A variante delta do coronavírus está por trás do atual recorde de mortes na Rússia e foi a responsável por novos picos da covid-19 nos Estados Unidos, Reino Unido e Israel, entre outros lugares, além de causar situação de calamidade sanitária na Índia.
No Brasil, a cepa chegou, espalhou-se e pouco mudou no cenário.
Havia temor na comunidade científica de que a delta ocasionasse no país uma explosão de casos e uma nova pressão no sistema de saúde, como foi visto em outros países.
Contudo, desde que a variante foi identificada no país, há 5 meses, a média de 7 dias de mortes por covid-19 no Brasil caiu 84%.
Nesse mesmo intervalo de tempo, as mortes haviam quintuplicado no Reino Unido e Israel, e crescido 50% nos EUA.
O site Poder360 considerou a data do anúncio oficial dos governos sobre o 1º caso da delta em cada país.
“Aqui no Brasil a delta entrou e dominou sem causar uma 3ª onda. Isso é muito curioso, escapa das previsões catastróficas que muitos fizeram. É um não impacto ou um impacto muito aquém do que qualquer um havia projetado”, afirma José Eduardo Levi, doutor em Microbiologia pela USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do Genov, projeto de vigilância genômica das variantes da covid-19 da Dasa, rede de saúde integrada.
Nos outros países, o aumento de mortes foi sentido de 2 a 3 meses depois da identificação da variante.
É o que mostra o gráfico abaixo nos EUA, Reino Unido e Israel. No Brasil, nada disso aconteceu.
A delta chegou aos EUA, ao Reino Unido e a Israel quando esses países tinham cobertura vacinal semelhante (ou superior) à brasileira.
Ou seja, a vacina não foi a única responsável pela diferença no impacto da delta no Brasil.
Um exemplo: a população mais vulnerável à delta, os idosos, estava mais vacinada no Brasil que em outras nações no momento em que a variante tornou-se dominante.
Em países como o Reino Unido, há resistência à vacinação. Eles ainda tinham gente dos grupos vulneráveis sem vacinar. E aí, como ela se disseminava muito rapidamente, essa população foi atingida.
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Cientistas consideram pouco provável que um repique da delta ainda aconteça no Brasil, mas dizem que, como o país está “no escuro” em relação a dados, tudo é possível.
A rede genômica internacional mostrou cerca de 30 dias para a delta ter se tornado dominante no Reino Unido, 70 dias nos EUA e 80 no Brasil.
Em tese, a cepa teve ciclo mais lento no país. Só que o sequenciamento de variantes dos britânicos é considerado exemplar.
Apesar da precariedade dos dados genômicos brasileiros, há, porém, um consenso de que em cidades nas quais essa identificação é melhor (como São Paulo, Rio e Curitiba), um efeito maior da delta já poderia ter sido sentido.
Tirando altas pontuais nos casos e, rapidamente, em hospitalizações, não houve no Brasil impacto semelhante ao de outros países.
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O Brasil tem hoje a taxa de transmissão e a média de mortes no menor patamar desde abril de 2020.
Se nenhuma catástrofe (como o surgimento de novas variantes) acontecer, o fim do ano deve se aproximar da normalidade.
Com informações do Poder360