09/05/2021 03:39

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Karen Marins, de 31 anos, trabalhava no Cafe de La Musique, em Florianópolis, em 15 de dezembro de 2018, data em que a influenciadora digital Mariana Ferrer declarou ter sido dopada e estuprada por André Aranha dentro do estabelecimento.

A paulista formada em moda e estudante de Direito se viu envolvida no caso como testemunha e, a partir daí, passou por uma série de adversidades: precisou participar de várias audiências, teve depressão e foi acusada por Mariana de integrar uma quadrilha de venda de mulheres virgens para homens ricos.

Após meses de investigação, a Justiça inocentou André Aranha das acusações, em primeira instância, por falta de provas.

Mariana Ferrer e André Aranha (Foto: Reprodução / Redes Sociais)

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Mariana sustenta que teria havido um complô que envolvia o Cafe de La Musique, pessoas que trabalhavam no estabelecimento, a Polícia Civil, peritos que atuaram no caso, promotor de justiça, o juiz responsável pela ação e até mesmo suas próprias amigas para favorecer a inocência do réu.

Mas ela nunca apresentou provas que comprovassem suas alegações.

O caso, entretanto, tornou-se ainda mais polêmico após a publicação de uma matéria, pelo The Intercept Brasil, na qual foi citado falsamente que Aranha foi absolvido porque a Justiça considerou que ele cometeu um “estupro culposo” – tipo penal que não existe na legislação brasileira.

(Reprodução/The Intercept_Brasil)

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Posteriormente, uma decisão judicial determinou que o veículo retificasse a informação e esclarecesse que não houve menção ao termo na sentença, nas alegações finais e em nenhum outro momento do processo.

O The Intercept também foi obrigado judicialmente a revelar que manipulou o vídeo da audiência realizada em julho de 2020 na tentativa de mostrar que houve injustiças durante a audiência.

Dámaris Nunis e Karen Marins mantêm o perfil Manas e Manos, dedicado a “lutar contra falsas denúncias e injustiças” (Reprodução/Instagram)

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Vítima de abuso sexual na infância, Karen usou a revolta com o caso para criar o perfil Manas e Manos, no Instagram, que tem como lema “justiça para todos, independentemente de gênero”.

Em 16 de janeiro deste ano, a catarinense Dámaris Nunis, de 23 anos, formada em Direito, se juntou ao projeto e hoje as duas se dedicam a lutar contra o que consideram falsas denúncias e a defender as “verdadeiras vítimas”.

O trabalho delas consiste em pesquisar a fundo denúncias de ampla repercussão e oferecer ajuda jurídica para as vítimas.

Ao encontrar o que consideram ser inconsistências nas denúncias, elas passam a apresentar a seus seguidores o outro lado da história.

Para elas, a radicalização do feminismo tem feito com que um grande número de denúncias inverídicas ganhem força com a ajuda das redes sociais; o resultado seria um “tribunal da internet”, que frequentemente tem condenado previamente e destruído reputações.

 

Veja abaixo trechos da entrevista das mantenedoras do perfil Manas e Manos:

A entrevista completa você confere na Gazeta do Povo

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Qual é a visão política de vocês?

Karen Marins: Eu não me considero nada, prefiro não me rotular. Posso fazer o bem apenas sendo um ser humano que quer fazer o bem. Diria que não sou antifeminista – eu sou contra o radicalismo feminista.

Muitas pessoas estão perdidas porque não sabem o que é o feminismo. Eu comecei a estudar o feminismo quando eu precisei dele para mostrar que uma pessoa estava brincando com um caso de estupro, que é uma coisa muito séria. E o que eu recebi foi xingamento e linchamento.

Então o movimento que é pra ser coletivo, para todas as mulheres, se tornou um movimento seletivo. Elas escolhem quem querem apoiar e quem não querem.

Dámaris Nunis: Eu era “esquerdissíssima” até tudo isso acontecer. Agora já não sei mais o que sou. Estou tentando descobrir. Eu era feminista, esquerdista, acreditava em tudo o que eu não acredito mais.

 

Até onde vão as consequências para as vítimas do “tribunal da internet” quanto às falsas denúncias de crimes, especialmente quando se trata de abusos sexuais?

Karen Marins: Pode chegar à destruição da pessoa, à morte.

Dámaris Nunis: E desacredita a própria Justiça. Porque as pessoas deixam de recorrer à Justiça como o melhor meio de resolver as coisas. Isso cabe ao juiz, que tem todas as provas para analisar tudo.

No "tribunal da internet" você nunca vai saber o que está acontecendo do outro lado, você nunca vai ter a verdade.

 

Na avaliação de vocês, para onde o feminismo está caminhando?

Karen Marins: Quanto ao feminismo eu só vejo um rumo: o ódio literal aos homens, o sexismo mesmo. Eu acho surreais certas coisas que escuto e leio de mulheres. Para que esse ódio?

A mulher pode ter tido uma frustração – se relacionou com um homem que a traiu, que foi canalha, ou passou por uma situação de abuso. Mas ela não precisa ter ódio de todos os homens. É justo ela ter ódio do homem que a fez mal, mas colocar todos os homens no mesmo saco não é certo.

Se eu fosse igualar todos os homens à pessoa que abusou de mim, hoje eu seria lésbica certamente. Não posso ficar colocando no mesmo saco qualquer homem como estuprador ou como agressor. Não é assim. Não dá.

Dámaris Nunis: Quando tudo aconteceu no caso Mariana Ferrer, eu comecei a ver melhor as coisas. Comecei a pesquisar muito sobre como funciona de fato o feminismo e passei a ficar bastante revoltada.

Fizemos a thread (uma espécie de linha de discussão a partir de um ponto) sobre o caso. Ali tinha documentos que a gente postou que não tinha em lugar nenhum. E aí comecei a me tocar que muitas pessoas não querem que a verdade apareça. Elas querem que a mulher seja vítima e pronto.

Eu postei mais de 70 fotos, documentos, várias provas que não tinha mais o que falar e mesmo assim não adiantou. A thread chegou a mais de dois milhões de impressões e mesmo assim não foi para lugar nenhum.

No caso da Mariana Ferrer, houve esse “efeito manada”, com vários perfis influentes compartilhando o “estupro culposo” a partir da matéria do The Intercept Brasil e induzindo muitas pessoas a uma narrativa manipulada. 

A imprensa muitas vezes também contribui para esse tipo de situação. No caso da Mariana, eu enviei para vários veículos feministas a sentença, enviei tudo, eles não publicaram nada.

A thread foi postada antes de sair a matéria do “estupro culposo” no The Intercept Brasil. Antes de postá-la, fui procurar muitos desses veículos para colocar na mídia, mas ninguém queria falar sobre isso.

Teve jornalista que pediu para eu enviar tudo, mas depois de um tempo a pessoa desconversou. Alguém internamente não deixou levar o assunto pra frente. Parece que todos caminham para o mesmo sentido.

Karen Marins: O que o The Intercept Brasil fez foi criminoso.

A jornalista manipulou todos aqueles trechos e eles jogaram na internet. Destruíram a vida de muita gente. A vida deles nunca vai ser a mesma.

O André Aranha, por exemplo, perdeu trabalho, perdeu clientes. Teve que gastar muito dinheiro para se defender, para arrumar um bom advogado. Ainda mais no caso dele, que era um caso de estupro.

Ela destruiu a vida de juiz, de promotor. O rosto deles foi publicado em tudo quanto é lugar falando que estavam comprados. Não dá para não citar isso, a vida deles foi destruída.

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