Elogiado durante o pior momento da crise sanitária, governador de Nova York enfrenta agora investigações e pedidos de renúncia por encobrir a divulgação de dados sobre mortes de idosos em asilos
Manchetes em março de 2019 incensavam o prefeito: "Nova Iorque tem um novo herói, e o seu nome é Andrew Cuomo" (Mike Segar/Reuters)
Quando a pandemia castigou fortemente o estado de Nova York, no primeiro semestre do ano passado, o governador Andrew Cuomo foi incensado como o herói que manteve o pulso firme, sem perder a empatia, para mitigar seus efeitos.
Durante o confinamento, suas entrevistas diárias arrebataram a audiência, a ponto de ele ser encarado como um verdadeiro estadista, enquanto o então presidente Donald Trump naufragava na negação do potencial devastador do vírus.
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Menos de um ano depois, a estrela de Cuomo se apaga, diante de denúncias de que ele atrasou a divulgação de um relatório dando conta de que o número de mortos de idosos por Covid-19 em asilos passava de 15 mil -- longe dos 8.500 registrados pelo departamento de saúde do estado.
Durante a primeira onda da pandemia, com dez mil infectados por dia no estado, o governador viu sua popularidade crescer mais do que nos últimos dez anos no cargo.
Levou o crédito por reduzir o número de infectados, hospitalizações e mortos no estado. E publicou um livro fornecendo lições de liderança aprendidas na crise sanitária.
Os elogios, contudo, ficaram para trás. Ele é pressionado agora em várias frentes, incluindo os pedidos de renúncia.
O FBI investiga as decisões do governador democrata sobre os lares de idosos, assim como a procuradora-geral do estado, Letitia James, ao estimar que as subnotificações podem chegar a 50%.
De acordo com o relatório da Procuradoria, a contagem oficial do estado excluía os idosos que morreram em hospitais, após serem removidos dos asilos.
Os críticos deixam no ar a dúvida se Cuomo poderia ter feito mais para evitar os 46 mil mortos.
Legisladores democratas se juntam aos republicanos para votar a remoção dos poderes executivos concedidos ao governador durante a pandemia.
Restou a Cuomo tentar acalmar a rebelião em seu partido e na opinião pública, reconhecendo o erro por não fornecer em tempo hábil os dados corretos sobre as mortes em asilos.
Sem pedir desculpas, no entanto, ele negou ter maquiado os números: alegou que o vazio pela falta de informações “foi preenchido por ceticismo, cinismo e teorias da conspiração”.
A secretária do governador Melissa DeRosa foi a primeira mulher a ocupar esse cargo de poder, que oficialmente a classifica como número 1 na equipe de Cuomo (NYPost)
A situação do governador se agravou depois que Melissa DeRosa, uma de suas principais assessoras, admitiu a líderes democratas que o governo retardou a divulgação dos dados de lares de idosos justamente para evitar golpe político de Trump.
O teor da reunião, que era privada, vazou e foi divulgado pelo “New York Post”.
Na boa fase, com a popularidade de Cuomo em alta, parte dos democratas se perguntava se, aos 63 anos, ele seria melhor do que Joe Biden para disputar a Casa Branca.
Outra parte o via como candidato em 2024. O governador ainda tem muito chão pela frente para recuperar a imagem.
Fonte: Blog da Sandra Cohen/G1
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