Os ventos desfavoráveis à globalização, que percorrem o mundo desde a crise financeira de 2008 e ganharam força com a pandemia, intensificam-se com a guerra na Ucrânia.
Com as retaliações comerciais impostas a Moscou, os países ocidentais estão sendo levados a reduzir sua dependência da energia e das matérias-primas russas.
Além disso, o eventual apoio chinês aos russos também pode acirrar a rivalidade com o Ocidente. A consequência é um crescente risco ao comércio e à integração internacional.
Ian Bremmer, fundador da consultoria de risco político Eurasia Group, afirma:
“A economia russa, que é muito importante em termos de commodities que são chave, como óleo e gás, será desvinculada do restante do Ocidente.
Não há como reconstruir as relações econômicas quando o presidente dos EUA chama Vladimir Putin de criminoso de guerra”.
Os efeitos do conflito na integração global já se apresentam na forçada diversificação energética europeia e no aumento do preço do níquel.
Isso pode desacelerar a produção de carros elétricos, segundo o jornal The New York Times.
Esses efeitos também estão presentes na busca do agronegócio brasileiro por novos exportadores de fertilizantes e na possível piora na crise de produção de semicondutores.
A especialista em comércio internacional e professora adjunta de Direito Internacional da American University, Renata Amaral, analisa:
“Toda a cadeia de produção, distribuição de produtos e logística, toda essa geografia de comércio será afetada.
Estamos presenciando um princípio de fim da globalização como conhecemos”.
“Como o Brasil vai continuar se dando bem com EUA, Rússia e China? A questão de escolha de lado vai ficar muito mais evidente daqui para a frente, e isso vai se refletir nas decisões de investimento futuro das empresas”.
Getty Images
A adoção de sanções econômicas pelos americanos e europeus causou uma leva de fechamento de empresas ocidentais na Rússia.
Segundo a escola de administração de Yale, pelo menos 400 companhias interromperam completamente as operações na país desde o início da guerra.
O mais emblemático fechamento de portas foi o da rede americana McDonald’s, um símbolo ocidental que atraiu multidões em 1990 quando abriu as portas em plena União Soviética.
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A dependência europeia do gás russo como fonte de energia foi escancarada durante a escalada de tensão regional.
A promessa da Comissão Europeia é reduzir em dois terços o uso de energia proveniente da Rússia até o fim deste ano e cortar por completo a dependência “bem antes” de 2030.
Entre as medidas está o aumento imediato de importação de gás natural de países como os EUA.
Placa do antigo banco americano Lehman Brothers, cuja quebra foi o estopim para a crise financeira global em 2008 // Foto: Andrew Winning/Reuters
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A tendência de desglobalização ou “slowbalization”, a diminuição no ritmo da integração econômica internacional, é observada por analistas desde a crise de 2008.
A pandemia de covid-19 acelerou esse processo quando a quebra na cadeia de produção imposta pelo fechamento de fábricas expôs fragilidades mundiais.
Países adotaram a autoproteção, caso dos EUA, que invocaram leis de defesa nacional para manter em território nacional a produção de respiradores.
Enquanto isso, o mundo se dava conta de que a China era a produtora de mais de 40% dos equipamentos médicos de proteção individual de todo o mundo.
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Para os especialistas, o posicionamento da China ditará o futuro da dinâmica comercial global.
“Putin pode se tornar um pária internacional, mas ainda fará negociações com a China, com o Brasil e com nações em desenvolvimento.
A grande questão é se a Guerra Fria com a Rússia irá desencadear uma Guerra Fria com Rússia e China”, afirma Ian Bremmer, da Eurasia Group.
“Se os chineses seguirem com apoio à Rússia, aí estaremos em um cenário de precipitação da fragmentação da economia global. E de possível desglobalização.”
Com informações do Estadão