Uma respeitada escola superior de engenharia da França será investigada após os resultados de uma apuração interna, realizada pela própria instituição.
Foram verificadas a ocorrência de cerca de 100 estupros, assédio ou abusos sexuais de alunas e alunos.
A investigação foi aberta pelo Ministério Público de Evry, na periferia de Paris, depois que a direção da CentraleSupélec procurou a Justiça para informar os fatos.
A descoberta ocorreu por acaso. A escola superior promoveu um questionário anônimo interno para verificar a percepção sobre a igualdade entre homens e mulheres na instituição.
Os resultados, porém, revelaram ocorrências graves, que teriam acontecido no último ano escolar (de setembro de 2020 a junho de 2021).
A pesquisa interna, realizada por email com 2.386 alunos, foi feita pela associação de combate ao sexismo Çapèse, a pedido da direção.
Os resultados “evidenciaram violências sexistas e sexuais particularmente preocupantes”, afirmou a CentraleSupélec, em um comunicado nessa quinta-feira (7).
“Diante da gravidade dos fatos declarados pelos participantes desta pesquisa inédita, o diretor da escola, Romain Soubeyran, decidiu alertar, por correspondência, a procuradora da República de Evry, para que sejam visados meios complementares de prevenção, ação e acompanhamento das vítimas, mas também sanções aos autores”, acrescentou a instituição.
A investigação interna apontou que 51 mulheres e 23 homens declararam ter sido vítimas de assédio sexual; 46 mulheres e 25 homens dizem ter sofrido agressões sexuais:
“contato físico com uma parte sexual - glúteos, sexo, seios, boca, parte interna das coxas -, cometido com violência, à força, ameaça ou surpresa”); e 20 mulheres e oito homens afirmam ter sido vítimas de estupro (“um ato de penetração cometido com violência, à força, ameaça ou surpresa”.
Entre os ou as estudantes que disseram ter sofrido uma dessas violências, "quase 9 a cada 10 afirmaram que o agressor seria um outro aluno".
Disseram também que "os fatos teriam ocorrido em um contexto associativo ou dentro da residência universitária”, esclareceu a CentraleSupélec.
O caso francês ocorre na esteira de revelações de abusos ocorridos nas chamadas fraternidades das universidades americanas – clubes de alunos com festas marcadas por uso excessivo de álcool e drogas.
As acusações já estão sendo apontadas como o novo movimento #MeToo, desta vez dentro das instituições de ensino superior.
Segundo o jornal El País, quase 15 mil pessoas assinaram uma petição para fechar a fraternidade de Phi Kappa Psi, da Universidade do Kansas, após a divulgação de mais um caso de estupro nesses encontros, em setembro.
Com informações da AFP