07/12/2020 14:44

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Na onda do home office forçado pela pandemia, companhias áreas, resorts e outras empresas ligadas ao setor de turismo têm se beneficiado de uma tendência que até já ganhou nome: o "anywhere office".

Com muitas empresas ainda em trabalho remoto, basta uma conexão à internet para que a paisagem da Avenida Faria Lima ou da Berrini, em São Paulo, seja trocada por uma da praia ou da montanha, até mesmo fora do país.

Com a vantagem extra de também poder deixar o confinamento em casa ou apartamento.



"Há famílias que conseguem flexibilizar o trabalho e podem passar dias em um resort, hotel ou cidade do interior", disse o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.

Ele próprio chegou a trocar por alguns dias o concreto de São Paulo pela vista do mar de um apartamento em Santos. "A virtualização permite isso."

(Getty Images)

Em novembro, o mercado brasileiro operou, na média, com o equivalente a 60% do número de voos de um ano antes, segundo a Abear.

Em cidades como Salvador, entretanto, o aeroporto local tinha a expectativa de fechar o mês com 81% de retomada da malha.

Outro indicativo de que o "anywhere office" está aquecido vem do crescimento na demanda dos provedores de acesso à nuvem, base para se viabilizar o trabalho remoto.

Alan Yukio Oka, responsável por Cloud Product and Marketing da BRLink, disse que as empresas acabaram acelerando a migração de cargas de trabalho para a nuvem na pandemia.

"Uma vez que os sistemas podem estar na nuvem e acessíveis de qualquer lugar do mundo, existe uma potencialização do conceito de anywhere office."

Silva e Giuliana, com a filha Victoria (Foto: Giuliana Pierri)

A preocupação com a filha Victoria, de oito anos, foi o que motivou Giuliana Pierri, 44, e seu marido, Sandro Gabrielli da Silva, 45, a buscar essa alternativa.

"Ficamos uns três meses completamente isolados e fazendo até supermercado pela internet. Em um determinado momento, comecei a pensar em alternativas", relatou ela.

Desde então, Pierri, que atua na área de marketing digital e produção de conteúdo, e Silva, diretor financeiro em uma empresa farmacêutica, já alugaram três casas em que os dois trabalharam remotamente.

A mais recente empreitada foi em resorts. "Meu marido tirou férias, mas continuei trabalhando normalmente", disse ela.

As instalações ofereceram atividades para as crianças e Victoria conseguiu fazer as provas escolares.

O presidente da Azul, John Rodgerson, no lançamento da Azul Conecta, no Aeroporto de Jundiaí 

Apostando no aumento da demanda, a Azul Conecta, braço de aviação regional da Azul, anunciou nove destinos inéditos durante a temporada de verão, entre eles Ubatuba (SP), Paraty (RJ), Guarapari (ES) e Jericoacoara (CE).

Os voos decolam de áreas metropolitanas como Porto Alegre, Santos Dumont (RJ) e Congonhas (SP).

A própria empresa afirmou que os destinos - comuns em roteiros de férias - se mostraram interessantes para o home office.

Somadas, as rotas contarão com 38 voos diários.


A advogada Ana Carolina Monteiro, da área de reestruturação e insolvência do Kincaid, Mendes Vianna Advogados, atribui parte da recuperação da atividade de empresas do setor aéreo a essa migração dos escritórios.

"O turismo ligado ao anywhere office está proporcionando um impulso essencial para ajudar a sustentar muitos destinos turísticos e empresas na retomada da pandemia".

Destino de parte dos brasileiros que trocaram a residência pelo "anywhere office", os resorts passaram a oferecer serviços para que as crianças pudessem se divertir e estudar ao mesmo tempo, enquanto os pais se mantinham conectados no trabalho.

O Costão do Santinho, em Florianópolis (SC), teve a ideia de contratar pedagogos para dar reforço escolar.

Costão do Santinho, em Florianópolis (SC)

"Montamos uma sala de aula para as crianças e o espaço está sendo bastante usado, com pedagogos dando apoio", disse Rubens Regis, diretor comercial do resort.

"As crianças se sentam, fazem a aula e estão sempre acompanhadas, enquanto os pais aproveitam o espaço."

O Costão teve R$ 50 milhões em prejuízo entre março e novembro, ao deixar de promover 104 eventos.

O grupo se mexeu e investiu R$ 6,5 milhões em uma estrutura desmontável para eventos externos, que já tem procura para no ano que vem.

Na mesma direção, o Infinity Blue Resort & Spa, em Balneário Camboriú (SC), viu no "resort office" a oportunidade de alavancar a receita.

O estabelecimento ficou fechado entre os dias 25 de março e 1.º de julho.

"Estamos em um período de retomada no turismo", afirmou Juliana Campeoto, gerente comercial da empresa.

Infinity Blue Resort & Spa, em Balneário Camboriú (SC)

A empresa aproveitou a pandemia para fazer uma migração para o segmento de luxo.

Hoje, o resort opera com 53% da capacidade de antes, porcentual que será mantido diante da ampliação de alguns apartamentos, por exemplo.

"A demanda está boa. Para o Natal e fim do ano, a lotação está esgotada", disse. 

Com informações do Estadão Conteúdo

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