Portugal presta ampla homenagem aos 200 anos da Independência do Brasil celebrados neste 7 de setembro.
A imprensa local publica suplementos especiais comemorativos nesta quarta-feira, dá parabéns ao Brasil e repercute a reunião bilateral do chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, na noite de terça-feira (6), com o presidente Jair Bolsonaro, na sede do Itamaraty, em Brasília.
Os presidentes do Brasil e de Portugal, Jair Bolsonaro e Marcelo Rebelo de Sousa, se encontraram às vésperas da comemoração do Sete de Setembro. Imagem: Isac Nóbrega/PR
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A mídia portuguesa tinha certa expectativa para saber se Rebelo de Sousa conseguiria dissociar sua visita do uso eleitoral que Bolsonaro faz das comemorações do Dia da Independência e considera que ele passou no primeiro teste.
Bolsonaro recebeu Rebelo de Sousa para uma reunião bilateral com mais de uma hora de atraso, mas, na saída, o presidente português disse que o encontro “correu muito bem” e que ele aproveitou os cerca de 20 minutos de conversas para contar a história da vida de D. Pedro a Bolsonaro.
O presidente português garantiu que não se falou de política nem da campanha eleitoral, apenas sobre como “o Brasil foi se afirmando ao longo dos 200 anos da Independência e a projeção que tem hoje”.
“E falei obviamente do que tinha de falar”, acrescentou Rebelo de Sousa, referindo-se ao “peso dos brasileiros em Portugal, que vão a caminho de 250 mil imigrantes, o que, para 10 milhões de habitantes, é um peso muito apreciável”, na avaliação do chefe de Estado português.
Ele voltou a dizer que seria “incompreensível” Portugal não estar presente nas celebrações dos 200 anos da Independência, devido aos laços históricos de povos irmãos e da importância do Brasil para a economia e a política externa portuguesas, um argumento relativamente consensual entre a população.
O gestor de investimentos Manuel Luis, 61 anos, acredita que chefe de Estado português saberá se proteger da instrumentalização eleitoral de sua imagem durante a passagem pelo Brasil.
“Eu penso que Marcelo Rebelo de Sousa é suficientemente inteligente e um político muito astuto para, dentro da capacidade de manobra que ele tiver, ainda que seja um institucionalista, que não se deixará instrumentalizar totalmente pelo Bolsonaro”, disse em entrevista à RFI.
“E estou convencido de que sendo ele um profundo democrata, vai encontrar canais para transmitir uma mensagem claramente não alinhada com o pensamento bolsonarista”, opinou o gestor.
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Presença simbólica
Depois da bilateral, Rebelo de Sousa visitou a exposição "Um coração ardoroso: vida e legado de Dom Pedro I", no Itamaraty, onde o coração do imperador que proclamou a Independência do país pode ser visto mergulhado em uma solução com formol.
Ele defende essa presença simbólica do imperador nas comemorações do Bicentenário.
Mas na opinião da historiadora Maria Antónia Lopes, da Universidade de Coimbra, foi um erro Portugal ter cedido o coração a pedido de empréstimo de Bolsonaro.
“Acho que Portugal nunca devia ter cedido a um governo como o de Bolsonaro, porque Bolsonaro está a trair tudo o que há de progressista na mentalidade de D. Pedro, tanto quando deu a Constituição de 1824 ao Brasil, quanto a de 1826 a Portugal, que é calcada na do Brasil”, afirmou a historiadora.
“Os ideais de D. Pedro não são os de Bolsonaro”, destacou a especialista.
Ela também critica que se possa fazer utilização política, a um mês das eleições, com o fundador do país:
“Não acho correto, não é nada correto”, afirmou a historiadora da Universidade de Coimbra.
Nesta quarta-feira, Rebelo de Sousa assiste o desfile militar na Esplanada dos Ministérios, ao lado dos presidentes de Cabo Verde e da Guiné Bissau.
O governo brasileiro convidou todos os líderes de ex-colônias portuguesas hoje integradas à Comunidade de Países de Língua Portuguesa, mas apenas três fizeram a viagem.
Angola e Moçambique enviaram representantes diplomáticos a Brasília.
Já é página virada para o presidente português o constrangimento que passou no início de julho, quando Bolsonaro cancelou um almoço que tinha previsto com ele, em Brasília, irritado por Rebelo de Sousa ter se encontrado com o ex-presidente Lula em São Paulo.
Portugal coloca os laços históricos com o Brasil acima de governos circunstanciais, com que tenha uma intensidade de relacionamento menos expressiva.
O português diz estar de malas prontas para retornar ao Brasil em janeiro, para assistir a cerimônia de posse do novo presidente brasileiro que será eleito em outubro.
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O Rio de Janeiro (RJ) é a capital mundial do rock desde a sexta-feira (02/09) com a chegada de um dos maiores eventos de música do mundo.
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Discurso no Congresso
O presidente de Portugal está no Brasil acompanhado pelo presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva – número 2 do Estado português –, e pelo presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva, que tem uma extensa agenda com lideranças empresariais em São Paulo.
O ponto alto da estadia para Rebelo de Sousa, momento em que ele pretende reforçar seu capital político, será o discurso que fará amanhã no Plenário da Câmara dos Deputados, na sessão solene comemorativa dos 200 anos da Independência organizada pelo Congresso Nacional.
Será a ocasião para Rebelo de Sousa traçar perspectivas de longo prazo para as relações bilaterais e relembrar os benefícios das ondas de migrações nas duas direções.
O Brasil é considerado um parceiro essencial para Portugal no cenário internacional e também internamente.
A onda de imigração de brasileiros nos últimos anos preenche necessidades de investimento fundamentais para a economia portuguesa e carências de mão de obra em diversos setores.
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A programação se estende até o final do ano.
Nesta quarta-feira, a Orquestra Filarmônica da Universidade Federal de Minas Gerais, que estreou ontem à noite no Porto, fará um concerto gratuito no Festival Lisboa na Rua, no Jardim da Torre de Belém.
O maestro Fabio Mechetti estará à frente de cerca de 80 músicos, que vão apresentar uma variedade de estilos e as influências das raízes brasileiras na música para orquestra.
Serão interpretadas obras de Alberto Nepomuceno, Francisco Mignone e Carlos Gomes, entre outros.
O Espaço Cultural Talante, também em Lisboa, localizado dentro de uma livraria, em uma antiga instalação industrial transformada em centro de criação artística e convívio, com bares e restaurantes, faz um evento com artistas brasileiros.
Haverá exposição de fotos, instalações, uma leitura reflexiva da peça “Colônia”, de Gustavo Colombini, para questionar se o Brasil de fato conquistou sua Independência.
A partir de hoje, a Universidade de Coimbra oferece um programa multidisciplinar que destaca a ligação centenária entre a instituição e o Brasil.
E inaugura uma exposição de documentos históricos do período da Independência, em 1822.
No final da tarde, no Museu Nacional Machado de Castro, acontece um concerto em homenagem a Tom Jobim.
Longe do clima de violência que pode marcar o 7 de setembro no Brasil, Portugal vai exaltar a cultura brasileira no aniversário de 200 anos da Independência.