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Da redação
14:56
12/01/2023

‘As Forças Armadas não são poder moderador como pensam que são’, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou nesta quinta-feira, 12, que descartou decretar o instrumento da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em reação aos protestos de extremistas para não abrir mão de sua responsabilidade de governar.

Com críticas à participação de militares que aderiram ao discurso golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula afirmou que as Forças Armadas não são poder moderador.

Aliados de Bolsonaro defendiam a tese, que não está prevista na Constituição, de que os militares poderiam fazer uma intervenção por conta de supostas fraudes, nunca comprovadas, no processo eleitoral de 2022.

O presidente Lula. Foto: Sergio Lima/AFP

As Forças Armadas não são poder moderador como eles pensam que são.

As Forças Armadas têm um papel definido na Constituição que é a defesa do povo brasileiro e a defesa da nossa soberania contra conflitos externos.

É isso que eu quero que eles façam bem feito”, disse Lula, em café com jornalistas no Palácio do Planalto.

O presidente disse que já conversou com os comandantes sobre o que entende como o papel dos militares e expôs sua contrariedade com o que Bolsonaro fez das Forças Armadas durante sua gestão.

Eu disse para eles que nunca imaginei que tivéssemos um presidente que tivesse sido expulso das Forças Armadas por má conduta e, ao assumir a presidência da República, tivesse criado um clima negacionista dentro das Forças Armadas”, disse.

Aos comandantes, Lula criticou o envolvimento das Forças Armadas no processo de fiscalização das urnas eletrônicas.

““Eu disse aos comandantes: o que explica uma comissão de general ir cuidar de urna eletrônica? Qual a lógica? Quem tem que cuidar da democracia são os partidos, a sociedade”.

Sempre fazendo carga à atuação de Bolsonaro em relação aos militares, o presidente citou casos de insubordinação militar que, para ele, são inadmissíveis:

o motorista do ex-ministro Augusto Heleno que declarou em redes sociais que iria matar o petista;

um tenente que também se insurgiu e declarou que Lula não subiria a rampa do Palácio do Planalto;

e até mulheres e filhas de generais no acampamento do QG pedindo golpe.

Para Lula, esses comportamentos são fruto da ação de Bolsonaro que, segundo ele, “poluiu” as Forças Armadas.


Dando a medida do clima de tensão entre o governo e os militares, o presidente contou que na noite do domingo, 8, após o ato de invasão e depredação do Congresso, do Planalto e do prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), com os vândalos dentro do acampamento na porta do QG do Exército, dois blindados foram colocados na avenida que dá acesso ao local impedindo a ação da polícia contra os extremistas. “Os tanques estavam protegendo o acampamento. O general me ligou dizendo para que não entrasse no acampamento de noite que era perigoso”, contou o presidente.

Eu ainda não conversei com as pessoas a respeito disso. Eu estou esperando a poeira baixar.

Quero ver todas as fitas gravadas dentro da Suprema Corte, dentro do palácio.

Teve muito gente conivente. Teve muita gente da PM conivente.

Muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente.

Eu estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não tem porta quebrada.

Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui”, afirmou.

O clima de desconfiança perdura no governo e, até o momento, Lula sequer conta com ajudantes de ordem militares.

Sobre a decretação da GLO para enfrentar os extremistas, Lula explicou porque descartou a medida que lhe foi apresentada como uma alternativa de ação do governo federal.

As operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) são realizadas por ordem da Presidência da República e ocorrem nos casos em que há esgotamento das forças tradicionais de segurança pública.

A GLO é regulada pela Constituição Federal e concede aos militares a faculdade de atuar com poder de polícia até o restabelecimento da normalidade.

Se eu tivesse feito a GLO, eu teria assumido a responsabilidade de abandonar a minha responsabilidade.

Aí sim estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam.

O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo.

Quem quiser assumir governo que dispute a eleição e ganhe. Por isso não quis fazer GLO.

Nós tínhamos que fazer a intervenção na polícia do DF porque ela é a responsável pela segurança do DF e quem paga o salário deles somos nós do governo federal”.

 

Com informações do Estadão

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