Intelectuais franceses lamentaram nesta quinta-feira (14) a rejeição, pelo presidente francês Emmanuel Macron, do pedido de entrada de Arthur Rimbaud no Panthéon, alegando respeito à vontade dos descendentes do poeta.
A honraria, segundo seus defensores, levaria mais diversidade e representatividade para o Panthéon.
Na carta, Macron não menciona a questão do reconhecimento da homofobia.
O presidente francês é o único que pode decidir quem entra no mausoléu, onde estão enterradas personalidades que se destacaram em diversas áreas e contribuíram para a ciência, literatura e política na França.
O poeta Arthur Rimbaud, aos 17 anos, em foto de Étienne Carjat, tirada provavelmente em 1871 (Wikipédia)
Uma petição pedindo a entrada no Panthéon do poeta e seu amante Paul Verlaine foi assinada por quase todos os ex-ministros da Cultura franceses e pela atual, Roselyne Bachelot.
“São dois poetas maiores de nossa língua” e “dois símbolos da diversidade. Eles tiveram de enfrentar a homofobia implacável de sua época.
Eles são os Oscar Wilde franceses. Seria justo celebrar hoje sua memória”, diz a petição que foi assinada por escritores célebres, intelectuais, acadêmicos e universitários.
Em setembro a sobrinha bisneta de Rimbaud, Jacqueline Teissier-Rimbaud, se opôs à homenagem, criticando o destaque dado à relação dos escritores, uma posição que é compartilhada pela associação Os amigos de Rimbaud.
Segundo ela, se os poetas fizerem sua entrada juntos no Panthéon, “todo mundo vai pensar ‘homossexuais’.
Mas não é verdade. Rimbaud não começou sua vida com Verlaine e não terminou com ele, são apenas alguns anos de sua juventude”, diz. Jacqueline também afirma que seu ponto de vista é compartilhado pelo filho e netos.
Arthur Rimbaud nasceu em Charleville, na fronteira da França com a Bélgica, em 1854.
Apesar de ter abandonado a literatura ainda jovem, aos 20 anos, sua obra é considerada uma das mais importantes da literatura francesa.
Durante os anos da juventude, Rimbaud vive um romance com o escritor francês Paul Verlaine.
A história de amor foi, inclusive, tema do filme "Eclipse de uma Paixão" (1995), com o ator Leonardo DiCaprio no papel de Rimbaud.
A ministra da Cultura de França, Roselyne Bachelot destacou a importância do reconhecimento da homossexualidade do poeta.
“A hora de um novo Panthéon, mais próximo dos franceses, mais representativo, chegará inexoravelmente”.
A questão da representatividade no mausoléu é levantada também por grupos feministas.
Em outubro, dezenas de membros de associações de luta pelo aborto e pelos direitos das mulheres fizeram uma manifestação para pedir a entrada, no célebre monumento, da advogada, deputada e feminista Gisèle Halimi, que faleceu em julho aos 93 anos.
Entre as 78 personalidades enterradas no Panthéon, apenas 5 são mulheres.
Fonte: RFI