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Edição: Hugo Julião
16:42
07/04/2021

Genocídio em Ruanda: arquivos mostram envolvimento da França em 800 mil mortes

A França abriu ao público nesta quarta-feira (7) importantes arquivos relativos à situação em Ruanda entre 1990 e 1994, exatamente 27 anos depois do início do genocídio dos tutsis no país, segundo um decreto publicado no Diário Oficial francês.

O material inclui arquivos de François Mitterrand, primeiro presidente socialista da República francesa,e de seu primeiro-ministro da época, Édouard Balladur.

Vários documentos, sobretudo telegramas diplomáticos e notas confidenciais, integraram um relatório devastador sobre o papel da França em Ruanda na época, publicado por uma comissão de 14 historiadores em março passado, liderada por Vincent Duclert. 

François Mitterrand, primeiro presidente socialista da República francesa, ignorou as informações e advertências sobre os crimes em larga escala que culminaram com a morte de 800 mil pessoas numa população de seis milhões de habitantes (DR)

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O chamado relatório Duclert traçou um balanço sem concessões do envolvimento militar e político da França no genocídio, que entre abril e julho de 1994 deixou pelo menos 800.000 mortos, em sua maioria tutsis mas também hutus moderados, exterminados em circunstâncias abomináveis, segundo a ONU. 

O informe destaca sobretudo a responsabilidade de Mitterrand e de seus colaboradores mais próximos, que ignoraram as informações e advertências sobre os crimes em larga escala que poderiam ser cometidos.

O documento concluiu que o governo francês também falhou em não parar o massacre.

Presidente de Ruanda, Paul Kagame (Monika Flueckiger/WEF)

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O presidente ruandês Paul Kagame saudou o relatório como um "passo importante". 

Nesta quarta-feira (8), estão programadas diversas cerimônias na França para recordar o 27º aniversário do início do genocídio.

Corpos de ruandeses mortos durante o genocídio de 1994 (Getty Images)

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Apesar de uma relação melhor entre os dois países nos últimos anos, especialmente após a chegada de Emmanuel Macron à presidência em 2017, o papel da França no genocídio é um tema que ainda gera tensões.

Segundo o Palácio do Eliseu, Macron pretende viajar a Kigali na primeira quinzena de maio, a fim de acelerar a normalização das relações entre os dois países, mas tudo vai depender do contexto sanitário da pandemia.

Essa viagem pode acontecer antes da cúpula que vai discutir o financiamento das economias africanas, prevista para 18 de maio, em Paris.

 


Veja algumas fotos do genocídio em Ruanda, em 1994.

A violência sexual também foi abundante, sendo que estima-se que entre 250 000 e 500 000 mulheres tenham sido estupradas durante o genocídio

Os crânios das vítimas do massacre de Ntarama. Entre os 59 mil tutsis que moravam na província de Nyamata, 50 mil morreram no genocídio (Fotos: Getty Images/AFP)

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Um homem exibe as cicatrizes que os soldados do governo provocaram durante o genocídio de Ruanda, considerado o maior da História moderna.

A foto de James Nachtwey foi premiada pelo World Press Photo.

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Uma menina ruandesa chora no campo de apoio em Gisenyi. Estima-se que 800 mil pessoas terão morrido em 100 dias em 1994.

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Refugiados ruandeses esperam por comida no campo de ajuda de Benako, fugindo da guerra entre os rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa e os soldados do governo.

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Uma criança ruandêsa tapa o nariz para evitar o cheiro dos mortos pelos extremistas hutu (Reuters)

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Fotos das vítimas do genocídio de Ruanda, agora expostas no Centro Memorial do Genocídio em Kigali.

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