As negociações de carros usados tiveram um boom neste ano, ocupando espaço dos modelos novos que sumiram das lojas em razão da falta de chip para a produção.
Com demanda em alta, há uma escalada de preços que não se via desde o Plano Cruzado (nos anos 1980).
Há modelos com valorização de mais de 20% em um ano. Num mercado normal, o automóvel perde entre 15% a 20% do seu valor depois de um ano de uso.
Veículos zero acumulam alta de quase 10% nos 12 meses encerrados em agosto, enquanto os usados subiram mais de 12%
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Embora o segmento também já registre falta de produtos, as vendas até agosto são recordes, com 7,59 milhões de automóveis e comerciais leves.
O número é quase 50% superior ao de 2020, um dos anos mais fracos para o setor por causa da pandemia, mas também cerca de 7% acima dos mais de 7 milhões de usados vendidos em igual período de 2019 — até então o melhor resultado da história, segundo a Fenabrave, que representa as concessionárias.
A relação entre a venda de carros usados e novos também está no ponto máximo da série histórica realizada desde julho de 2004 pelo Bradesco, que trabalha com dados dessazonalizados.
Para cada automóvel zero vendido no ano, foram comercializados 6,5 usados. O maior nível anterior tinha sido verificado na crise de 2015 e 2016, quando ficou em 5,5.
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Os preços dos carros novos também aumentaram ao longo do ano, mas abaixo dos usados.
Segundo o IPCA, índice que mede a inflação dos preços ao consumidor, veículos zero acumulam alta de quase 10% nos 12 meses encerrados em agosto, enquanto os usados subiram mais de 12%.
O vice-presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, diz acreditar que o mercado de usados deve encerrar o ano com mais de 11 milhões de veículos vendidos, confirmando assim o melhor resultado da história do segmento.
Para os novos, diz ele, é difícil fazer previsões porque vai depender da capacidade das montadoras de entregar carros para as revendas.
A previsão do mercado é de que a falta de semicondutores deve se manter pelo menos até meados de 2022.
Mais focadas em modelos novos, concessionárias também correm atrás de usados em portais e oferecem preços mais atraentes aos proprietários.
Antes da pandemia, o mais comum era receber o usado na troca pelo novo e repassá-lo a lojistas do ramo.
Agora, a maioria das revendas busca carros seminovos (com até três anos de uso) para alavancar os negócios. Há, inclusive, grupos abrindo lojas exclusivas para vender usados.
Vender um carro usado por um ano e com preço melhor do que aquele pago na compra é algo inédito num momento de estabilidade econômica.
“Vi isso só na época da hiperinflação”, afirma Eduardo Jurcevic, presidente da Webmotors, maior plataforma de compra e venda de carros do País.
Modelos de grande procura, como Volkswagen T-Cross e Gol, tiveram em um ano valorização de 27% e 24%, respectivamente, conforme dados da KBB Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos.
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Para Ana Renata Navas, diretora-geral da Cox Automotive do Brasil, dona da KBB, a alta procura por carros usados – e a consequente valorização dos preços – se deve, em parte, à pronta entrega que o segmento oferece ao consumidor.
Muitos modelos novos têm filas de espera de quatro a seis meses.
Outro ingrediente, diz ela, é que a falta de carros novos reduz também a oferta de usados, pois normalmente eles compõem o pagamento do zero.
“Com menos veículos seminovos e usados disponíveis nos estoques das lojas, há mais pressão sobre os preços”, explica.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo/Estadão Conteúdo