A gravidez indesejada põe a mulher em uma condição de extremo conflito, em uma situação limite. A questão que se coloca é se, nesse caso, a mulher está totalmente livre para decidir se o feto deve viver ou morrer.
Nós entendemos que há limites ético-morais de primeira ordem quanto a esta decisão, pois está em jogo o bem maior, que é a vida. Não se trata apenas do corpo da mulher.
Catarina Rochamonte é doutora em filosofia, autora do livro 'Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais' e presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN)
Para muitas feministas o aborto não é mais sequer uma questão difícil ou um dilema moral; tornou-se uma bandeira tremulante.
A recente legalização do aborto na Argentina foi destacada por quase toda a mídia e por quase todos os partidos de esquerda como uma decisão formidável.
A militância comemorou e a mídia progressista enalteceu o direito de matar como uma conquista, numa demonstração assustadora da inversão de valores promovida pelo materialismo mais deletério.
Felizmente, há exceções na esquerda quanto a essa bandeira. Norberto Bobbio, por exemplo, aponta quão paradoxal é a posição esquerdista frente a essa polêmica:
“O problema mais embaraçoso é o do aborto”, afirma Bobbio no livro “Direita e Esquerda – Razões e Significados de uma Distinção Política”:
“Geralmente a refutação do aborto faz parte dos programas políticos da direita. A esquerda é preponderantemente abortista. Fizeram-me observar que esta posição parece contrastar uma das definições mais comuns da esquerda, segundo a qual ser de esquerda significa estar do lado dos mais fracos. Na relação entre a mãe e o nascituro quem é o mais fraco? não seria o segundo?”
Sem dúvida o mais fraco é o segundo. O feto é a mais frágil, indefesa e inocente de todas as criaturas.
Temos tentado apontar para um ponto de equilíbrio capaz de reunir o que há de melhor na esquerda e na direita.
A defesa do aborto, porém, é o que pode haver de pior em qualquer ideologia, doutrina ou programa partidário.
Legalizar o aborto não é progresso: é sintoma de decadência moral; é involução civilizatória.
Fonte: Folha de S.Paulo