06/03/2021 16:55

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O Reino Unido e a Sérvia não fazem parte da União Europeia e, no entanto, são líderes em vacinação na Europa.

Por outro lado, os 27 países do bloco europeu continuam atrasados ​​na vacinação, na produção de vacinas e na validação das que já existem.

Esta situação “fragmentou a solidariedade europeia”, afirma o cientista político Patrice Martin-Genier, professor na prestigiosa universidade Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos de Paris).


Por Florent Guignard

Budapeste, Praga, Bratislava, Varsóvia e Viena procuram negociar com a Rússia e a China, em alguns casos com ambas, para obter outras fontes de abastecimento de vacinas contra a Covid.

A vacina russa, no entanto, ainda não foi aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos.


A Áustria e a Dinamarca estão tentando negociar com Israel para preparar a próxima geração de vacinas, mesmo sem passar pelo aval de Bruxelas.

A Suíça ainda não aprovou a vacina da AstraZeneca, pois acaba de ser autorizada para pessoas com mais de 65 anos de idade, com comorbidades.

Ou seja, na Europa também foi imposta a regra de "cada um do seu lado", mesmo apesar das rígida burocracia europeia.


O chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, chegou a evocar "tentativas de separatismo", criticando as iniciativas individuais de países europeus na corrida pela vacina.

Mas para Patrice Martin-Genier o bloco europeu demonstrou uma grande fragilidade na admiistração das vacinas na pandemia.


Leia a entrevista:

Patrick Martin-Genier é especialista em questões europeias e internacionais.

Leciona direito público na  universidade Sciences Po, em Paris, e direito constitucional e administrativo no Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (Inalco).

 É regularmente solicitado pelos meios de comunicação audiovisuais sobre questões europeias.

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RFI: Podemos falar de uma crise profunda na nascente União Europeia da Saúde ou é um fenômeno específico?

Não, infelizmente para aqueles que querem continuar a construção europeia, não é. No que diz respeito às vacinas, a União Europeia tem estado extremamente frágil.

A União Europeia tem sido vítima de uma burocracia muito importante, de morosidade administrativa, não só ao nível dos contratos, mas também na produção de vacinas, bem como na validação de alguns imunizantes.


RFI: Existem riscos de ruptura da solidariedade europeia?

Sim, tudo isso contribuiu para fragmentar a solidariedade entre os Estados europeus. Alguns foram bater à porta na Rússia, outros na China.

Nesta sexta-feira, o chanceler austríaco e o primeiro-ministro dinamarquês viajaram a Israel (para negociar contratos de vacinas de segunda geração).

Esse país teve um sucesso fenomenal com sua campanha de vacinação. Não existe solidariedade europeia. Hoje, o único país que apoia a Comissão Europeia é a França.



RFI: A República Tcheca, a Hungria e a Eslováquia já aprovaram, ou estão considerando aprovar, a vacina russa Sputnik V, que a Agência Europeia de Medicamentos acaba de começar a avaliar.

A Polônia também anunciou que seu presidente, Andrzej Duda, está considerando comprar a vacina produzida pela China.

Em resposta a estes anúncios, Clément Beaune, Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, disse que se esses países "vão procurar a vacina chinesa e/ou russa, será grave. Isso levanta um problema de solidariedade e também um problema de saúde".

O que você acha?

Não entendo por que aquele ministro diz que é sério. Parece que o governo francês gostaria de apoiar a Comissão Europeia a todo custo, quando a realidade é que ela foi muito frágil ao longo deste processo.

É por isso que os países do chamado grupo de Visegrad (Hungria, Polônia, República Tcheca, Eslováquia), assim como outros países europeus, não podem ser responsabilizados por quererem se abastecer com vacinas chinesas e russas.

Os países europeus não conseguiram validar vacinas que não apresentassem riscos a priori.


RFI: Ao mesmo tempo, há uma ruptura na solidariedade europeia.

Sim, é verdade, mas por que? Porque a Europa não foi capaz de fazer face a esta exigência sanitária e administrativa.

Mesmo se alguém for profundamente europeu, deve reconhecer-se que a União Europeia não foi capaz de proteger devidamente os seus cidadãos.

É por isso que as administrações europeias terão de aprender a pôr de lado a excessiva prudência e a burocracia que nos impedem de avançar. Esta é uma responsabilidade da Comissão Europeia.

Fonte: RFI

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