Na quinta-feira (25), o governo da Coreia do Sul anunciou que planeja criar um comitê de aconselhamento para discutir uma possível proibição do consumo de carne de cachorro no país.
A comissão de 20 membros será composta por especialistas, membros de organizações privadas e autoridades do governo.
O Ministério da Agricultura sul-coreano informou que deverá chegar a um consenso sobre a questão até abril de 2022.
Por um lado, o projeto é exaltado por ativistas e donos de animais de estimação.
Por outro, os tradicionalistas alegam que a carne é uma receita típica sul-coreana e que as pessoas devem ser livres para consumi-la.
Fundação divulga o resgate de 57 cachorros de uma fazenda de carne canina em Hongseong, Coreia do Sul, e a chegada dos animais a San Francisco, na Califórnia (EUA). Os animais serão dados para adoção (Foto: Sammy Dallal/AP/Humane Society International)
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O tema entrou na agenda governamental depois que o presidente Moon Jae-in sugeriu, em setembro, que seria hora de impor uma proibição à venda e ao consumo da carne de cachorro.
Moon, que é um adorador de animais, disse que comer cães tem se tornado cada vez mais controverso na comunidade internacional. E isso não é recente.
Em 1988, por exemplo, o governo fechou todos os restaurantes que serviam carne de cachorro em Seul durante os Jogos Olímpicos, a fim de evitar uma imagem negativa da culinária local.
Presidente sul-coreano Moon Jae-in e primeira-dama Kim Jeong-sook brincam com cachorros em foto de 2018 (Foto: Cortesia/Presidência da Coreia do Sul)
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Ainda que a carne de cachorro faça parte da culinária coreana há séculos, sua popularidade tem caído drasticamente nos últimos anos.
Em 2019 foram contabilizados menos de cem restaurantes servindo cachorros em Seul, e a indústria relatou que as vendas tiveram queda de até 30% em um ano.
O maior abatedouro de cães do país, em Seongnam, fechou em 2018.
O último grande mercado de carne canina, na cidade de Daegu, fechou no início deste ano.
Todos os anos, porém, são criados até 1,5 milhão de cães para fins de alimentação em fazendas espalhadas pelo país.
A maioria é consumida nos meses quentes e úmidos do verão, em meio à crença de que comer carne de cachorro aumenta a resistência e a virilidade dos homens.
Cachorro que viraria comida na Coréia do Sul chega para ser adotado em San Francisco, na Califórnia (Foto: AP)
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Segundo uma pesquisa de opinião pública divulgada em 2020 pela ONG de defesa dos direitos dos animais Sociedade Humana Internacional (HSI), 84% dos coreanos não comem ou não querem comer cachorro, e 60% disseram apoiar uma proibição do comércio.
A mídia coreana demorou para informar a sociedade sobre a real situação das fazendas de cães.
Mas quando os ativistas da HSI começaram a levar repórteres até esses locais, os telespectadores ficaram chocados não só com as condições, mas ao verem animais que consideram de estimação esperando para ser abatidos.
Nos últimos seis anos, a HSI cooperou com 18 criadores de cães que queriam deixar esse mercado e os ajudou na transição para um negócio diferente, enquanto encontrava um lar para seus cães, inclusive na Europa.
Protestos contra o consumo de carne de cachorro, como este de 2018, ocorrem há alguns anos na Coreia do Sul (Getty Images)
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Ainda que menor nos últimos anos, ainda há um certo grau de apoio ao consumo de carne de cachorro na sociedade sul-coreana.
Young-chae Song, professor do Centro de Criação e Colaboração Global da Universidade Sangmyung de Seul, argumenta que, com cada vez menos adeptos ao prato, não seria necessário aprovar uma lei para proibi-lo.
"A demanda é tão baixa agora que o mercado deve decidir quais restaurantes devem sobreviver e continuar servindo carne de cachorro. E qualquer um que queira deve ter permissão para isso", afirma.
"Não é muito diferente das tradições alimentares em outros países. Estive recentemente em Taiwan e vi pessoas passeando com porcos de estimação, mas os taiwaneses ainda comem carne de porco. Para mim, alguns animais podem ser tanto de estimação quanto comida, e se minha família ou amigos me convidassem para ir a um restaurante de carne de cachorro, eu iria."
Com informações da DW