15/04/2023 09:34

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Ensaios pré-clínicos avaliam tratamento de doenças como Parkinson e Alzheimer

Experimentos utilizam canabidiol em modelo animal na UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

O aposentado Paulo Sérgio Reis, 70 anos, faz o uso medicinal da cannabis há pelo menos dois anos.

Ele toma oito gotas de óleo de canabidiol, três vezes ao dia, para controlar sintomas de ansiedade e aliviar dores na região da coluna.

O tratamento vem fazendo um grande efeito em mim. Eu ficava irritado com facilidade e era muito agitado e isso afetava meu sono.

Apesar do alto custo para a importação dos derivados da substância dificultar o acesso da população em geral ao tratamento, o avanço de pesquisas científicas na área tem contribuído para a melhoria dos produtos e para o aprimoramento da legislação. Hoje já consigo dormir a noite toda. Também já fico de pé e faço minhas atividades sem sentir dores,” conta o aposentado.

Paulo é um dos 187 mil brasileiros que se beneficiam de medicamentos à base da planta popularmente conhecida como maconha - por meio de prescrição médica - para tratar problemas de saúde.

Os dados são Anuário da Cannabis no Brasil, da empresa Kaya Minds, publicado ano passado.

Ronaldo dos Santos lidera pesquisas na UFS sobre cannabis. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Na Universidade Federal de Sergipe, o Laboratório de Neurobiologia Comportamental e Evolutiva (Lance-UFS), instalado no campus Alberto Carvalho, em Itabaiana, desenvolve estudos sobre os benefícios da cannabis há quase uma década.

Os ensaios, em fase pré-clínica, buscam confirmar o potencial neuroprotetor das substâncias.

Segundo o professor de Biocências e coordenador do Lance, José Ronaldo dos Santos, “as pesquisas têm demonstrado os efeitos benéficos da cannabis para o tratamento de transtorno de ansiedade e de doenças neurodegerativas, como Parkinson e Alzheimer”.

Uma das análises em andamento no laboratório investiga de maneira mais aprofundada os impactos moleculares do uso do óleo extraído da cannabis nos mecanismos fisiológicos de neuroproteção contra o parkinsonismo.

Leandro Sousa é doutorando em Ciências Fisiológicas na UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

A pesquisa em modelo animal é feita com cerca de 50 ratos.

O experimento começou a ser conduzido no início deste ano pelo biológo Leandro Santos Souza no doutorado em Ciências Fisiológicas da UFS e deve durar quatro anos.

As evidências que trazemos, mesmo preliminares, podem abrir novas possibilidades para estudos em humanos, podendo auxiliar a dosagem e a circunstância mais adequadas para o uso do óleo do cannabidiol contra a Parkinson,” explica o doutorando.

Política Estadual de Cannabis

Atualmente, os compostos de cannabidiol testados em modelo animal na UFS são produzidos na Universidade Federal de São Paulo (Univfesp).

No entanto, a recente sanção da lei que criou a Política Estadual de Cannabis, além de facilitar o acesso dos pacientes aos remédios à base da planta, permitirá a ampliação de pesquisas científicas.

Auderlan Mendonça é professor de Biociências da UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Para o professor de Biociências da UFS, Auderlan Mendonça, “apesar das evidências existentes, ainda é preciso avançar na pesquisas para entender melhor como funciona o mecanismo neuroprotetor do cannabidiol e poder passar a fazer ensaios em humanos”.

Para o professor de Biociências da UFS, Auderlan Mendonça, “apesar das evidências existentes, ainda é preciso avançar na pesquisas para entender melhor como funciona o mecanismo neuroprotetor do cannabidiol e poder passar a fazer ensaios em humanos”.

Tratamento de lesões de pele

Além de avaliar os benefícios da cannabis no tratamento de doenças neurodegenerativas, o Laboratório de Neurobiologia da UFS se prepara para iniciar análises pré-clínicas de compostos para tratar lesões na pele, em parceria com o Ambulatório de Cicatrização do Departamento de Enfermagem do campus de Lagarto.

Além de avaliar os benefícios da cannabis no tratamento de doenças neurodegenerativas, o Laboratório de Neurobiologia da UFS se prepara para iniciar análises pré-clínicas de compostos para tratar lesões na pele, em parceria com o Ambulatório de Cicatrização do Departamento de Enfermagem do campus de Lagarto.

Katty Anne planeja pesquisas com cannabis para tratar feridas. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Comercialização de produtos

Recentemente a Justiça Federal em Sergipe autorizou a ONG Salvar a fazer o cultivo e produção da cannabis sativa pra fins exclusivamente medicinais.

A decisão judicial é considerada inédita no país, pois permite, pela primeira vez, a comercialização da flor da planta.

Com isso, de acordo o presidente da associação que reúne cerca de 200 pacientes, Paulo Reis, será possível firmar parcerias com universidades e institutos de pesquisas para o melhoramento dos produtos derivados da cannabis.

Já iniciamos o diálogo com a UFS para um convênio na perspectiva de garantir tanto o monitoramento da qualidade dos produtos, bem como a padronização dessa produção, já que vamos poder produzir desde pomadas até sprays”, ressalta o presidente.
 


Josafá Neto

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