15/11/2021 10:01

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Em artigo publicado na edição nº 78 da revista Journal of Environmental Psychology, pesquisadores mostram que mais de um terço das crianças nos Estados Unidos não sabem como embutidos e carnes ultraprocessadas chegam até seu prato.

Ao serem questionadas sobre a procedência desse tipo de alimento, elas afirmaram serem produtos de origem vegetal.

Foto: Ball Park Brand/Unsplash

O estudo conduzido pela Universidade de Furman contou com a participação de 176 voluntários de 4 a 7 anos que moram em uma região metropolitana do sudeste norte-americano e pertencem a diversas classes sociais.

Elas realizaram duas tarefas: identificar a origem das comidas (vegetal ou animal) e classificá-las como comestíveis ou não.

Pelo menos 30% dos pequenos acreditam que queijo, bacon, hot dog, nuggets, camarão e hambúrguer são derivados de plantas.

Especificamente quanto às carnes, as porcentagens variaram entre 36% e 41%.

Na nossa amostra, crianças de 4 e 5 anos falharam consistentemente em identificar com precisão a procedência de alimentos de origem animal”, observam os pesquisadores no artigo.

No geral, aquelas de 6 e 7 anos tiveram um desempenho melhor.

Mas os especialistas destacam uma exceção: a classificação das batatas fritas.

Isso porque quase metade dos participantes (47%) pensa que esse alimento provém de animais.

O artigo apresenta duas possíveis explicações para o desconhecimento infantil quanto à fonte de comidas comuns.

A primeira está relacionada à baixa exposição das crianças à forma como os alimentos são cultivados.

Essa hipótese é sustentada por dados do Departamento de Agricultura, segundo os quais o número de crianças vivendo em fazendas nos EUA diminuiu, e pelas escolas, que ensinam o que comer, mas não de onde vem o ingrediente.

Em estudo dos EUA, mais de um terço das crianças pensa que hot dog e nuggets são vegetais (Foto: CDC/Unsplash)

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A segunda proposta consiste no comportamento dos pais, que nem sempre estão dispostos a ter uma conversa honesta sobre como os produtos animais são obtidos.

Os responsáveis podem deliberadamente reter informações sobre o abate de animais em uma tentativa de preservar a inocência das crianças”, dizem os pesquisadores.

Os especialistas também resgatam o "paradoxo da carne”:

"embora os adultos tenham consciência do sofrimento animal e eventualmente sintam que o processo é antiético, eles racionalizam o ato de comer carne como natural, necessário ou bom".

Foto: Joshua Rappeneker via Flickr

Na etapa destinada a separar os produtos entre comestíveis e não comestíveis, o grupo mais velho também se saiu melhor e realizou a tarefa de maneira adequada para a cultura dos Estados Unidos.

As opções incluíam animais não consumidos tipicamente (gato, cavalo, macaco, cachorro e lagarta) e os ingeridos com frequência (vaca, porco, frango e peixe), além de produtos como tomate e laranja e itens como sujeira, grama e areia.

Apesar do bom resultado, os pesquisadores chamam atenção para o fato de que muitos dessa faixa etária indicaram não ser aceitável comer vacas, porcos e frangos — assim como as mais novas, que, em 85% dos casos considerados errados de acordo com hábitos norte-americanos, classificaram alimentos de origem animal como não comestíveis.

É importante ressaltar que nem mesmo as crianças de 6 e 7 anos compreenderam totalmente o conceito de animais como alimento.

A vaca e o porco foram classificados incorretamente como ‘impróprios para comer’ em um nível maior do que seria previsto”, analisam os cientistas.

Assim, eles creem que as crianças consomem carne sem saber, o que talvez viole a rejeição delas à ideia de tratar animais como comida.

Uma interpretação é que o valor atribuído à vida dos animais começa alto, mas depois diminui à medida que são adquiridas crenças sociais que priorizam humanos e minimizam a posição dos não humanos”, afirmam.

Foto: magazine.net

Diante disso, os pesquisadores defendem que a infância representa uma oportunidade de implementar dietas baseadas em plantas mais facilmente, lembrando que os hábitos alimentares influenciam a pegada de carbono e, portanto, são importantes no combate à crise climática.

Acreditamos que abordar os comportamentos alimentares das crianças pode ser mais eficaz em comparação com as tentativas de modificar dietas bem estabelecidas de adultos”, escrevem no artigo.

Os especialistas caracterizam as crianças como “agentes da mudança na crise climática”, mas alertam que isso só pode acontecer caso elas entendam, de fato, os processos de obtenção de carnes.

Com informações da Galileu

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