Saúde

Edição: Hugo Julião
18:43
09/01/2021

Em quase um mês, EUA só usou 27% das vacinas disponíveis; veja por quê

Quando a primeira pessoa recebeu a vacina contra a Covid-19 nos Estados Unidos, em 14 de dezembro, o plano do governo federal era imunizar 20 milhões de pessoas até o fim de 2020.

Quase um mês depois, 21,4 milhões de doses foram enviadas a hospitais e departamentos de saúde ao redor do país, mas somente 5,9 milhões pessoas já foram vacinadas.

Os dados são do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, agência de pesquisa em saúde pública ligada ao Departamento de Saúde).



Atrasos e problemas de logística fazem com que milhões de doses corram o risco de expirar antes de serem distribuídas.

Apesar de o volume disponível até agora ser limitado, especialistas afirmam que o problema principal não é escassez, e sim dificuldades de distribuição.

Em 14 de dezembro, enfermeira Sandra Lindsay virou notícia como a primeira pessoa nos Estados Unidos a receber a vacina contra a covid-19 (Pool/Reuters)

O governo federal diz que a responsabilidade de distribuir a vacina é de cada Estado.

Mas autoridades estaduais e locais reclamam que precisam de mais apoio e não têm estrutura, mão de obra ou recursos financeiros para desempenhar a tarefa, especialmente quando já estão sobrecarregadas com casos e hospitalizações por covid-19.

 

As condições especiais de refrigeração exigidas para preservar as vacinas também representam um desafio.

"Fazer a vacina chegar do fabricante até os Estados, isso está andando", diz o especialista em doenças infecciosas e preparação para pandemias Amesh Adalja, do Centro para Segurança de Saúde da Universidade Johns Hopkins.

"Mas os Estados não estão conseguindo vacinar, colocar a agulha no braço das pessoas, de maneira rápida o suficiente", afirma.
Há relatos de Estados convocando trabalhadores médicos aposentados, dentistas e veterinários para ajudar a aplicar as vacinas (Getty Images)

O ritmo mais lento do que o esperado no que é considerada a maior campanha de vacinação na história dos Estados Unidos vem provocando frustração.

Nesta fase inicial, os grupos prioritários para receber a vacina são trabalhadores do setor de saúde e residentes e funcionários de lares de idosos.

Mas há casos ao redor do país de hospitais e locais de vacinação que tiveram de oferecer doses a pessoas aleatórias, fora dos grupos prioritários, em um esforço de última hora para evitar que vacinas acabassem no lixo.


Em um hospital na Califórnia, funcionários tiveram de correr contra o tempo depois de problemas no freezer onde as vacinas estavam armazenadas.

Como todas as doses iriam estragar em duas horas, eles improvisaram locais de vacinação e recrutaram voluntários médicos para distribuir as vacinas a quem quisesse ser imunizado.

Um caso semelhante foi registrado em Kentucky.

Na capital do país, Washington, um jovem relatou em um vídeo que viralizou no TikTok sua experiência ao ser abordado, ao lado de um amigo, pela funcionária de uma farmácia localizada em um supermercado.

Segundo ele, a funcionária disse que iria fechar em poucos minutos e tinha duas doses de vacina que iriam para o lixo caso não fossem aplicadas imediatamente, já que não poderiam ser preservadas em temperatura ambiente.

As doses estavam reservadas originalmente para trabalhadores do setor de saúde que não compareceram ao local.

Diante dos atrasos, muitos governadores vêm pressionando hospitais a acelerarem a distribuição das vacinas (Getty Images)

Diante dos atrasos, muitos governadores vêm pressionando hospitais a acelerarem a distribuição das vacinas.

"Uma porção significativa das vacinas no Texas está parada em prateleiras de hospitais, em vez de ser distribuída a texanos vulneráveis", tuitou no fim do ano o governador Greg Abbott.


Em Maryland, dados do início da semana indicavam que somente 34% das 163 mil doses enviadas a hospitais haviam sido usadas.

O governador Larry Hogan ameaçou remover doses de hospitais que estão demorando demais na aplicação das vacinas e redirecioná-las para outros locais.

No Estado de Nova York, o governador Andrew Cuomo ameaçou com multa de até US$ 100 mil (cerca de R$ 540 mil) os hospitais que não distribuíssem suas doses até o fim da semana.

Enquanto Cuomo pressionava hospitais e municípios, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, apelava para que o Estado ampliasse a vacinação para além dos grupos prioritários, passando a incluir qualquer pessoa com 75 anos ou mais e trabalhadores essenciais.

Apesar da orientação federal sobre grupos prioritários, os Estados têm autonomia para decidir seus planos de imunização, e alguns já estão ampliando a distribuição.

A Flórida foi um dos que começaram a oferecer a vacina a todos com mais de 65 anos e a pessoas de qualquer idade com comorbidades, mas o esforço tem enfrentado problemas.

Nesta semana, circularam pelo país imagens de idosos acampados em longas filas no Estado, esperando por horas e noite adentro, na rua, por uma chance de serem imunizados.

Em Vários Estados há registros de altos índices de rejeição por parte daqueles que já têm acesso garantido à vacina.

Nesta semana, o governador de Ohio lamentou que 60% dos funcionários de lares de idosos no Estado, incluídos no grupo prioritário, se recusaram a receber a vacina.

Em Nova York, calcula-se que esse número seja de 30%.

Os Estados Unidos não são o único país a enfrentar um início caótico em seu esforço de vacinação contra a covid-19.

França, Espanha, Itália, Grécia, Holanda e Polônia registraram vários problemas, desde atrasos até falta de treinamento para equipes médicas e escassez de seringas.

Mas o desafio nos Estados Unidos é agravado por um sistema de saúde sobrecarregado e uma campanha fragmentada. Como cada Estado pode definir seus planos de imunização, há grandes disparidades.


Há relatos de Estados convocando trabalhadores médicos aposentados, dentistas e veterinários para ajudar a aplicar as vacinas.

O desafio é complexo. Segundo o CDC, o número total de mortes poderá ultrapassar 430 mil até o fim de janeiro.

"Não importa quem esteja no comando, será um processo difícil vacinar basicamente a população adulta inteira dos Estados Unidos, com uma nova vacina, e fazer isso rapidamente", afirma a especialista em doenças infecciosas, Amesh Adalja, do Centro para Segurança de Saúde da Universidade Johns Hopkins.


Com informações da BBC News

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