairro no nordeste da cidade.

Eles se dizem irritados com uma vizinhança não desejada: os traficantes e consumidores de drogas, que tomaram as ruas e calçadas da região nos últimos meses.

A praça de Stalingrad no nordeste de Paris (Jeanne Menjoulet/Creative Commons)

----------------------

Essa não é a primeira vez que o bairro tem problemas do gênero. Nos anos 1980 e 1990, Stalingrad fazia parte dos locais mal frequentados de Paris.

Mas como em outras capitais europeias, a gentrificação passou por lá e essa região até então popular mudou de cara.

Cafés animados, cinemas com filmes cabeça, startups e mercados de produtos orgânicos fazem parte do cenário atual, pontuado por um desfile de moradores cada vez mais endinheirados, que aproveitaram os baixos preços dos imóveis na região para encontrar moradias mais espaçosas.

Canal Saint-Martin em Paris, na França, é um dos atrativos preferidos dos parisienses na época da primavera e verão (Dicaseuropa)

-------------------

Às margens do Canal Saint Martin, casais empurram seus carrinhos de bebês e grupos de amigos fazem piquenique ou jogam pétanque (a bocha francesa) mostrando uma vida vibrante, daquelas que as publicidades voltadas para consumidores mais jovens adoram filmar.

Aliás, uma escola de cinema e outra de teatro também funcionam na região, é não é raro ver seus estudantes fazendo exercícios de vídeo por lá.

Mas o que os moradores de Stalingrad têm visto atualmente está bem longe desse cartão postal de civilização moderna.

Nos últimos meses, algumas ruas e praças estão sendo tomadas novamente por traficantes e usuários de drogas – principalmente crack.


Durante a noite, algumas ruas mais parecem cenas de The Walkind Dead ou A Noite dos Mortos-Vivos.

Desde janeiro, dois usuários de drogas morreram na rua e um homicídio já foi registrado.

Uma situação que resultou nos ataques com rojões no início do mês.

Além disso, os moradores se organizaram e, todas as noites, às 20h, saem nas janela e fazem um panelaço.  

Jardim D'Eole, Paris (Tripadvisor)

---------------------

A ação mais emblemática foi implementada esta semana, com a decisão de enviar todos os consumidores e traficantes – com a ajuda da polícia e de mediadores da prefeitura – para o Jardim Eole, um parque urbano situado a menos de um quilômetro de distância dali.

Agora, os dependentes são encaminhados para o local, longe dos olhares da vizinhança.

O Jardim d’Eole, que normalmente fecha as suas portas às 21h, agora funciona até 1h da madrugada. Depois desse horário, os usuários de drogas – muitos deles sem teto – voltam para as ruas.

Com informações da RFI

Nos acompanhe por e-mail!